O pensamento militar clássico “prepare-se para o pior” serve de referência para o movimento do Estado diante do risco de uma nova inundação de grande porte. Há uma série de aspectos da condição hidrológica gaúcha desde o segundo semestre do ano passado.
Passa pela saturação do solo que interfere na absorção da água, mananciais hídricos assoreados ou com aumento da mancha de alagamento, drenagem urbana comprometida por lixo, barro ou escombros.
Então, o governador Eduardo Leite, a Defesa Civil e a equipe de monitoramento do clima acertaram em desenhar o pior cenário para essa semana? Cabe aqui o pensamento militar? Ou houve mesmo erros por um alerta que provavelmente não se cumprirá?
Respostas difíceis e das quais não tenho a ambição de sentenciar. O pavor, o medo, o trauma de maio ainda estão muito vivos. Neste momento, qualquer decisão é complexa.
Serviço terceirizado
Os relatórios meteorológicos da Sala de Redação do Estado, ligada à Secretaria Estadual de Meio Ambiente, passaram a ser feitos por uma empresa de São Paulo. O contrato de cinco anos para prestação do serviço foi assinado em 2023. São R$ 25,93 milhões neste período.
Neste contrato para prestação do serviço, está o radar que chegou em Montenegro. Esse é um acerto da licitação. Tem um porém. Com o fim do prazo e uma consequente não renovação, o equipamento sai do RS. A empresa poderá colocar em um transporte e retirar.
Mais precisão
Quando a redação ficou sabendo da vinda surpresa do governador para Lajeado, na noite de segunda-feira, poucas informações chegaram sobre os motivos. Abriu-se interpretações. A primeira era de teríamos o início de um novo fenômeno ambiental crítico.
A equipe começou a estudar mapas meteorológicos e tentar calcular os acumulados de chuva. Na Rádio A Hora, um novo plantão prévio para cobertura de enchente se desenhava.
Das 17h às 19h, foram ouvidas defesas civis dos municípios e também especialistas, como o meteorologista e professor da Universidade Federal de Santa Maria, Daniel Caetano.
Pelo que vinha do Estado, seriam 150 milímetros de chuva na parte banhada pelo Rio Taquari. Acima, nas cabeceiras, pegando os rios Carreiro, Antas, Guaporé e outros arroios, poderia passar dos 250 mm.
Esse volume traria para ontem (quarta-feira) o rio acima dos 28 metros. Um nível semelhante ao episódio de novembro passado.
Nada se concretizou. Quem esteve mais próximo foi justamente o meteorologista de Santa Maria. Caetano olhou os mapas, afirmou que havia pouca chuva sobre a bacia do Taquari/Antas naquela noite e para terça-feira também. Depois, teríamos um acumulado máximo de 60 a 70 mm, o que não seria suficiente para um repique do Rio.
Isso significa que as informações técnicas do Estado, levadas para quem toma a decisão, superestimaram a chuva naquelas horas. Criou-se um furor dentro das defesas civis, dos municípios, entre voluntários, empresas e comunidade.