O cooperativismo gaúcho alcançou recorde de faturamento no ano passado. Mesmo diante dos reflexos das ações do clima no Estado, as 370 cooperativas do RS somaram um total de R$ 86,3 bilhões em faturamento, alta de 3,3% na comparação com o ano anterior.
Epicentro das enchentes de setembro e novembro, o Vale do Taquari também registrou elevação no desempenho do setor. Somadas, as 18 cooperativas da região registraram mais de R$ 7 bilhões em faturamento – alta de 6%. Os dados fazem parte do “Expressão do Cooperativismo Gaúcho”, publicação anual da Ocergs com base em ampla pesquisa sobre o segmento.
O anuário foi lançado em homenagem ao Dia Internacional do Cooperativismo, celebrado sempre no primeiro sábado do mês de julho. Conforme o estudo, no último ano o número de associados em cooperativas gaúchas subiu chegou a 3,8 milhões.
Presidente da Certel, Erineo Hennemann afirma que o movimento cooperativista cresce e se destaca na sociedade por suas características e princípios. Segundo ele, a atividade une seriedade, comprometimento, transparência, organização, equidade, ética, cooperação e solidariedade. “Olhamos para as necessidades da nossa região e procuramos oferecer soluções, mecanismos e alternativas para que as mesmas sejam atendidas rapidamente.”
No caso da Certel, cita apoio recebido de cooperativas gaúchas e catarinenses, empresas terceirizadas, prefeituras e associados no trabalho para restabelecer o fornecimento de energia elétrica aos atingidos pela catástrofe ambiental. Para o presidente da cooperativa de energia, é justamente essa sinergia que garante ao cooperativismo uma forma diferente de ser e agir.
Desafios na produção
O setor agropecuário continua sendo o grande destaque de faturamento no cooperativismo regional. Com mais de R$ 3 bilhões arrecadados no ano passado, o segmento representando 50% do total no Vale do Taquari e também emprega 4.029 trabalhadores.
Apesar dos números positivos, as cooperativas de produção ainda enfrentam os problemas decorrentes da crise do setor de proteínas e as consequências das enchentes. Presidente do Conselho Administrativo da Dália, Gilberto Piccinini ressalta a necessidade de redobrar os trabalhos e o foco para enfrentar os inúmeros desafios. “Empresas e governos de todas as esferas estão preocupados na busca de soluções que possam minimizar os efeitos desses problemas.”
Segundo ele, as cooperativas do setor e entidades representativas tentam viabilizar no Senado a cedência de máquinas e apoio aos produtores que perderam terras e lavouras “Precisamos pelo menos deixar o solo em condições de plantar a safra primavera/verão, já que a de inverno ficou praticamente inviabilizada.”
Mercado
Piccinini afirma que os suínos continuam crescendo graças às exportações e ao consumo interno, enquanto o lácteos estão com preços estacionados e dentro da regularidade. Lembra que os eventos climáticos resultaram na perda de semanas de trabalho e fábricas paradas. “Precisamos nos recuperar ao longo dos meses com trabalho redobrado em busca de eficiência e mercados que remunerem melhor.”
Oportunidades no crédito
O cooperativismo de crédito é o ramo com maior número de associados no Vale do Taquari, com mais de 265 mil pessoas. O setor registrou crescimento no ano passado, com ingressos que somaram R$ 2,1 bilhões – alta de R$ 400 milhões na comparação com 2022.
Presidente da Sicredi Integração RS/MG, Adilson Metz afirma que o avanço do cooperativismo de crédito ocorre por representar uma forma moderna da sociedade se organizar, resolver seus problemas econômicos e gerar crescimento. “Mesmo nas crises e dificuldades, as cooperativas estão sempre ao lado de seus associados.”
Metz acredita que o cooperativismo no Brasil continuará crescendo, na medida em que mais pessoas conheçam o sistema e percebam as vantagens. “Na nossa cooperativa, isso se reflete em números. Em junho, ultrapassamos os 90 mil associados e os R$ 6 bilhões administrados.”
Liderança e novos setores
Segmento em que o cooperativismo lidera com folga, a área da saúde tem nas cooperativas um dos grandes pilares da inovação. No Rio Grande do Sul, um total de 56% dos planos de saúde são vinculados à Unimed.
