Um dos berços de Lajeado

BAIRRO SÃO BENTO

Um dos berços de Lajeado

A localidade é uma das mais antigas do município. No começo, as terras iam desde Santa Clara do Sul até as margens do Rio Taquari. Por ali, se estabeleceram imigrantes e famílias que se espalharam pelos atuais bairros Floresta, Moinhos d’Água e Jardim Botânico

Um dos berços de Lajeado
O armazém da família Fleck funcionou por anos na rua Carlos Spohr Filho, no São Bento. A velha estrutura ainda existe na via (foto: mateus souza)
Lajeado

O bairro São Bento é um dos mais antigos de Lajeado. Assim como Conventos e Carneiros, recebeu muitas das primeiras famílias de imigrantes que vieram ao município. Margeado pelo Arroio Saraquá, é cortado pela rua Carlos Spohr Filho, a principal via de ligação entre Lajeado e Santa Clara do Sul.

A origem do nome São Bento ainda é desconhecida, mas registros históricos fazem referência às antigas denominações de fazendas coloniais, muitas vezes nomeadas em homenagem a figuras religiosas.

Quem acompanhou parte dessa história foi Carlos Schorr, 71. Ele é a terceira geração da família no São Bento e, hoje, vê os netos correrem pelas terras compradas pelo avô, que iam desde as imediações da rua principal até a divisa com Cruzeiro do Sul.

No São Bento, a família de Schorr ainda vive na mesma casa, há 50 anos. Essa era a vista da rua Carlos Spohr Filho (foto: acervo Carlos Schorr)

“Naquele tempo, isso tudo era São Bento. Os municípios de Cruzeiro e Santa Clara do Sul faziam parte de Lajeado”, conta Carlos. O território do bairro era tão grande que englobava inclusive os atuais Conservas e Morro 25, onde era chamado de São Bento do Sul.

Nos anos 1950, Carlos lembra de ir com o avô, de carroça, até a antiga Olvebra. “Era tudo estrada de chão. Saíamos de manhã e voltávamos só no fim do dia”, conta. Armazéns locais supriam as necessidades básicas e evitavam deslocamentos desnecessários ao Centro.

“Não tinha luz lá em casa, mas meu pai fez um dínamo no Arroio Saraquá, que carregava umas baterias. Como não tinha geladeira, toda vez que carneava, a carne era dividida entre os vizinhos e conservada dentro da banha.”

Na época em que Carlos ia para a escola, as comunidades católica e evangélica não se misturavam. Ele estudou na escola paroquial, que ficava ao lado da antiga igrejinha de madeira de São Bento. Mais tarde, ajudou a montar o campo de futebol da Sociedade Esportiva em frente.

Carlos acompanhou o time da Associação Esportiva São Bento quando viraram campeões municipais em 1988 (foto: acervo Carlos Schorr)

Há gerações

Aos 76 anos, Ana Romi Dörtzbach viveu todos eles entre os bairros São Bento e Floresta. Moradora do Floresta desde 1970, viu a RSC-453 ser aberta nas terras da família.

“Tinha quatro moradores quando eu e meu marido viemos morar aqui. Quase não tinha estradas, por isso, era mais fácil descer até Cruzeiro do Sul e dali pegar o ônibus para Lajeado, a ERS-130 já existia na época”, conta Romi.

Naquele tempo, o Floresta fazia parte do bairro São Bento e muitas atividades precisavam ser feitas na localidade vizinha. “Meus filhos tiveram que estudar em Linha Primavera, em Cruzeiro, e depois em São Bento. Era longe ir comprar comida no Centro, então muitas vezes o leiteiro trazia as encomendas.”

Romi cresceu não muito longe de onde mora hoje. A propriedade dos pais ficava perto do atual Parque de Eventos, no São Bento. “Aqui era tudo colônia, eu estudei na antiga escola católica de São Bento, ao lado da Igreja. Só tinha missa uma vez por mês e quando íamos para a Matriz, todo mundo subia na traseira de um caminhão”, lembra.

Ana Romi e a família Kolling em 1966, durante uma festa de São João na Igreja de São Bento (foto: Acervo Ana Romi Dortzbach)

O Floresta, por muitos anos, pertenceu ao bairro São Bento, e era chamado pelo apelido de “Ferro Velho”, por causa das Sucatas Bartz, que ainda hoje funcionam na localidade. Na década de 1990, o bairro foi renomeado como Floresta.

