“Mas não basta, pra ser livre
Ser forte, aguerrido e bravo
Povo que não tem virtude
Acaba por ser escravo…”
O Rio Grande do Sul e em especial o Vale do Taquari sofreram um dos maiores desastres climáticos da história, senão em vítimas, certamente em extensão territorial.
Casas, automóveis, árvores e pontes foram arrastados num caminho de destruição que iniciou nos campos de cima da serra e terminou na lagoa dos patos.
Não sei se a palavra certa para o que aconteceu é desastre, pois ao usá-la temos a impressão de algo imprevisível. Acontece que as enchentes no RS são fenômenos cíclicos e de certa forma previsíveis.
Nós, gaúchos, não estamos isolados do mundo, fazemos parte de um ecossistema que inclui Amazônia, Pacífico, Andes e cujo comportamento é conhecido no mínimo desde os pré incas.
Portanto nossa incapacidade de previsão é algo vergonhoso e que exige medidas urgentes. Os erros de previsão, inclusive repetitivos desses acontecimentos, nos remetem ao período prévio as descobertas científicas. Não é algo aceitável e deve ser duramente cobrada da esfera estadual. Para piorar, a falta de informações confiáveis faz com que não saibamos quando abandonar ou quando ficar em nossas propriedades e faz brotar teorias simples para um problema complexo: já foram as barragens, já foi a mata ciliar e agora é a dragagem dos rios.
Ocorre que muitos de nós descobriram apenas agora que vivemos num estado falido e que sucessivos governos existem apenas para pagar aposentados, transferir dinheiro para união e pagar uma dívida interminável com o governo federal. Por isso estamos a viver de glórias passadas pois na prática só temos um aeroporto decente para 11 milhões de habitantes, nossas estradas e pontes estão sem manutenção e pior descobrimos na pior hora que nossa capital jamais cuidou adequadamente de seu sistema de proteção contra cheias.
É desanimador.
Mas ao menos fomos visitados por muitas autoridades. Todas bem intencionadas, tenho certeza, mas nenhuma sabendo como desembaraçar os nós da burocracia. Por isso muitos seguem sem casa e se não fosse a iniciativa privada a ligação entre Lajeado e a região alta do Vale do Taquari através de Arroio do Meio seguiria caótica.
Mas o que mais me assustou foi a passividade de boa parte dos nossos representantes. Alguns desapareceram, outros mandaram mensagens, outros se acovardaram quando deveriam ter elevado a voz. O Rio Grande do Sul precisa voltar a se fazer ouvir e no mínimo dizer com toda força: devo, não nego, pago quando puder (se é que já não paguei). Nossa reconstrução depende disso