Quanto mais anos dedicados à formação, mais frequente é o processo de requalificação. Essa é uma das análises possíveis graças à pesquisa RUMO – O Futuro da Mão de Obra. Do total de 353 trabalhadores entrevistados, 83 têm curso superior.
Destes, 91,5% fizeram entre um até 15 cursos nos últimos 12 meses. O que chama atenção é o percentual de nenhuma formação no período. Daqueles com mais escolaridade, pouco mais de 8%. Com o Fundamental, sobe para 25,2% e no Médio fica em 16,8%.
“Esse comportamento tem sentido pois se trata de um público com cultura voltada à formação. Muitas vezes, fazem cursos por conta própria, sem esperar pela empresa. O que pode, inclusive, levar à busca por outras oportunidades”, avalia a gerente de Relações Institucionais da Univates, Cintia Agostini.
Nos públicos com formação média ou fundamental há uma espera maior por parte dos movimentos das organizações. Ou seja, diz Cintia, a empresa avalia as próprias necessidades do negócio e ofertam cursos dentro da equipe para suprir determinada carência.
Por esse motivo, o próprio entendimento sobre a responsabilidade pela qualificação continuada é discrepante entre empresas e trabalhadores. Para os funcionários, 49,6% (175 respostas) qualquer formação extra ou treinamento depende do empregador. De outra ponta, 67,6% dos empresários consideram que a responsabilidade é de ambos.
O coordenador da pesquisa, o professor, economista e estatístico, Lucildo Ahlert, destaca que há um melhor entendimento tanto pessoal quanto organizacional sobre requalificação. Ainda assim, o esforço individual do funcionário precisa ser melhor trabalhado.
Para ele, os trabalhadores têm dificuldade em visualizar as chances de crescimento e mesmo as oportunidades. “O profissional que está no mercado ou que busca um emprego faz, em média, quatro a cinco treinamentos no ano. Agora, poucos têm uma visão de carreira.”
O RUMO – O Futuro da Mão de Obra – conta com o patrocínio de Cascalheira Stone Garden, Colégio Evangélico Alberto Torres, Construtora Diamond, Sicredi, Univates, Rhodoss Implementos Rodoviários, Metalúrgica Hassmann, Dale Carnegie, Tomasi Logística e Construtora Giovanella.
Cultura voltada à qualificação
As empresas são as principais envolvidas nos processos de requalificação. Essa é outra tônica da pesquisa RUMO. Como toda regra há exceção, o pesquisador Lucildo Ahlert pormenoriza: “depende da área de atuação”.
Em algumas atividades, com mais necessidade de mão de obra operacional, o saber fazer está intrínseco à condição de empregabilidade. “Quem está na construção civil, por exemplo. O pedreiro de longa data faz de acordo com os conhecimentos e experiências anteriores. O empregador considera isso e, muitos não pensam em como aplicar novos processos e oferecer cursos.”
Quando a atuação depende do contato com as pessoas, há um movimento mais contínuo para treinos e alinhamentos. Nas 102 empresas que responderam ao questionário, formas de abordar clientes é o tipo de competência mais desenvolvida (46,1% das respostas múltiplas, cinco por entrevistado).
Para o diretor do Dale Carnegie Vale do Taquari, Gabriel Garcia, aplicar treinamentos internos e fazer com que o trabalhador também busque cursos extras passa por um posicionamento da empresa.
A cultura precisa ficar expressa, acredita. “Tudo o que não está combinado no início, custa caro depois. Por isso, as expectativas precisam estar descritas. O que eu espero de você e o que você pode esperar de mim.”
Para deixar isso claro, considera fundamental estabelecer planos. “É simples de fazer, como um documento anual com diretrizes. Qual o projeto pessoal e da empresa? O que eu preciso fazer, como tenho de me moldar. Isso em todas as áreas.”
Série de reportagens
A Hora fez a primeira publicação sobre os resultados da pesquisa RUMO – O Futuro da Mão de Obra – no fim de semana passado, dias 7 e 8 de julho. A reportagem pormenorizar o perfil dos entrevistados, a metodologia da pesquisa, e a avaliação de empresários e trabalhadores sobre a importância dos treinamentos.
Nesta segunda matéria da série, o foco foi perfil dos entrevistados no ramo do trabalho, número de cursos feitos e qualidades desenvolvidas nos treinamentos internos nas e empresas.