Conte um pouco sobre a sua história com o voluntariado….
Eu sou palhaço há 12 anos e viajei boa parte do Brasil trabalhando com palhaços, em congressos, acampamentos. Sempre estudei o palhaço de rua, e quando soube do que estava acontecendo na Síria, foi a primeira vez que despertou o interesse de levar o palhaço a uma situação como essa, da tristeza para a alegria. Quando soube da tragédia aqui no Vale do Taquari, conversei com alguns amigos e perguntei se topariam levar o palhaço para as ruas, e integrei essa missão da Aliança Evangélica Brasileira em Cruzeiro do Sul.
Como foi quando chegou na cidade?
Pra mim foi um impacto, eu não tinha dimensão, apesar de estar acompanhando pelo jornal, pelas mídias, vim para ficar uma semana e estendi por duas semanas. Na segunda semana já estava escrevendo um projeto para cá. Senti a necessidade de ficar mais tempo. O palhaço nunca tinha sido tão efetivo como aqui. Hoje a minha previsão de estadia aqui é de três meses no mínimo. Nunca vi nada parecido e espero nunca mais ver.
Como está sendo a sua atuação em Cruzeiro do Sul?
Meu trabalho é de ressignificação, a partir da figura da criança. A criança brinca, gosta de brincar mesmo com o brinquedo quebrado. A criança é inocente, não tem malícia, quer descobrir o mundo. Minha ideia foi trazer o palhaço para cá para dar uma respirada. As pessoas estão olhando para a tragédia o tempo todo. Meu objetivo era abrir uma janelinha para respirar um pouco. Vamos para as ruas. Quando saio do carro tá valendo. Vou ouvir histórias, conversar. Esse primeiro mês o nosso foco foram os abrigos, as pessoas estavam vulneráveis. Agora que o tempo passa e conhecemos as pessoas pelo nome, vamos pelo Centro, brincar com as pessoas, tentar levar um pouco de alegria.
Qual o sentimento de estar vivenciando essa tragédia, mas também podendo auxiliar?
Acho que pela primeira vez eu vi Deus. Nunca me senti tão presente no abraço como foi com essas pessoas. Isso falo do palhaço, da resignificação, mas eu como pessoa sou obrigado a ressignificar o meu olhar também. Uma experiência única, transformadora. A gente se conecta com a alma das pessoas, com o mais profundo delas. Não sou mais a mesma pessoa. Isso aqui mudou a minha vida. Me impacta a destruição, mas o contato com as pessoas mudou a minha vida, senti que estou conectado com essas pessoas de uma forma que nunca me conectei. Meu palhaço também é outro, assim como minha sensibilidade.