Cooperativismo cresce apesar das intempéries climáticas

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Cooperativismo cresce apesar das intempéries climáticas

Pesquisa da Ocergs mostra que as 18 cooperativas do Vale do Taquari faturaram mais de R$ 7 bilhões em 2023

Cooperativismo cresce apesar das intempéries climáticas
Em junho, direção da Ocergs se reuniu com os líderes das cooperativas afetadas pelas enchentes no Vale do Taquari
Vale do Taquari

O cooperativismo gaúcho alcançou recorde de faturamento no ano passado. Mesmo diante dos reflexos das ações do clima no Estado, as 370 cooperativas do RS somaram um total de R$ 86,3 bilhões em faturamento, alta de 3,3% na comparação com o ano anterior.

Epicentro das enchentes de setembro e novembro, o Vale do Taquari também registrou elevação no desempenho do setor. Somadas, as 18 cooperativas da região registraram mais de R$ 7 bilhões em faturamento – alta de 6%. Os dados fazem parte do “Expressão do Cooperativismo Gaúcho”, publicação anual da Ocergs com base em ampla pesquisa sobre o segmento.

O anuário foi lançado em homenagem ao Dia Internacional do Cooperativismo, celebrado sempre no primeiro sábado do mês de julho. Conforme o estudo, no último ano o número de associados em cooperativas gaúchas subiu chegou a 3,8 milhões.

Presidente da Certel, Erineo Hennemann afirma que o movimento cooperativista cresce e se destaca na sociedade por suas características e princípios. Segundo ele, a atividade une seriedade, comprometimento, transparência, organização, equidade, ética, cooperação e solidariedade. “Olhamos para as necessidades da nossa região e procuramos oferecer soluções, mecanismos e alternativas para que as mesmas sejam atendidas rapidamente.”

No caso da Certel, cita apoio recebido de cooperativas gaúchas e catarinenses, empresas terceirizadas, prefeituras e associados no trabalho para restabelecer o fornecimento de energia elétrica aos atingidos pela catástrofe ambiental. Para o presidente da cooperativa de energia, é justamente essa sinergia que garante ao cooperativismo uma forma diferente de ser e agir.

Desafios na produção

O setor agropecuário continua sendo o grande destaque de faturamento no cooperativismo regional. Com mais de R$ 3 bilhões arrecadados no ano passado, o segmento representando 50% do total no Vale do Taquari e também emprega 4.029 trabalhadores.

Apesar dos números positivos, as cooperativas de produção ainda enfrentam os problemas decorrentes da crise do setor de proteínas e as consequências das enchentes. Presidente do Conselho Administrativo da Dália, Gilberto Piccinini ressalta a necessidade de redobrar os trabalhos e o foco para enfrentar os inúmeros desafios. “Empresas e governos de todas as esferas estão preocupados na busca de soluções que possam minimizar os efeitos desses problemas.”

Segundo ele, as cooperativas do setor e entidades representativas tentam viabilizar no Senado a cedência de máquinas e apoio aos produtores que perderam terras e lavouras “Precisamos pelo menos deixar o solo em condições de plantar a safra primavera/verão, já que a de inverno ficou praticamente inviabilizada.”

Mercado

Piccinini afirma que os suínos continuam crescendo graças às exportações e ao consumo interno, enquanto o lácteos estão com preços estacionados e dentro da regularidade. Lembra que os eventos climáticos resultaram na perda de semanas de trabalho e fábricas paradas. “Precisamos nos recuperar ao longo dos meses com trabalho redobrado em busca de eficiência e mercados que remunerem melhor.”

Oportunidades no crédito

O cooperativismo de crédito é o ramo com maior número de associados no Vale do Taquari, com mais de 265 mil pessoas. O setor registrou crescimento no ano passado, com ingressos que somaram R$ 2,1 bilhões – alta de R$ 400 milhões na comparação com 2022.

Presidente da Sicredi Integração RS/MG, Adilson Metz afirma que o avanço do cooperativismo de crédito ocorre por representar uma forma moderna da sociedade se organizar, resolver seus problemas econômicos e gerar crescimento. “Mesmo nas crises e dificuldades, as cooperativas estão sempre ao lado de seus associados.”

Metz acredita que o cooperativismo no Brasil continuará crescendo, na medida em que mais pessoas conheçam o sistema e percebam as vantagens. “Na nossa cooperativa, isso se reflete em números. Em junho, ultrapassamos os 90 mil associados e os R$ 6 bilhões administrados.”

