Para que serve a história?

Opinião

Carlos Schäffer

Carlos Schäffer

Advogado

Para que serve a história?

Heródoto é considerado o Pai da História porque teria sido o primeiro a registrar fatos que aconteceram cinco séculos antes de Cristo, a saber, a guerra entre a Grécia e a Pérsia.

Sempre considerei importante que tudo o que acontece na nossa vida deveria ser registrado, para que no futuro os nossos descendentes saibam o que fizemos, como e porque fizemos, onde acertamos ou erramos, para que não cometam os mesmos erros e prossigam evoluindo com nossos acertos.

Esta semana comecei a ler o primeiro volume dos cinco que compõe o romance de Christian Jack que evoca a grandeza do Egito Antigo e a vida de Ramsés, o faraó que reinou ali por 60 anos. Já nas primeiras páginas se constata como uma decisão pode mudar o curso da história, da vida das pessoas, de um povo inteiro.

O pai de Ramsés era o faraó de nome Sethi, venerado por seu povo, por ter transformado o Egito no império mais poderoso do mundo, Ramsés era o segundo filho. O sucessor ao trono deveria ser Chenar o primogênito, como era a tradição. Mas Sethi, secretamente, preparava o filho mais novo para a função.

Para ter certeza que Ramsés teria condições de exercer o cargo, o pai faz com que ele passe por provações e armadilhas mortais.

Sethi encontrou Ramsés pela primeira vez quando ele tinha 14 anos. Até então ele tinha sido educado no palácio por um preceptor, incumbido de o educar para ser um homem de qualidade que, por ser filho do rei, passaria dias felizes ocupando um alto cargo.

Nesse mesmo dia Sethi chama seu filho e o conduz a um campo aberto, isolado, longe de qualquer aldeia. Os dois apeiam do carro puxado por dois cavalos e se escondem numa mata fechada, e dali observam o território de um touro selvagem, extremamente feroz, que os historiadores consideravam um animal celestial, animado por um fogo de outro mundo.

Quando o touro os descobriu avançou sobre eles atacando-os e Sethi ordenou ao filho que o matasse.
Pressionado entre a fera e o pai autoritário Ramsés, assustado, disse:
– Ele é enorme… E o pai respondeu:
– E você o que é? Um verdadeiro homem vai até o limite de suas forças, um rei passa além delas, se não és capaz, não herdarás meu trono e nunca mais nos veremos. Se quer partir parta, caso contrário domine-o. Brilhe ou desapareça. E entregou ao filho apenas uma corda com nó corrediço, dizendo, que a força do animal estava na cabeça.

O touro atacou, Ramsés atirou o laço, que ficou pendurado nos chifres do touro. Meio confuso com aquela coisa estranha balançando diante dos seus olhos, o feroz animal parou e se afastou, voltando para sua manada.

Ramsés disse ao pai que não o havia matado. E o rei lhe respondeu:
– Não, mas você venceu o medo, que é o primeiro inimigo no caminho da sabedoria.

Se para mim uma frase apenas nas primeiras quatro páginas dessa história já valeu o livro: “Você não o matou, mas venceu o medo”, imaginem o que vem depois.

Que seja sempre esta a primeira vitória nas nossas vidas.

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