Cheias colocam em debate uso de prédios públicos atingidos

SOB AVALIAÇÃO

Cheias colocam em debate uso de prédios públicos atingidos

Estruturas como escolas e centros de polícia aguardam reformas ou mudança para outros locais

Cheias colocam em debate uso de prédios públicos atingidos
Castelinho, em Lajeado, tem aulas na Univates desde setembro. Estado ainda não definiu futuro da estrutura. (Foto: Bianca Mallmann)
Vale do Taquari

Em nove meses, cinco enchentes. É diante desta realidade que municípios do Vale do Taquari unem esforços para a reconstrução e buscam alternativas às áreas alagáveis. Na região, órgãos públicos, como o Centro de Policiamento Ostensivo do Vale (CRPO-VT), a Central de Polícia, prefeituras e mais de oito escolas foram atingidos pelas cheias e avaliam possibilidade de reformas para a permanência nos locais, ou mudanças de endereços.

Após 16 anos, o CRPO-VT deixará o Centro de Lajeado. Alocado provisoriamente em dois locais diferentes, o órgão prepara mudança para o bairro Moinhos. A nova sede será em imóvel alugado e recém construído, às margens da rua Carlos Spohr Filho, na esquina com a Arnoldo Uhry.

De acordo com o novo comandante do centro, tenente coronel Rodrigo Schoenfeldt, o local escolhido não apresenta riscos de inundação. A expectativa é de que esteja apto para receber os policiais em cerca de 30 dias. “Depende da reforma. O prédio está passando por algumas adaptações. Esperamos o quanto antes estarmos instalados nele”, salienta.

Crédito: Bianca Mallmann

Hoje, as atividades internas do CRPO se dividem entre uma sala de informática cedida pela Univates e também um espaço junto ao gabinete de crise da Defesa Civil estadual, instalado na sede do Corpo de Bombeiros Militar. “Mas a presença da Brigada Militar é real e potencial em qualquer lugar da cidade, inclusive no Centro. Não vamos abandoná-lo”, destaca Schoenfeldt.

Criado em 1998, o comando regional funcionou durante dez anos no bairro São Cristóvão. Em 2008, mudou-se para o antigo Fórum, numa negociação que envolveu também o governo municipal. Na enchente de maio, o prédio ficou submerso pela primeira vez. As maiores perdas foram com mobiliário. Os computadores foram recuperados.

“Não podemos ficar à mercê das enchentes. Precisamos estar disponíveis para garantir a segurança da comunidade nesses momentos de dificuldade, por isso não dá para ficar investindo em prédios públicos que ficam inundados a cada enchente. Nosso trabalho fica prejudicado”, ressalta.

Permanência

O avanço das águas até o Centro Administrativo do governo municipal pegou muita gente de surpresa. Até este ano, havia chegado apenas ao subsolo. Desta vez, alcançaram metade do primeiro pavimento. Mesmo assim, o Executivo permanecerá no local, que passa por reforma interna desde fevereiro.

“Nos reunimos com arquitetos e a construtora e fizemos adaptações no projeto, principalmente na garagem e no primeiro pavimento. Vamos mudar o local da subestação de energia, o quadro de luz e também será trocado o material do piso e das portas, que sejam adaptáveis à água”, comenta a secretária de Administração, Elisangela Hoss.

Prefeitura de Lajeado reestrutura espaços, mas permanece no mesmo local. (Foto: Bianca Mallmann)

Quatro secretarias, a procuradoria jurídica e o gabinete do prefeito aguardam a conclusão da reforma para retornarem ao Centro Administrativo. Com exceção do último, que está na Casa de Cultura, os demais estão em um imóvel alugado na rua Júlio de Castilhos. A projeção, segundo Elisangela, é da obra estar finalizada em outubro.

Busca por novas áreas

Na Polícia Civil, o momento também é de readaptações. Em Lajeado, as delegacias não retornarão mais para o Centro, após três grandes inundações em oito meses. Elas serão realocadas provisoriamente em um imóvel no São Cristóvão, enquanto aguardam a construção da futura Central de Polícia, no mesmo bairro.

Em Lajeado, as delegacias não retornarão mais para o Centro, após três grandes inundações em oito meses. (Foto: Mateus Souza)

Em outros municípios, mais desafios. Conforme a delegada regional de Polícia, Shana Luft Hartz, as áreas que haviam sido adquiridas para a construção de novas delegacias em Arroio do Meio e Roca Sales ficaram inundadas na enchente de maio. Por isso, será necessário um novo trabalho de aquisição de áreas.

“Além disso, estamos averiguando a possibilidade de realocação das DPs de Estrela e Encantado, cujas sedes foram parcialmente alagadas também, embora não tenham sido comprometidas”, frisa Shana

Nas escolas

Pelo menos sete escolas estaduais e outras municipais estão interditadas na região após as cheias, e ainda aguardam um destino para os prédios atingidos. Uma das maiores e mais tradicionais instituições do Vale, o Colégio Estadual Presidente Castelo Branco de Lajeado já sofre os impactos das enchentes desde setembro do ano passado, quando as águas atingiram 2 metros no primeiro piso da escola.