Os moinhos d’água

Do outro lado do Arroio Saraquá, ficou estabelecido o bairro Moinhos d’Água. Semelhante à história do bairro Moinhos, a localidade ficou conhecida por esse nome devido às várias estruturas de moer, que ficavam ao longo do curso hídrico do Saraquá.

De forma oficial, o bairro é recente, criado em 1994 pela lei. Desde então, muita coisa mudou. Esse é o relato do casal Nelsindo e Celita Knails, de 67 e 66 anos, que mora no Moinhos d’Água desde 2002.

A família é natural de Crissiumal, mas veio a Lajeado em 1997. Na época, não existiam ruas asfaltadas no bairro, nem mesmo a Avenida Benjamin Constant estava aberta. O único acesso era pela rua 1º de Maio, que ligava à Carlos Spohr Filho. “Em dias de muita chuva, o ônibus nem conseguia subir aqui no bairro, então tínhamos que descer até lá embaixo para embarcar. A nossa era a última casa da rua, em direção ao São Bento era tudo roça e mato”, lembra Nelsindo.

Um parque único

Em 2023, o Moinhos d’Água cedeu parte de seu território para um novo bairro, o Jardim Botânico. O nome faz referência a um dos únicos jardins botânicos do Rio Grande do Sul, criado em 1996, em Lajeado. Antes disso, funcionava como um parque e a área estava destinada a ser industrial, mas, devido à rica diversidade ambiental, foi transformada em área de preservação.

Quem cresceu nas proximidades do Jardim Botânico de Lajeado foi João Edson Spohr, 60. A casa da família ficava quase às margens da rua Carlos Spohr Filho. Hoje, Edson administra uma transportadora no local.

“Naquela época, a rua era de chão batido, com cascalhos do Rio Forqueta. Quando íamos para a escola, tínhamos que andar na valeta para fugir dos cascalhos que voavam quando um carro passava na estrada”, lembra. Ele estudou na Emef São João, época em que ainda era feita em madeira, no estilo de “brizoleta.”

A mãe de Edson, Heide Spohr, 81, lembra que naquele tempo todos eram conhecidos. Havia poucas casas nas redondezas, cerca de quatro, e o resto era lavoura. “Meu marido lavrava a terra, eu tirava leite, era tudo muito diferente. Depois ele fez aviários aqui e, mais tarde, loteamos os 25 hectares de terra, hoje é tudo cidade”, conta Heide.

A família Spohr mora no Jardim Botânico há 60 anos. Edson e a mãe Heide relembram quando havia poucas casas em meio às muitas lavouras (foto: Raica Franz Weiss)

Conheça a história das escolas

  • Emef São Bento, São Bento

Em 1910, um grupo de moradores do bairro fundou a primeira escola, a Sociedade Escolar Católica São Bento. Não muito depois, em 1925, a comunidade evangélica também iniciou um educandário, a Escola Particular Dez de Novembro. Foi nos anos 1970 que essas duas se unificaram, tornando-se a Escola Particular São Bento. Em 1977, foi inaugurada a nova escola, mas foi somente em 1994 que o educandário foi municipalizado e, até 2004, dividiu o espaço com o Posto de Saúde do bairro e os Correios.

  • Emef São João, Jardim Botânico

A escola surgiu como um educandário particular e já funcionava por volta de 1924, num prédio pequeno. Foi só em 1961 que a Emef foi oficialmente criada, nomeada em homenagem a João Klahr, o morador mais velho presente na inauguração. Naquela época, a escola não passava de um prédio de madeira, com três salas de aula, secretaria e cozinha. A primeira diretora foi a professora Maria Lizéria Stein, moradora do bairro. Nos anos 1980, o Jardim Botânico começou a crescer e exigiu uma escola maior para a comunidade. Em 1992, foi inaugurada a estrutura que ainda hoje abriga a Emef São João.

  • Emed Pedro Welter, Floresta

O movimento pela construção de uma escola no bairro Floresta iniciou ainda nos anos 1980. Apesar disso, a escola só foi oficialmente criada em 1990 e as aulas iniciaram antes mesmo do prédio estar concluído. Localizada na divisa entre Lajeado e Cruzeiro do Sul, as terras da escola foram doadas por Ilse Dessoy, neta de Pedro Welter e mãe da primeira professora da Emef. A escola recebeu o nome como uma homenagem ao pioneiro, já que Welter foi o primeiro morador dessa localidade, que chegou em Lajeado por volta de 1902, vindo de Ivoti.

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