O martírio e a logística

Opinião

Rodrigo Martini

Rodrigo Martini

Jornalista

Coluna aborda os bastidores da política regional e discussão de temas polêmicos

O martírio e a logística

Por

Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

A suspensão dos voos do Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, gera um prejuízo milionário a cada dia. Aliás, é imensurável os danos econômicos e sociais causados ao Rio Grande do Sul diante da inércia de diversos entes na tão necessária reconexão do nosso estado com o restante do Brasil e do mundo. É impossível calcular o número de pessoas que deixaram de visitar os nossos pagos desde o dia três de maio.

Da mesma forma, é impossível medir o número de negócios travados, cancelados ou deixados para trás por parte dos nossos empreendedores ou de investidores e empresas de fora. Diante disso, o fechamento temporário da principal estrutura de logística aérea deveria ser levado muito mais a sério por parte dos nossos agentes políticos. Em todos os âmbitos. Municipal, estadual e federal. Mas, e também em função das centenas de outras frentes e demandas, é claro, o caos do nosso espaço aéreo parece ter ficado em segundo plano.

Nas últimas horas – ou dias – eu experimentei na pele o martírio. Para viajar de Lajeado a Brasília para acompanhar a Marcha dos Prefeitos pela Reconstrução do RS que se inicia hoje, e sem a sorte de conseguir voos de Canoas ou Passo Fundo, foram quase 24 horas de ônibus, aviões e táxis entre o interior do Rio Grande do Sul e a capital federal. Eu parti da rodoviária lajeadense às 19h de domingo e cheguei em Florianópolis às 6h de segunda-feira. De lá, e após utilizar um táxi entre a rodoviária e o belíssimo e novo aeroporto da capital catarinense, embarquei por volta das 11h10min para chegar às 12h30min no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP), onde esperei cerca de três horas para enfim embarcar na última conexão em direção a Brasília, onde cheguei por volta das 18h. Um trajeto que não demoraria mais do que cinco horas em dias normais. Ou seja, e se já era difícil viver no extremo sul, tudo ficou muito mais lento e cansativo sem as rotineiras conexões.

Queda de ICMS e a voz da região

Mais de duas dezenas de prefeitos dos vales do Taquari e Rio Pardo já estão em Brasília para um evento capitaneado pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) e pela Famurs. Em pauta, a destruição do Rio Grande do Sul e os prejuízos já calculados e/ou ainda em análise por parte dos governos municipais e estadual. Só com relação à queda no retorno de ICMS em maio e junho, os cálculos iniciais apontam para mais de meio bilhão em perdas diretas aos cofres das cidades mais impactadas. E vai piorar. Diante do quadro, os gestores solicitam uma justa compensação financeira por parte do governo federal para, no mínimo, equilibrar as contas. Especialmente de quem já havia sofrido um duro golpe com as enchentes de 2023. E o Grupo A Hora está aqui para dar voz à região.

“Tenho vontade de ir para o sul ganhar dinheiro”

A frase é de outro taxista, Raimundo, que me transportou entre o aeroporto e o centro de Brasília. “Tenho vontade de ir para o sul ganhar dinheiro. Tem muita oportunidade em meio à tragédia. Se eu fosse para lá, compraria um caminhão. Ou, talvez, procuraria emprego na construção civil. Tenho amigos que já foram e outros querendo ir o quanto antes”, comenta ele. Faz sentido. Diante da catástrofe, e funciona assim em tantas outras catástrofes mundo afora, surgem novas oportunidades. E a limpeza e a construção de novas moradias exigem um alto número de profissionais que, muito provavelmente, não existam em número suficiente dentro do próprio Rio Grande do Sul.

“Nunca atendi tantos gaúchos no inverno”

A frase é do taxista Humberto (não lembro o sobrenome), que me transportou da rodoviária de Florianópolis até o aeroporto internacional da capital catarinense. “Nunca atendi tantos gaúchos no inverno. Está muito bom, mesmo”, avisa o profissional que tem por costume realizar exatamente o trajeto entre o terminal de ônibus e o ponto de embarque e desembarque de aeronaves. Humberto sabe detalhes da tragédia sulista. E não aprendeu em frente a um televisor e tampouco ouvindo as ondas dos rádios. Ele tem ouvido relatos diários de moradores do Rio Grande do Sul que, assim como eu, precisaram passar por Florianópolis para se conectarem com o Brasil e o mundo. Humberto, que não tem culpa de nada e inclusive participou e organizou remessas de donativos para cidades gaúchas junto a outros taxistas, está ganhando um dinheiro que até o fim de abril era nosso. E ele é só mais um entre milhares – ou milhões – que lucram e muito com a nossa tragédia.

TIRO CURTO

  • A indicação de Guilherme Cé (Partido Novo) para ser o pré-candidato a vice-prefeito ao lado de Gláucia Schumacher (PP) agitou a situação e a oposição em Lajeado. E há quem diga que o fato uniu ainda mais o PL, o PSDB e o Republicanos. E há quem aposte, também, que o empresário João Giovanella pode ser um dos candidatos na majoritária. Aguardemos!
  • Aliás, e durante evento do PL em Lajeado, na sexta-feira, o deputado federal e líder do PL no Estado, Giovani Cherini, praticamente “cravou” a pré-candidatura a prefeito do ex-secretário de Meio Ambiente, Luís Benoitt. E ainda indicou um possível pré-candidato a vice. No caso, Luís Mörschbacher, que faz tempo já militava pelo PL.
  • Ainda no evento do PL em Lajeado, e durante uma participação virtual, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) reforçou a intenção de visitar o Vale do Taquari antes do pleito de outubro.
  • Nas redes sociais, o vereador de Lajeado Carlos Ranzi (MDB) anunciou que essa é a última semana dele no Banco do Brasil. “Embarco em um dos momentos mais importantes da minha vida”, avisa o pré-candidato a prefeito.
  • O secretário estadual de Logística e Transporte Juvir Costella (MDB) voltou a criticar a manifestação junto à ERS-129, no trecho entre Colinas e Roca Sales. E voltou a garantir que a obra de pavimentação asfáltica vai sair do papel. Tomara. Mas o que o povo quer ver mesmo, é o contrato e a Ordem de Serviço devidamente assinados. Com prazo, orçamento e tudo.
  • Ministro da Reconstrução do RS, Paulo Pimenta (PT) colocou o nome à disposição para ser candidato a Senador. Mas há quem aposte que ele será candidato a governador do RS. Fato é que ele vai precisar mostrar muito serviço aos gaúchos nesse complexo momento. E isso pode ser bom ou ruim. Depende dele. E do PT nacional, é claro.
  • “É necessário unir diferentes ideais para o pleno desenvolvimento das questões do Codevat”, avisa Cíntia Agostini, e “nova” presidente do nosso conselho regional. Ela está corretíssima. E mais do que isso. Está muito bem acompanhada do empresário e agora vice-presidente do Codevat, o provocador (no bom sentido) Rogério Wink.

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