Uma reforma foi autorizada pela Secretaria Estadual de Educação (Seduc) e um convênio foi firmado com a Univates. Desde então, os mais de 800 estudantes do colégio estudam em salas de aula da universidade.
O prédio voltou a ser atingido nas cheias seguintes, em especial, em maio deste ano. O estado ainda não possui respostas quanto à utilização da estrutura, se há possibilidade de continuar com a reforma ou transformar o espaço para outra finalidade.

A desocupação do prédio é lamentada pela comunidade. O Castelinho, como é conhecido, já faz parte da história de Lajeado. As atividades iniciaram em 1965, nas dependências da Escola Estadual Fernandes Vieira – também atingida pelas cheias. O prédio que abriga hoje a escola começou a ser construído em 1959, na época em que pertencia ao antigo Colégio São José, dos Irmãos Maristas.

Sem destino certo

Depois da tragédia de setembro, a EEEF Fernandes Vieira recebeu reforma com recursos do estado e havia finalizado as obras em março. Pouco mais de um mês depois, a nova enchente histórica cobriu a escola com água outra vez.

Localizada próxima ao Parque dos Dick, a última grande cheia destruiu portas, janelas e o muro da instituição, que foi interditada. Os alunos foram realocados para outras duas instituições do município, EEEF Irmã Branca, no bairro Florestal, e EEEF Moisés Cândido Veloso, no Hidráulica.

EEEF Fernandes Vieira está interditada após cheia de maio e estado ainda não definiu futuro da escola. (Foto: Bibiana Faleiro)

A equipe diretiva e a 3ª Coordenadoria Regional de Educação (Cre) ainda não têm um posicionamento quanto ao futuro do prédio, ou mesmo se a escola, com mais de 95 anos de história, vai permanecer no mesmo local.

Já na rede municipal de Lajeado, das 49 escolas, duas foram atingidas, a Emei Risque e Rabisque, que será construída em nova área, e a Emef Alfredo Lopes, que aguarda projeto de reconstrução.

No mesmo bairro

Também entre as escolas estaduais que aguardam um destino para os prédios atingidos, está a EEEF de Moinhos, em Estrela. Já a Escola Municipal de Ensino Fundamental Leo Joas, também do município, permanecerá no Bairro das Indústrias e será reconstruída em local não alagável. A instituição foi destruída pela enchente de maio. A administração municipal confirmou a aquisição de um imóvel no valor de R$ 1,4 milhão para a nova estrutura. A ideia do governo foi de manter a unidade na mesma região, adequando projeto para construção de uma escola modular.

Os quase 600 alunos foram realocados para outras escolas da cidade como o caso da Emef Odilo Afonso Thomé. A medida em caráter emergencial seguirá até que a estrutura da Leo Joas seja construída.

O novo local fica na Rua João Henrique Uebel, na esquina com a João Inácio Sulzbach, a 650 metros do antigo educandário. A escola deve ser concluída em 120 dias. De acordo com a Secretária de Educação do município acredita que o antigo prédio será demolido.

De volta a Jacarezinho

Outro prédio que aguarda um destino no Vale, é a estrutura da Escola Antônio de Conto, da comunidade de Jacarezinho, em Encantado. Conforme explica a diretora Vanessa Agostini Gianezini, a escola está interditada desde as cheias de setembro de 2023.

Naquele peŕiodo, os estudantes ficaram sem aulas por cerca de um mês, até serem alocados em um pŕedio em desuso pelo município, onde ficava a escola Osvaldo Aranha, na Barra do Coqueiro. A estrutura fica a 17 km do Centro de Encantado e cerca de 10km da antiga sede da Antônio de Conto. O transporte passou a ser um problema que se intensificou após a tragédia de maio.

Desde o dia 3 de junho, os alunos passaram a estudar em outro prédio, junto à unidade da UERGS de Encantado. Conforme Vanessa, o desejo da comunidade é que a escola volte a atender em Jacarezinho e uma reforma foi fechada para o fim do ano passado. Com as novas cheias, no entanto, as obras não seguiram.

A equipe diretiva e o município agora avaliam uma área para a construção de uma estrutura para a escola. “Para a comunidade é muito importante esse retorno”. Ainda não há destino para o antigo prédio, mas a diretora acredita que uma opção positiva seria a demolição da estrutura e transformação do local em uma área de lazer.

Em Cruzeiro do Sul, duas escolas também estão interditadas. A EEEM João de Deus está temporariamente fechada por estar localizada em área de desmoronamento devido a rachaduras. E a EEEF Itaipava Ramos, que foi atingida pelas cheias e retornará às atividades escolares após uma obra de reforma geral.

Prédios das escolas estaduais interditado

  • Colégio Estadual Presidente Castelo Branco, de Lajeado;
  • EEEF Fernandes Vieira, de Lajeado;
  • EEEF de Moinhos, de Estrela;
  • EEEF Antônio de Conto, de Encantado;
  • EEE Básica Padre Fernando, de Roca Sales;
  • EEEM João de Deus, de Cruzeiro do Sul;
  • EEEF Itaipava Ramos, Cruzeiro do Sul, que retornará as atividades escolares após uma obra de reforma geral.

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