Impacto das cheias coloca em xeque futuro das agroindústrias

REGIÃO ALTA

Impacto das cheias coloca em xeque futuro das agroindústrias

Todos os 46 empreendimentos que fazem parte do APL foram afetados

Impacto das cheias coloca em xeque futuro das agroindústrias
Foto: Matheus Laste

A situação de diversas agroindústrias na região não diferem consideravelmente de muitas empresas atingidas diretamente pela cheia de maio (ou de setembro e novembro de 2023). Seja no acesso aos locais ou a falta de consumidores para manter um fluxo de caixa, esses empreendimentos lutam para conseguir se manter diante de consequências que antes das enchentes do ano passado nunca foram sequer cogitadas.

A professora e coordenadora do Arranjo Produtivo Local (APL) das Agroindústrias familiares do Vale do Taquari, Eliane Kolchinski, revela que a entidade possui 46 associados, com a maioria sendo agroindústrias familiares e alguns empreendimentos ligados ao turismo (hospedagem, café colonial e restaurantes). Todos foram afetados direta ou indiretamente. O armazém APL, localizado junto ao parque João Batista Marchese, não foi atingido, mas sentiu o impacto devido ao cancelamento do Trem dos Vales e excursões que estavam agendadas.

“A maioria teve perda de produção no campo, perda de estufas e produtos armazenados em virtude da falta de energia elétrica. Aliado a isso, dificuldades de comercialização em virtude da situação dos acessos, além do cancelamento de eventos. Um dos principais mercados das agroindústrias são as feiras que ocorrem ao longo do ano no Estado”, explica Eliane. Diante desse cenário, o resultado atual são agroindústrias com estoque de produção e sem geração de renda.

Cutelaria Alma de Gato

Foto: Arquivo Pessoal

Nesse empreendimento de Encantado, a história não se mostra diferente. Em relação a agricultura, artesanato e as feiras para exposição, tudo permanece bastante dificultoso. “O dinheiro que a gente contava para pagar as contas não existe, foram 24 dias sem luz em que ficamos sem produzir também, seja as minhas facas ou o artesanato em madeira. Mas logo esperamos que comece a retomada, algumas feiras estão retornando e depois vem a Expointer. Estamos contando com isso para conseguir deixar tudo em dia”, afirma o proprietário Dilamar Bombardelli.

Casa Brandão

Foto: Matheus Laste

O estabelecimento que iniciou como um café colonial e se tornou restaurante já chegou a atender mais de cinco mil pessoas durante uma temporada do Trem dos Vales. Agora, a Casa Brandão, de Muçum, luta para conseguir reerguer o negócio após ser diretamente atingido pela enchente de maio e de setembro de 2023. Em fevereiro o empreendimento reabriu as portas e estavam em fase de teste de novo cardápio quando a água voltou a atingir o local. “Os danos foram muito maiores que a de setembro”, conta o proprietário Marciano Brandão.

O próprio acesso para a Casa Brandão se encontra dificultoso com uma grande quantidade de barro e máquinas trabalhando na limpeza. “É fundamental a questão do acesso, ao nosso entorno também. Isso resulta em muito trabalho para poder se reestruturar de novo. O turista que vem até nós quer ter segurança e um lugar bonito, harmônico. Eu tinha feito um financiamento depois de setembro para voltar com a casa renovada, mas agora não temos o espaço organizado para pagar esse financiamento. Por isso não temos data de retorno aos trabalhos”, revela Brandão.

Casa Gollin Gastronomia

Foto: Arquivo Pessoal

Por estar situado em Relvado, o empreendimento se encontra isolado de Encantado e Doutor Ricardo, e com a baixa circulação de pessoas na região, o turismo, principal produto da Casa Gollin, está sem movimento. “A entrega das pizzas se tornou inviável, o percurso que antes ficava em 40 quilômetros agora está em mais de 100. As estradas não tem condições mínimas e trazem danos aos automóveis, com o tempo de entrega em até três horas”, salienta o proprietário, Adriano Gollin.

