A passagem do presidente Lula pela região foi marcante em vários sentidos. Acompanhado por uma comitiva numerosa, o principal nome da esquerda nacional está longe de ser uma unanimidade. Mesmo assim, há de se convir, o carisma, o poder de oratória e o conhecimento sobre o Brasil o colocam como um ícone da política nacional de todos os tempos.
Podem gostar ou desgostar, mas a visita dessa quinta-feira foi dotada de um simbolismo extraordinário. Como jornalista, tive a missão de acompanhar a visita em Arroio do Meio. Consegui me aproximar dele duas vezes. Com o gravador na mão, fui retirado nas duas ocasiões pela segurança. Não consegui fazer a minha pergunta.
Nem foi necessário, o presidente respondeu no pronunciamento com mais de 20 minutos de duração. Na sede do Rui Barbosa, uma localidade com alta preferência dos eleitores ao rival nas eleições de 2022, Lula foi aplaudido por diversas vezes. Eu contei quatro. Talvez até tenha sido mais.
O discurso foi de um estadista humanitário. Colocou em primeiro lugar as famílias atingidas pela inundação. Emocionou inclusive quem não votou nele. Transmitiu sentimentos quando falou das histórias que ouviu durante a visita. Deu nome às pessoas, contou, com riqueza de detalhes, o que ouviu em Cruzeiro do Sul, quando vizinhos tentaram retirar o seu Orlando e a família, da casa no Passo de Estrela.
Me respondeu o que queria saber mesmo sem perguntar. Assumiu o compromisso de jamais esquecer as pessoas do Rio Grande do Sul. Foi uma passagem marcante. Entre a paixão e o ódio há uma linha tênue. Assim como confiar e desconfiar.
Pelo tempo que for necessário o governo nacional estará no RS, disse o presidente. Isso vamos cobrar pelos próximos dois anos e cinco meses de mandato de Lula.
TODAS AS FORÇAS
O governo federal, do RS, os municípios, as comunidades, os empresários e cada indivíduo deste estado e do país. Toda ajuda é necessária neste momento. Talvez as cidades atingidas nunca mais serão as mesmas. O trauma é gigante.
Cada história de vida dos sobreviventes merece um livro. Compreender todo o impacto da catástrofe só é possível acompanhar de perto. Está nas casas destruídas, nas ruas cheias de barro, nos abrigos, nos hospitais, nas escolas, nas estradas.
Na passadeira pelo Rio Forqueta, o esforço das pessoas, todo o imprevisto desta anormalidade. A impressão é de uma legião de refugiados, como estamos acostumados a ver em áreas de grandes conflitos mundo afora.
Na sexta-feira, as imagens do içamento da nova ponte de ferro entre Arroio do Meio e Lajeado trouxe uma injeção de ânimo. Mãos do Vale, esforço das pessoas deste pedaço do Rio Grande. É assim. A reconstrução precisa de todas as forças.
Êxodo de trabalhadores e a qualificação
Debate na Rádio A Hora 102.9 nessa quarta-feira reuniu empresários e líderes regionais. Participaram Nilto Scapin, Ivandro Rosa, Diego Tomasi e Rafael Wagner em mais uma edição do programa RUMO – O Futuro da Mão de Obra.
Nesta reconstrução regional, os setores produtivos têm uma grande incógnita: como manter os trabalhadores? Muitas famílias atingidas não querem mais enfrentar episódios como a inundação de maio. Perderam tudo. E, ir para outras cidades, ou outras regiões ou estados se torna uma alternativa.
Em uma região que, mesmo antes da catástrofe, tinha necessidade de mão de obra, pois havia mais vagas abertas no mercado de trabalho do que candidatos, agora mais do que nunca é necessário valorizar as pessoas. E isso depende de vários movimentos.
Talvez o primeiro seja garantir uma visão de futuro, de crescimento, de qualidade de vida. Para tanto, a evolução passa por meios de garantir a qualificação dos profissionais.