O sonho de mobiliar a casa nova ganhou um enredo diferente para uma moradora de Estrela. Ao adquirir três ares-condicionados da loja virtual Tá Di Zuera, empreendimento divulgado pelo influenciador Nego Di, Joana* (nome fictício) não imaginava que seria uma das vítimas do golpe que ganhou repercussão nacional.
O ano era 2022. “Eu e meu marido estávamos construindo a casa e precisávamos de alguns itens lá dentro. Foi bem no período que ele saiu do Big Brother e fez questão de dizer que queria ajudar as pessoas que estavam começando, como ele. Então faria preços diferenciados para auxiliar”, relembra.
Joana conta que ao ver as publicações nas redes sociais, ela e o marido aguardaram alguns dias para ter a certeza de que a propaganda era verdadeira. Somente após postagens de compradores que receberam as mercadorias, confiou na narrativa e realizou a compra dos aparelhos.
O golpe foi percebido no momento da confirmação do código de rastreio dos produtos e solicitação da nota fiscal, que não chegaram. “Comecei a entrar em contato por whats e e-mail, e sempre tive respostas evasivas, falavam que havia problema com a distribuição e uma série de outras coisas”.
Joana entrou com uma ação judicial no Juizado de Pequenas Causas, registrou um boletim de ocorrência e fez uma publicação no site Reclame Aqui. Até hoje, não foi ressarcida pelo ocorrido e aguarda pela audiência. Ela conta que em um grupo de whatsapp, composto por mais de 80 pessoas lesadas pela Tá Di Zueira em todo o país, o prejuízo das vítimas ultrapassa R$ 250 mil.
Confiança na figura pública
Um desfecho diferente teve outra vítima de Estrela. Robson* (nome fictício), conseguiu reembolsar o valor investido em quatro ares-condicionados. Porém, o ressarcimento só foi possível após conversas virtuais e presenciais com a equipe de Nego Di. “Dias depois voltou o valor com juros”, conta.
Apesar da conquista, Robson ainda se sente lesado pelo ocorrido e compreende a revolta das outras vítimas. “A confiança na figura pública estava acima do valor atrativo. Unindo os dois, foi o que me motivou a comprar”.
Entenda o caso
A prisão do influenciador Nego Di ganhou repercussão nacional, no começo da semana. O humorista e influenciador é suspeito de um suposto esquema de estelionato, após mais de 370 pessoas alegarem o não recebimento dos produtos comprados na loja virtual divulgada pelo empresário, denominada “Tá Di Zuera”.
Entre os processos e reclamações contra o empreendimento, na internet há registros de ao menos seis pessoas do Vale do Taquari que foram lesadas. Além destes, a equipe de reportagem do A Hora também recebeu o relato de outros quatro moradores da região. No entanto, acredita-se que o número de pessoas lesadas possa ser ainda maior.
Em 2022, Nego Di chegou a se pronunciar sobre o atraso na entrega dos produtos, alegando um “erro de logística”. Ele chegou a afirmar que iria ressarcir os clientes que não receberam os produtos. Promessa não cumprida até então, segundo as vítimas.
A Polícia Civil do Rio Grande do Sul fez a prisão de Nego Di no domingo, dia 14, em Florianópolis (SC). O influenciador foi transferido para a Penitenciária de Canoas, na Região Metropolitana, no mesmo dia. O prejuízo estimado aos clientes é de R$ 5 milhões. O sócio do influenciador na empresa, Anderson Boneti, também teve a prisão preventiva decretada pela Justiça.
A prisão de Nego Di não está relacionada ao inquérito que apura supostas irregularidades durante as enchentes do estado, em maio. O influenciador também é investigado por publicações de fake news sobre a tragédia.
Quem é Nego Di
Natural de Porto Alegre, Dilson Alves da Silva Neto, conhecido como Nego Di, é um humorista e influenciador digital. Participou do reality show da TV Globo, Big Brother Brasil, em 2021, onde foi eliminado com 98,76%. Um dos maiores índices de rejeição da história do programa.
Neste ano, o influencer ganhou notoriedade pela ajuda que prestou às famílias da maior tragédia climática do Rio Grande do Sul. Em maio, ele teria doado R$ 1 milhão ao estado.