Liderança e novos setores

Segmento em que o cooperativismo lidera com folga, a área da saúde tem nas cooperativas um dos grandes pilares da inovação. No Rio Grande do Sul, um total de 56% dos planos de saúde são vinculados à Unimed.

Pela análise da Ocergs, a cooperativa médica investe em tecnologias e equipamentos capazes de melhorar a assertividade e a velocidade dos diagnósticos. Também são reconhecidas pela conexão com startups do Brasil inteiro para encontrar soluções aos desafios do setor – quesito na qual a Unimed Vales do Taquari e Rio Pardo se destaca com programas como o InnovatiOn e o Vibee.

Cooperativismo no Vale do Taquari em 2023

  • Total de cooperativas registradas ao Sistema Ocergs: 18
  • Faturamento: R$ 7.035.288.395,58
  • Número de associados: 494.050
  • Trabalhadores no setor: 6.501
  • Ramo Agropecuário: seis cooperativas registradas
  • Ramo Crédito: quatro cooperativas registradas
  • Ramo Infraestrutura: três cooperativas registradas
  • Ramo Saúde: duas cooperativas registradas
  • Ramo Transporte: três cooperativas registradas

Entrevista
Darci Pedro Hartmann • Presidente do Sindicato e Organização das Cooperativas do Rio Grande do Sul

“O Vale do Taquari é o berço do cooperativismo”

A Hora – Como você avalia o último ano do cooperativismo gaúcho e do Vale do Taquari?

Darci Pedro Hartmann – O cooperativismo cresce cada vez mais e isso mostra o sucesso desse modelo que visa o crescimento econômico, mas também o desenvolvimento das pessoas, das comunidades e que tem a solidariedade como um dos seus pilares. No Rio Grande do Sul tivemos um crescimento de 3,5 milhões de associados para 3,8 milhões em 2023. Fechamos o ano passado com faturamento de R$ 86,3 bilhões nas 370 cooperativas registradas no Sistema Ocergs.
O Vale do Taquari é o berço do cooperativismo. A atividade cresceu 6% em 2023, mesmo com as enchentes e as dificuldades no setor de proteína. Infelizmente tivemos novas enchentes ainda maiores neste ano, mas as cooperativas estão se recuperando e ajudando na recuperação da região.

– O que o cooperativismo do agronegócio precisa para se recuperar?

Hartmann – Precisamos recuperar solo, de máquinas para tirar os entulhos e investir na produção. Tudo isso precisa de recurso. O Estado vive situações distintas que precisam ser olhadas individualmente. Nos Vales do Taquari e Jacuí, os produtores perderam tudo e precisam de um programa novo por parte do governo. Outro projeto deve pensar na região Sul, que concentrou grandes perdas na soja, e outro para o norte, onde o problema é a erosão do solo que provoca perda de produtividade. Mas não foi só o agro que sofreu. As cooperativas de infraestrutura que perderam usinas, redes e precisam reconstruir tudo isso. Vimos muitas promessas e já se passaram 60 dias.

– Quais os desafios e oportunidades para as cooperativas de infraestrutura?

Hartmann – A venda de energia no mercado livre é uma oportunidade fantástica. Tenho conversado bastante sobre o tema com o Irineu Hennemann, presidente da Certel e o Renato Martins da Certaja. Nossas cooperativas já estavam vendendo energia no mercado livre, mas agora algumas usinas foram destruídas então a energia foi vendida mas não está sendo gerada. Elas também precisarão de recursos. Vemos outra grande oportunidade nas discussões sobre a livre escolha do fornecimento de energia aos consumidores. Caso essa opção seja liberada, e acredito que será no futuro, as cooperativas de energia crescerão muito mais.

– Como você projeta o futuro das cooperativas de crédito, setor que mais cresceu em 2023?

Hartmann – O sistema cooperativo de crédito tem uma capacidade muito grande para ocupar o espaço deixado pelos bancos tradicionais. Enquanto as outras instituições apostaram na digitalização, as cooperativas apostaram no relacionamento, em abrir unidade em locais onde os outros bancos não vão, sem deixar a tecnologia de lado. É um sistema muito competente e que está crescendo muito. Com as nossas quatro cooperativas, Sicredi, Sicoob, Cresol e Unicred, estamos chegando no Brasil inteiro.

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