O retorno das aulas no prédio do Colégio Castelo Branco levanta dúvidas sobre a comunidade escolar. Inclusive, há uma preocupação que talvez nem volte. A própria Secretaria Estadual de Educação (Seduc) mantém sigilo sobre qualquer decisão, o que aumenta o suspense.
Um fechamento definitivo foi apresentado como possibilidade em reunião no mês passado (dia 25 de junho) pela secretária Raquel Teixeira ao prefeito de Lajeado Marcelo Caumo. Ideia rechaçada pelo chefe do Executivo municipal. “Se o Estado não quer, o município assume”, foi uma das frases de Caumo durante o encontro.
Em cima disso, se criou uma alternativa: aplicar um projeto piloto de escola resiliente. Ideia apresentada como solução. Passadas três semanas da passagem da comitiva estadual por Lajeado, nenhum desdobramento sobre como será a aplicação deste programa partiu da Seduc ou da 3ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE).
Na semana passada, o governo do Estado iniciou uma avaliação para o encerramento de atividades em instituições degradadas pela catástrofe de maio. O diagnóstico visa dar embasamento técnico sobre a viabilidade de reformas e o risco de novos episódios.
Em cima disso, a Seduc deixa claro que não existe definição e nem mesmo informa quais as escolas com mais risco de fecharem. Esse vácuo gera incertezas. Nesta lista estão colégios do Vale do Taquari, tais como a Padre Fernando, de Roca Sales e duas de Lajeado. Além do Castelinho, a Fernandes Vieira.
Reformas e a limpeza
Depois da enchente de setembro, foram iniciados trabalhos para troca do telhado, reforma do assoalho e da fiação elétrica. Boa parte das melhorias no terceiro piso foram concluídas. Com a nova inundação, o restante do trabalho foi suspenso.
A própria limpeza das salas e do pátio não foi concluída. Passados 70 dias do episódio extremo de maio, ainda há muito barro, entulhos e materiais didáticos espalhados pela instituição.
De acordo com a diretora do colégio, Jurema de Oliveira, nos primeiros dias após a catástrofe, um grupo de professores fez uma limpeza prévia. “O prédio está interditado. Pensamos em fazer uma força-tarefa, chamar uma ação comunitária para limpar, mas pela insegurança, riscos à saúde, fomos impedidos.”
Deste modo, a limpeza depende da Seduc. A informação, diz a diretora, é que seja contratada uma empresa especializada para retirada dos materiais e do lodo das salas e do pátio. “Houve retirada de materiais dos andares superiores e limpezas de salas do segundo piso. Está tudo dentro do previsto.”
Convênio com a Univates
Desde a interdição do prédio, no ano passado, cerca de 900 alunos foram transferidos para a Univates. Ocupam salas de aulas em três prédios da instituição. O convênio entre o governo do Estado e a Univates encerra no fim de 2024.
Foi solicitado pela secretária Raquel Teixeira a prorrogação por mais um ano, durante reunião presencial com a reitora Evânia Schneider. O assunto foi levado à mantenedora da instituição e o pedido segue em análise.
Críticas dos professores
Reclamações sobre distúrbios, como brigas, discussões e atos de indisciplina tornam a relação institucional ainda mais complexa. A própria Associação dos Professores do Colégio Castelo Branco entregou um ofício cobrando agilidade da Seduc para retorno à sede da instituição.
No documento, o corpo docente reclama das condições de trabalho e de ensino no local. Um dos principais pontos refere-se à distribuição das turmas em três prédios distintos, o que causa atrasos nas aulas e aumenta a dispersão dos alunos.
“O trânsito constante entre os prédios resulta em perda de tempo, dificuldades no transporte de materiais didáticos e aumento de incidentes e vandalismo nas salas sem a presença de professores”, diz o ofício.
Precisamos, urgentemente, retornar à normalidade e à rotina escolar no prédio do Colégio Castelo Branco, pois há muita perda de tempo no transporte dos estudantes e nas refeições. A logística, da maneira como está configurada, tem prejudicado muito o desenvolvimento das aulas,” conclui o documento.
Sem previsão de retorno
O projeto para tornar o Castelinho uma escola resiliente está em fase de elaboração. É o que afirma a diretora Jurema de Oliveira. “Como é tudo muito novo, tende a demorar um pouco mais.”
Pela situação da escola, das intervenções necessárias, adaptações e o modelo de obra, não existe previsão de quanto tempo será preciso. “Não temos previsão. Talvez seja de um ano e meio até dois anos.”
Segundo a diretora, não existe chance do Castelo ser fechado ou mudar de endereço. “Há interesse da comunidade para que o prédio volte a ser usado. O Estado sabe disso e vai fazer a reforma para uma escola resiliente e preparada para episódios climáticos.”
Detalhes do impasse
- A condição do Colégio Castelo Branco levanta dúvidas sobre a retomada das aulas no prédio histórico no Centro de Lajeado.
- A Secretaria Estadual de Educação (Seduc) faz um levantamento em todas as escolas estaduais para avaliar quais serão fechadas em definitivo.
- Possibilidade do Castelinho ser um dos colégios da rede estadual a mudar de endereço gera reação.
- Frente à comoção da comunidade, o Estado promete fazer um projeto de escola resiliente, com um modelo piloto para servir de referência para outras instituições. O plano está em fase de elaboração.
- Nenhum desdobramento concreto da Seduc ou da 3ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) após três semanas da visita de Raquel Teixeira a Lajeado.
- Enquanto isso, o colégio ainda carece de limpeza. Passados 70 dias da inundação, ainda há entulhos, barro e materiais degradados no pátio da instituição.
- Os cerca de 900 alunos têm aulas na Univates. Episódios de indisciplina tornam ainda mais complexa a relação institucional.
- O Estado solicita à Univates prorrogação do convênio, com encerramento previsto para este ano.