Divididas, comunidades clamam por reconstrução de ponte

AMEAÇA AO FUTURO

Divididas, comunidades clamam por reconstrução de ponte

Há pouco mais de dois meses, a principal ligação sobre o Rio Forqueta foi levada pela força da enchente. Desde então, Marques de Souza e Travesseiro sofrem com impactos econômicos e sociais. Pinguela minimiza prejuízos, mas deslocamento de veículos segue prejudicado

Divididas, comunidades clamam por reconstrução de ponte
FOTO: GABRIEL SANTOS
Vale do Taquari

Comunidades próximas, mas ao mesmo tempo distantes. Desde a queda da ponte sobre o Rio Forqueta, no dia 2 de maio, a rotina de moradores de Marques de Souza e Travesseiro se alterou. Alternativas foram necessárias para a reaproximação. No entanto, a ligação para pedestres não supre a demanda. A ausência de uma travessia para veículos interfere no desenvolvimento econômico e social.

Demanda antiga, a ponte destruída pela enchente era relativamente recente na história regional. Foi inaugurada em 2006, após diversas mobilizações políticas e comunitárias. Reduziu em mais de 40 minutos a distância entre as duas cidades. Agora, líderes se movimentam e intensificam ações e contatos para viabilizar a nova travessia. O recurso virá de Brasília. Resta saber quanto. E quando chegará.

Ainda em maio, a União anunciou R$ 4,1 milhões para a reconstrução da ponte. No entanto, o valor é considerado insuficiente. Por isso, o prefeito de Marques de Souza, Fábio Mertz, esteve esta semana em Brasília. Em agenda na Defesa Civil Nacional, busca a liberação de mais recursos que viabilizem a obra.

“O projeto da nova ponte está lá com eles. Precisamos fazer alguns ajustes agora, mas há a garantia de que o recurso virá. Estamos fazendo a nossa parte”, garante. Embora não tenha detalhado quais são as complementações necessárias, Mertz acredita que o orçamento da nova ponte possa alcançar os R$ 15 milhões.

Reconstrução da ponte pode custar mais de R$ 15 milhões, conforme estimativas. (Foto: GABRIEL SANTOS)

Cenário triste

Um dos hábitos diários de Mertz ao entrar no gabinete era o de olhar pela janela e contemplar a vista da cidade. No fundo, estava a ponte. “Agora é um cenário de tristeza. Essa imagem não temos mais”, comenta, ao pontuar também os impactos enfrentados pelas comunidades, como na área da saúde.

Muitos moradores de Travesseiro tinham o Hospital de Marques de Souza como referência para atendimentos. Contudo, a logística atual fica prejudicada. “Precisam descer até Arroio do Meio. O mais importante é que as vidas sejam salvas. Mas essa é uma situação muito complicada”.

A rotina de trabalhadores, que residem em um município e atuam em outro, também se tornou desafiadora. As últimas semanas, de frio intenso, pioraram o cenário. “Muitas pessoas repensam se vão continuar dessa forma, pois é inverno, chuva e frio, e só temos a pinguela de travessia”.

Relação interrompida

Empresário do ramo de motos e presidente da Associação Comercial e Industrial de Marques de Souza (Acimas), Henrique Arend fui um dos muitos empreendedores castigados com a enchente de maio. Retomou o negócio, mas mostra preocupação com o futuro do comércio local enquanto não houver nova ligação com as cidades vizinhas.

“Dá para dizer que em torno de 50% das vendas do comércio de Marques de Souza são de pessoas desses municípios, como Travesseiro, que ficam do outro lado do Forqueta. Isso acaba interrompendo um relacionamento quase que de irmãos entre as duas cidades, pois tudo fica longe. A pinguela até ajuda, e se fala em uma estiva. Mas precisamos da ponte”, afirma.

Arend frisa que a ponte gera expectativa em toda a sociedade, mas mantém “os pés no chão” e prefere esperar a obra iniciar para celebrar. “Se fala que tem orçamento, mas de concreto não há nada. Nos parece algo ainda muito distante. Só vou acreditar quando estiverem trabalhando”.

“O futuro de Travesseiro depende da reconstrução”

A recuperação de Travesseiro está ligada à construção de uma nova ponte. Desde a catástrofe climática de maio, os moradores enfrentam dificuldades significativas para se deslocar entre as cidades. A alternativa é cruzar a pinguela a pé ou enfrentar uma longa rota de 53 quilômetros pela estrada de Barra do Fão.

“Sem a ponte, o município não consegue se recuperar”, afirma Silvério Schneiders, 78, que vivenciou as consequências da enchente de 2010 e agora, mais uma vez, vê sua comunidade enfrentar um drama semelhante. Para Schneiders e muitos outros residentes, a construção da nova estrutura é vital para a revitalização econômica e social da região.

Diante da situação, o governo municipal de Travesseiro elaborou um plano de trabalho e o encaminhou ao governo federal. Engenheiros responsáveis pelo levantamento da estrutura remanescente indicaram que não é viável reaproveitar os restos da antiga ponte, sendo necessária a implosão para a construção de uma nova. Processo semelhante ocorreu na BR-116 entre Nova Petrópolis e Caxias do Sul.

União da comunidade

Enquanto aguardam o andamento burocrático, a comunidade se mobiliza. Em junho, foi criada a Associação Amigos de Marques de Souza e Travesseiro, que busca arrecadar recursos para somar aos R$ 4,1 milhões do governo federal. Até o momento, a associação já conseguiu R$ 230 mil.

De acordo com a presidente do grupo, Edna Kremer, a associação está avaliando a instalação de uma estiva de concreto (ponte baixa). “Estamos encaminhando os projetos junto com engenheiros e orçamentos. A obra permitirá a passagem de veículos leves e pesados, garantindo a logística das empresas que está muito comprometida”, destaca.

Para uma ponte baixa sobre o Forqueta, a previsão orçamentária é de R$ 1 milhão a R$ 2 milhões. Desde junho, a associação lançou a campanha “Travessia da Amizade”, que inclui doações via PIX e a venda de produtos personalizados.

Anos de espera

  • Antes da ponte – A travessia entre as cidades era feita por uma barca, que funcionou até a inauguração da ponte.

  • Década de 1990 – As obras foram anunciadas em uma parceria do Daer com os governos municipais.

  • 2004 – A estrutura da ponte estava pronta, mas o município de Marques de Souza e o Daer estavam em um impasse para a conclusão do aterro, que ligaria à estrada à cabeceira da ponte.

  • 2006 – A obra foi concluída depois de anos de espera. Até então, moradores de Travesseiro que precisassem ir até o Hospital de Marques de Souza, em épocas de cheia, precisavam percorrer um trajeto de até 70 quilômetros.

  • 2024 – Na enchente de maio, as águas do Rio Forqueta levaram a estrutura embora. Ficaram apenas as cabeceiras e os tão aguardados aterros da ponte.

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