Em meio à enchente, escassez de água potável acende alerta

SANEAMENTO

Em meio à enchente, escassez de água potável acende alerta

Recurso natural foi uma das demandas mais urgentes nos primeiros dias após o desastre ambiental de maio. Tratar para reuso se mostrou uma solução vital

Em meio à enchente, escassez de água potável acende alerta
No hospital, que fica em área mais alta da cidade, não entrou água. Entretanto, o atendimento seria inviabilizado por falta de água potável. (Foto: LUÍS GUSTAVO BETTINELLI/DIVULGAÇÃO)

A falta de água potável foi dos problemas graves enfrentados pela comunidade do Vale do Taquari na enchente de maio deste ano. Poços e pontos de captação ficaram sem energia elétrica para retirar e distribuir água. Torneiras secas nas casas, nas indústrias, no comércio, em hospitais. Enquanto a chuva caía em grandes volumes, não havia água para beber, para socorrer as pessoas. A situação acende um alerta sobre a importância da reservação e alternativas de tratamento.

A startup Reseta Reuse Technology, incubada na Universidade de Passo Fundo, mostrou ao Vale do Taquari que há tecnologia disponível para torna-la potável. Engenheiro ambiental e sócio da Reseta, Augusto Hemkemeier saiu de Passo Fundo para dar auxílio em Muçum. O poço artesiano do hospital da cidade estava com a água turva. Na qualidade em que se encontrava, era possível o uso somente para descarga nos banheiros e alguns tipos de limpeza. Pacientes e funcionários não poderiam bebê-la.

O equipamento, utilizado pela primeira vez em Muçum, tem uma membrana que atua na filtragem da água, antes que ela chegue à caixa d’água. Devido à situação de emergência provocada pela enchente, o hospital recebeu o serviço Reseta Reuse Technology e parceiros, a custo zero.

Entrada da água suja na caixa d’água da direita e saída limpa, à esquerda, depois do processo de filtragem. (Foto: DIVULGAÇÃO)

Entrevista
Augusto Hemkemeier – “Tecnologia a serviço do planeta”

Viver Cidades – A Reseta – Reuse Technology foi criada quando?

Augusto Hemkemeier. -A Reseta, apesar de ser idealizada desde 2019 em parcerias internacionais com outras universidades, foi criada, oficialmente, em 2021.

Quais foram os desafios iniciais?

Estruturar tecnicamente o time para gestão e engenharia dos projetos, bem como o melhor entendimento do funcionamento de uma startup e do mercado. Por este motivo nos incumbamos no parque científico e tecnológico da Universidade de Passo Fundo.

Por que trabalhar com reuso de água?

A água é, de longe, o nosso recurso mais valioso, não vivemos sem ela. Enxergamos cada vez mais a escassez desse recurso no planeta, é mais do que evidente a necessidade de sistemas para reaproveitamento que seja de fácil operação e que garanta a qualidade necessária para o seu uso. Além disso, a água se encaixa com a experiência técnica dos sócios, muito associada a propósitos pessoais de cuidado com o meio ambiente.

Quais são as principais atividades/ demandas da Reseta?

Hoje, a Reseta executa todas as etapas de um projeto. Realizamos a concepção do projeto, validamos a hipótese de sistema e qualidade para o uso da água e fazemos o dimensionamento do sistema. Utilizamos membranas de nano filtração e osmose reversa, construímos o equipamento junto a parceiros, realizamos o start e entrega do equipamento e podemos atuar na manutenção destes sistemas.

O que moveu a equipe a viajar a Muçum e ajudar as pessoas a ter água potável?

Sendo uma empresa nascida e fundada no Rio Grande do Sul, foi natural a sensibilização com a situação do estado. Sabíamos que a tecnologia a qual nós usamos seria útil para muitas pessoas. Trabalhamos com a ideia de ter uma tecnologia a serviço do planeta. A partir dessa premissa, fomos em busca de lugares os quais poderíamos fazer a diferença e causar um impacto positivo para a sociedade. Como somos de Passo Fundo, o acesso facilitou que a região de Muçum e Roca Sales fosse escolhida. Ao analisar a situação, buscamos parceiros para auxiliar na doação de estrutura hidráulica (caixa d’água e mangueiras) para montar um sistema adequado. A Rede ConstruUtil nos auxiliou.

Você e integrantes do time Reseta já tinham atuado em cenários como o que se apresentou nesta enchente?

Nunca tínhamos atuado em cenários de eventos extremos como esse que o estado passou. Agora, já estamos prevendo unidades móveis para poder auxiliar em eventos futuros. Existem linhas de crédito específicas para instalação e geração de energia solar, por exemplo. Agricultores, empresas, pessoas físicas podem usufruir deste dinheiro e gerar energia limpa e renovável.

Existem financiamentos específicos para reuso da água?

Não existem. Não temos linhas de crédito de incentivo ao reaproveitamento de água. Em algumas situações, é possível se enquadrar no IPTU verde e obter algum desconto.

Mas seria importante, tanto aos negócios, que poderiam economizar, quanto ao meio ambiente, certo?

Exatamente. Hospitais, prefeituras, escolas e empresas poderiam captar a água da chuva, tratá-la e reutilizá la, sem riscos à saúde e com garantia de volume, diminuindo a pressão hídrica da bacia/cidade/Corsan, por exemplo. Alternativas sustentáveis geram impactos positivos na educação ambiental e afins.

Costumamos dizer que a água é o nosso bem mais precioso. Como você vê o cuidado, ou falta de cuidado, e o uso da água?

Vejo que no nosso estado ainda existe uma crença popular de que temos água em abundância, que não irá faltar, o que prejudica o olhar mais carinhoso com o reaproveitamento. Eventos climáticos de seca ou chuva extrema, aos poucos, mudam essa cultura em nosso país, mas ainda estamos atrasados em relação ao mundo por não termos uma legislação vigente que valide ou não o reuso doméstico e industrial para que facilite e motive a instalação desses sistemas.

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