Pela análise da Ocergs, a cooperativa médica investe em tecnologias e equipamentos capazes de melhorar a assertividade e a velocidade dos diagnósticos. Também são reconhecidas pela conexão com startups do Brasil inteiro para encontrar soluções aos desafios do setor – quesito na qual a Unimed Vales do Taquari e Rio Pardo se destaca com programas como o InnovatiOn e o Vibee.
Cooperativismo no Vale do Taquari em 2023
- Total de cooperativas registradas ao Sistema Ocergs: 18
- Faturamento: R$ 7.035.288.395,58
- Número de associados: 494.050
- Trabalhadores no setor: 6.501
- Ramo Agropecuário: seis cooperativas registradas
- Ramo Crédito: quatro cooperativas registradas
- Ramo Infraestrutura: três cooperativas registradas
- Ramo Saúde: duas cooperativas registradas
- Ramo Transporte: três cooperativas registradas
Entrevista
Darci Pedro Hartmann • Presidente do Sindicato e Organização das Cooperativas do Rio Grande do Sul
“O Vale do Taquari é o berço do cooperativismo”
A Hora – Como você avalia o último ano do cooperativismo gaúcho e do Vale do Taquari?
Darci Pedro Hartmann – O cooperativismo cresce cada vez mais e isso mostra o sucesso desse modelo que visa o crescimento econômico, mas também o desenvolvimento das pessoas, das comunidades e que tem a solidariedade como um dos seus pilares. No Rio Grande do Sul tivemos um crescimento de 3,5 milhões de associados para 3,8 milhões em 2023. Fechamos o ano passado com faturamento de R$ 86,3 bilhões nas 370 cooperativas registradas no Sistema Ocergs.
O Vale do Taquari é o berço do cooperativismo. A atividade cresceu 6% em 2023, mesmo com as enchentes e as dificuldades no setor de proteína. Infelizmente tivemos novas enchentes ainda maiores neste ano, mas as cooperativas estão se recuperando e ajudando na recuperação da região.
– O que o cooperativismo do agronegócio precisa para se recuperar?
Hartmann – Precisamos recuperar solo, de máquinas para tirar os entulhos e investir na produção. Tudo isso precisa de recurso. O Estado vive situações distintas que precisam ser olhadas individualmente. Nos Vales do Taquari e Jacuí, os produtores perderam tudo e precisam de um programa novo por parte do governo. Outro projeto deve pensar na região Sul, que concentrou grandes perdas na soja, e outro para o norte, onde o problema é a erosão do solo que provoca perda de produtividade. Mas não foi só o agro que sofreu. As cooperativas de infraestrutura que perderam usinas, redes e precisam reconstruir tudo isso. Vimos muitas promessas e já se passaram 60 dias.
– Quais os desafios e oportunidades para as cooperativas de infraestrutura?
Hartmann – A venda de energia no mercado livre é uma oportunidade fantástica. Tenho conversado bastante sobre o tema com o Irineu Hennemann, presidente da Certel e o Renato Martins da Certaja. Nossas cooperativas já estavam vendendo energia no mercado livre, mas agora algumas usinas foram destruídas então a energia foi vendida mas não está sendo gerada. Elas também precisarão de recursos. Vemos outra grande oportunidade nas discussões sobre a livre escolha do fornecimento de energia aos consumidores. Caso essa opção seja liberada, e acredito que será no futuro, as cooperativas de energia crescerão muito mais.
– Como você projeta o futuro das cooperativas de crédito, setor que mais cresceu em 2023?
Hartmann – O sistema cooperativo de crédito tem uma capacidade muito grande para ocupar o espaço deixado pelos bancos tradicionais. Enquanto as outras instituições apostaram na digitalização, as cooperativas apostaram no relacionamento, em abrir unidade em locais onde os outros bancos não vão, sem deixar a tecnologia de lado. É um sistema muito competente e que está crescendo muito. Com as nossas quatro cooperativas, Sicredi, Sicoob, Cresol e Unicred, estamos chegando no Brasil inteiro.