Muçum luta para se reerguer: entre lojas abandonadas e a esperança do recomeço

ESPERANÇA E RESILIÊNCIA

Muçum luta para se reerguer: entre lojas abandonadas e a esperança do recomeço

Empresários enfrentam desafios e incertezas, enquanto esforços de recuperação buscam revitalizar a cidade

Muçum luta para se reerguer: entre lojas abandonadas e a esperança do recomeço
Parte da estrutura da ponte Brochado da Rocha foi levada pela água na enchente de setembro. (Foto: MATHEUS GIOVANELLA LASTE)
Muçum

A cidade que foi a capa de diversos jornais e portais de comunicação em setembro de 2023, quando junto de Roca Sales e Encantado, figurou entre os municípios mais atingidos pela força da enchente, agora encara novamente a dura realidade que um futuro incerto proporciona. Quem caminha pelas ruas da área central de Muçum percebe diversos estabelecimentos e comércios abandonados, lojas parcialmente sujas e cujas prateleiras permanecem vazias.

Projetos da iniciativa privada, ações do governo municipal e recursos oriundos do Estado e país buscam ajudar na recuperação da cidade. No entanto, todas as possíveis soluções são a longo prazo e causam pouco conforto para os empreendedores que estão atualmente seguindo com seus negócios. Apesar da dúvida, ainda é possível encontrar esperança em alguns estabelecimentos.

Pelas ruas da cidade

A proprietária da loja Babylândia, Simone Bao, comanda o empreendimento há seis anos e perdeu quase tudo na cheia de setembro. Agora em maio foi possível salvar a maioria das peças. Mesmo com poucas perdas, a sensação da empresária é de desânimo perante o que o futuro reserva. “Não há como sentir outra coisa. Todo mundo está perdendo tudo de novo enquanto ninguém faz nada pelo rio. Algo tem que ser feito, seja dragar, limpar ou o que seja porque assim não temos uma solução e ficamos com medo de acontecer de novo”, relata Simone.

Tatiana Machado é proprietária da loja Tati Variedades e reside há 15 anos em Muçum

De momento a empresária afirma que irá permanecer em Muçum, em grande parte devido ao apreço que possui pela vida no município e os amigos que fez após sair de sua terra natal (Dois Lajeados). “Mas tenho muitos conhecidos que saíram. Uma vizinha foi para Nova Prata, outro para Encantado, Vespasiano Corrêa, Lajeado. Muita gente deixou Muçum, está muito difícil”, lamenta Simone.

Natural de Roca Sales, Tatiana Machado é a proprietária da loja Tati Variedades e reside há 15 anos em Muçum. Após perder tudo em setembro e parte do estoque agora em maio, o empreendimento luta para se manter. “Vamos ver o que vai acontecer. Temos que ter fé que vai dar tudo certo e o pessoal vai retornar para a nossa cidade. Muitos colegas saíram, quem passa no centro vê a maioria das lojas fechadas. Só ficou quem é guerreiro mesmo, porque está bem difícil. A prefeitura está lutando junto conosco, mas não é de uma hora para outra que vai melhorar”, aponta Tatiana.

Orilde Simonaio e o marido são os proprietários da Sorveteria do Keko, estabelecimento está há mais de 50 anos em Muçum

Um dos estabelecimentos mais tradicionais do município, a sorveteria do Keko faz parte da rotina da Princesa das Pontes há mais de 50 anos. Orilde Simonaio e o marido são os proprietários do estabelecimento. “Conseguimos reabrir no início de 2024 e em maior veio a enchente que chegou até o segundo andar. Foram 30 dias fechados para limpar, arrumar e ajeitar o que precisava para voltarmos. Nunca cogitamos sair de Muçum, aqui é tudo que temos. Enquanto a enchente não derrubar a nossa casa, não vamos sair. A sorveteria do Keko voltou essa semana e vai continuar por aqui”, enfatiza Orilde.

O advogado Valdecir Girardi, mora atualmente em Encantado, mas atua há 20 anos no município. Ele foi atingido nas enchentes de 2023 e 2024, perdas estruturais e materiais do escritório. “Ficava de noite em casa traba- lhando como advogado e de dia era servente aqui. Por enquanto pretendo continuar em Muçum, mas vemos que muitos empreen- dimentos não existem mais ou foram realocados. Lojas grandes como a Lebes e a Becker saíram definitivamente, mas acredito que as empresas menores e o comerciante natural do município vão reabrir, devagar, mas acho que sim. Porque muitos não têm aonde ir e é o único ponto comercial deles” comenta Girardi.

O advogado Valdecir Girardi atua há mais de 20 anos na Princesa das Pontesanos na Princesa das Pontes. (FOTOS: BRAYAN BICCA)

CDL

Leonardo Bagnara, integrante da diretoria da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Muçum, acredita que as perdas da cheia de setembro foram maiores que as de maio para o comércio. “De modo geral ninguém salvou nada prati- camente porque não pensávamos que seria algo daquela magnitude, agora em maio o pessoal estava mais atento e informado então muito foi salvo. Os pequenos negócios já começaram a se realocar, mas perdemos empresas grandes”, relata.

Segundo Bagnara, a entidade tentou auxiliar de todas as formas possíveis. Com apoio do governo municipal foi entregue equipamentos para alguns comércios atingidos em setembro. “Até com valores foi possível auxiliar naquela época, mas nessa enchente recente ninguém ganhou nada, nenhum comércio”, revela. O CDL é um dos apoiadores do projeto Recupera Muçum que pretende realocar a área central da cidade para um local livre de enchentes.

Ponte Brochado da Rocha

A empresa Traçado, de Erechim, responsável pela obra de reconstrução da ponte Brochado da Rocha, de Muçum, intensifica o trabalho de concretagem das vigas que serão colocadas na nova estrutura. A base rodoviária foi levada pela enchente de setembro de 2023. O investimento para reconstrução da ponte é de R$ 9,6 milhões, com recursos do governo federal.

O prefeito Matheus Trojan usou as redes sociais para compartilhar a notícia. “Dentre tantas situações caóticas que estamos vivendo, é bom ter um alento”, disse. “Depois de certa angústia sobre a manutenção da obra com os últimos eventos extremos, e da dificuldade de logística que prejudicou também a empresa de imediato, a retomada do crono- grama da obra nos dá esperança de que em breve recuperaremos esse acesso tão estratégico para toda a região” escreveu.

Em entrevista, Trojan conta que depois da concretagem é preciso de um tempo para maturação do concreto antes de ser possível transportar essas vigas para Muçum. “Acreditamos que dentro de 20 ou 30 dias isso será possível. É uma grande satisfação ver que uma das etapas burocráticas foi vencida, mas continuamos focados para entregar a ponte o quanto antes para toda a nossa comunidade e região”, salienta o prefeito.

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