Enchente atinge 25 famílias e moradores buscam recomeço

BAIRRO IMIGRANTE

Enchente atinge 25 famílias e moradores buscam recomeço

Cheia do Rio Forqueta atingiu patamares históricos e deixou pelo menos oito casas sem condições de habitação no Imigrante. Desabrigados recorreram a familiares e amigos enquanto tentavam retornar para seus lares. No entanto, há pessoas que pretendem buscar novos ares

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Atualizado sábado,
29 de Junho de 2024 às 16:54

Enchente atinge 25 famílias e moradores buscam recomeço
Schuster não pretende voltar a morar no lugar que foi seu lar por décadas (Foto: Mateus Souza)

“É um drama que eu não quero nunca mais reviver. Se ocorrer de novo, vamos sair daqui”. As palavras de Gerani Terezinha Weissheimer, remetem à enchente histórica enfrentada por moradores do bairro Imigrante, no começo de maio. A família dela está entre as 25 da localidade que tiveram prejuízos com a inundação do Rio Forqueta.

As águas atingiram locais, até então, inimagináveis para uma comunidade formada, em sua maioria, por pessoas mais velhas. Via principal do bairro, a rua Wilibaldo Eckardt teve trechos totalmente inundados. Mesmo áreas consideradas mais altas ficaram submersas. Os prejuízos para o bairro são imensos. E o medo de uma debandada preocupa aqueles que pretendem ficar.

Gerani reside na propriedade com o marido há mais de 40 anos. Nesse tempo, nunca havia entrado água na casa. Nem mesmo na cheia de setembro do ano passado, até então a maior já vivenciada por ela. Desta vez, a situação foi bem diferente. A enchente não só alcançou a residência como também inundou cômodos e danificou móveis, eletrodomésticos, roupas e alimentos.

“Tapou quase todo o segundo piso da casa. Nós saímos daqui resgatados por vizinhos, de caíque. Apenas com a roupa do corpo”, recorda Gerani, que aproveitara as semanas ensolaradas do começo deste mês para fazer a limpeza do local. Já são quase dois meses instalada provisoriamente em um outro imóvel na mesma rua, mas numa parte mais alta, distante do risco de cheia.

Casa de Gerani
tem dois pisos,
mas ficou
praticamente
submersa na
enchente (Foto: Mateus Souza)

“Foi muito rápido”

Os alertas emitidos por institutos de meteorologia preocupavam a família de Gerani. Afinal, em setembro, a enchente esteve perto de entrar na casa dela. Porém, não contavam com a rápida elevação do Forqueta, que atingiu níveis históricos em maio. Não houve tempo suficiente para conseguir resgatar tudo.

“Quando percebemos que estava se aproximando e não parava de subir, puxamos tudo para cima e ficamos ali esperando passar. Mas quando vimos que iria chegar no segundo andar, não tinha muito o que fazer. Foi muito rápido. Passamos aquela noite dormindo dentro do carro, na propriedade de uma vizinha”, lembra.

Praticamente tudo o que tinha na casa foi perdido. A exceção foram os documentos pessoais dela e do marido e algumas roupas. “Já conseguimos roupeiro, mesa e alguns outros móveis. Faltam alguns eletrodomésticos, mas o básico nós temos para voltar”.

“Não dá para acreditar”

Todo o sonho de uma vida arrasado em poucas horas. Aos 65 anos, Lauro Schuster vive dias angustiantes após ver sua casa ser inundada pela enchente. Ele reside na parte mais baixa da Wilibaldo Eckardt, a mais atingida pelo evento climático. Mesmo assim, não esperava que o efeito da cheia fosse tão devastador.

“Criei meus três filhos aqui. Sobrou só a churrasqueira e um fogão. Não dá para acreditar no que aconteceu. Nunca tinha visto nada parecido”, recorda, enquanto caminhava desorientado pelo que restou da casa. Nenhum cômodo escapou. Para voltar a ser reabitado, o imóvel precisaria de uma reforma completa, algo inviável para Schuster atualmente.

Aposentado, não pretende mais voltar para a casa que ergueu com o suor de décadas de trabalho. “Com o meu salário da aposentadoria, não tem como fazer dívida. Já trabalhei mais de 40 anos, hoje não tenho mais condições”, lamenta.

Por enquanto, ele está provisoriamente em uma casa nas imediações do Imigrante. Para alugar um novo espaço, no entanto, terá que recorrer ao aluguel social ofertado pelo município. Realidade também enfrentada por outras famílias.

Êxodo

O pesadelo das enchentes deixou cicatrizes em dezenas de famílias do Imigrante. Entre as 25 casas que ficaram totalmente submersas na cheia de maio, oito delas estão totalmente comprometidas. Ou seja, não serão habitadas. No entanto, mesmo entre àqueles cuja casa se manteve de pé, há o desejo de procurar um outro lugar para morar.

“Essa foi a primeira e espero que a última vez na nossa casa. Se acontecer de novo, não sei se volto”, lamenta Gerani. A propriedade vai até às margens do Forqueta, com a área de várzea tendo sido devastada. A criação de animais se mantém na casa do filho, também atingida pela enchente.

R$ 4 milhões em perdas

Com boa parte de sua extensão situada em área rural, o Imigrante também sente os reflexos dos prejuízos no campo. Conforme levantamento do escritório da Emater/RS-Ascar de Lajeado, as perdas na agricultura, pecuária e na fertilidade do solo estão estimadas em R$ 4,2 milhões no município.

Somente na agricultura o prejuízo é estimado em R$ 2,5 milhões. Na pecuária, a estimativa de perdas é de R$ 890,6 mil. E na fertilidade do solo atingido pela enchente, estimando-se uma área de 140 hectares em Lajeado, os prejuízos chegam a R$ 840 mil. As perdas na produção de milho, soja e hortaliças representam aproximadamente 30% da produção anual local.

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