A estrutura do local foi afetada severamente, as trilhas e sinalizações que havia no local não existem mais. “Sem esperanças de melhoras a curto prazo, imagino que vá levar uns cinco anos para ficar próximo ao que era antes. A nossa retomada foi no quesito de não desistir”, aponta Gollin. A dificuldade em conseguir crédito é o principal entrave no momento. “Tudo adverso ao divulgado, regras diferentes para o mesmo financiamento do governo federal em cada banco procurado, burocracia e atendimento sem qualidade das instituições financeiras, juros exorbitantes, prazos insuficientes e exigências impossíveis de se cumprir”, lamenta Adriano.

Na semana passada a Casa Gollin retornou com o atendimento para o público da região. “Foi muito bom, mas não temos ilusão, o município é pequeno e dependemos 90% de clientes de fora”, enfatiza o proprietário.

Ações de retomada

Segundo a coordenadora, o APL já desenvolve ações em busca de auxiliar as agroindústrias e empreendimentos afetados pela enchente. Algumas delas estão entre os movimentos gerados pela campanha Somos do Vale, organizada pela Amturvales:
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Vendas online no site do APL: O site foi lançado em maio de 2024, coincidindo com o período da enchente. Ele possibilitou que pessoas de outras regiões adquirissem os produtos contribuindo para a geração de renda das propriedades. Consumo dos produtos locais: Um ponto salientado na campanha. Atualmente estão com a publicidade da cesta do Dia dos Pais, com os produtos das agroindústrias do APL.

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Adote um empreendimento: Ação cujo o objetivo é possibilitar que empresas e pessoas adotem uma agroindústria ou empreendimento impactado pela enchente, seja com mão de obra para auxiliar na retomada, conhecimento técnico ou apoio financeiro. “Também tivemos vários casos de voluntários que auxiliaram nas limpezas da Casa Brandão, Estalagem Santa Rita, Sitio Colibri e que muitas vezes fazem o trabalho sem divulgar”, salienta Eliane.

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Junto ao parque João Batista Marchese, funciona o Armazém APL. No local são comercializados os produtos de aproximadamente 30 agroindústrias. O local funciona nos sábados e domingos, atende a comunidade local e turistas. “Temos percebido o retorno de algumas excursões e turistas nos últimos finais de semana. Já estamos recebendo agendamentos para realizar degustações e compras dos produtos das agroindústrias no espaço”, comenta a coordenadora.
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A campanha “Visite o Vale do Taquari, desfrute dos atrativos turísticos locais e acesse gratuitamente o Cristo Protetor de Encantado”, pela Associação Amigos de Cristo e Amturvales, também veio para incentivar as compras pelos visitantes e contribuir para a retomada e sustentabilidade dos empreendimentos que foram impactados, dentre eles o APL. “Muito importante a retomada sustentável do turismo na região. O turista visitando e comprando no Armazém APL contribui diretamente para a geração de renda de aproximadamente, 30 famílias. E indiretamente em toda a cadeia produtiva ligada a produção destas propriedades”, diz Eliane.

Agroindústria Slaifer

Foto: Arquivo Pessoal

Foi uma das atingidas indiretamente. Segundo o proprietário Maciel Slaifer, o retorno do empreendimento vinha principalmente das feiras, e com a paralisação quase total nesses eventos, a situação atual é complicada.

“Temos uma boa expectativa agora com a Expointer, vamos lançar dois produtos novos para dar uma atraída a mais. Temos que seguir em frente, estamos no processo final de organização dos licores, cachaças, mas é difícil. A questão dos acessos, as barreiras e tudo mais diminuiu bastante o movimento”, revela. Eles possuem um espaço para receber turistas e em breve planejam recomeçar com as jantas e eventos no local.

Estalagem Santa Rita

Foto: Arquivo Pessoal

Segunda a proprietária Rosemeri Vian, toda estrutura da parte térrea foi destruída nas chuvas de maio. “Como somos um atrativo turístico rural tínhamos uma trilha que dava acesso a Cascata da Colmeia, mas ela também foi arrasada, deixando o local sem acesso. Todo nosso complexo, com seus espaços naturais, ficaram irreconhecíveis. As aves que criávamos também foram levadas”, revela. O acesso ao local é a principal demanda solicitada por Rosemeri. “A estrada está muito prejudicada e as máquinas estão impossibilitadas de alcançar o local para fazer as reparações. Por isso, ainda não temos nenhuma perspectiva de reabrir”, comenta Rosemeri.

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