Rádio: a voz que salvou vidas na enchente

Opinião

Fabiano Conte

Fabiano Conte

Jornalista e Radialista

Rádio: a voz que salvou vidas na enchente

Lajeado

Confesso que, em 30 anos de profissão, nunca vivenciei uma situação tão impactante. Já cobri inúmeras enchentes, tanto no estúdio quanto nas ruas, mas esta foi a mais impressionante e avassaladora. Houve momentos em que me senti impotente diante do microfone, sabendo que meus apelos talvez não fossem suficientes. No entanto, a persistência valeu a pena, e agora entendo o reconhecimento da importância do rádio, do nosso trabalho, e da capacidade única desse meio de comunicação de salvar vidas. A maior enchente da história do Vale do Taquari e de outras regiões, que se tornou a tragédia ambiental mais devastadora do Rio Grande do Sul, revelou o papel indispensável do rádio em situações de emergência.

Durante esse evento catastrófico, o rádio emergiu como um salvador, oferecendo um meio crucial para que as pessoas pedissem ajuda e se comunicassem. Foi através das ondas do rádio que muitas pessoas conseguiram solicitar socorro. Em meio ao caos, sem acesso à internet e com a energia elétrica comprometida, o rádio, especialmente os rádios a pilha, permitiram que indivíduos isolados pelas águas comunicassem suas situações desesperadoras.

Além disso, foi por meio do rádio que muitos puderam tranquilizar seus familiares e amigos, informando que estavam bem. Nós, da Rádio A Hora, desempenhamos um papel incansável e vital durante esta crise. O empenho de nossa equipe de radiojornalismo, composta por jornalistas, repórteres, técnicos, produtores e equipe de retaguarda, foi excepcional. Trabalhamos dias a fio, muitas vezes utilizando geradores próprios devido à falta de luz e enfrentando condições precárias de internet.

Mesmo assim, nossos colegas conseguiram capturar e transmitir imagens e áudios de forma ininterrupta, mantendo o rádio no ar e funcionando como um canal essencial de comunicação para a população. Sem a presença do rádio, o número de vítimas poderia ter sido ainda maior. As transmissões constantes apelavam por ações das autoridades, pela defesa civil, por helicópteros e botes de resgate, muitas vezes sendo a única esperança de socorro para aqueles em perigo. Em uma era digital onde muitas vezes subestimamos os meios de comunicação tradicionais, esta tragédia mostrou que o rádio permanece insubstituível em situações de emergência.

A resiliência do povo gaúcho

Após duas semanas sem escrever minha coluna, retorno em meio a um cenário de desolação, mas também de esperança, para refletir sobre a necessidade urgente de resiliência do povo gaúcho. As enchentes que devastaram o Vale do Taquari e outras regiões do Rio Grande do Sul deixaram marcas profundas, tanto na infraestrutura quanto na alma dos seus habitantes.
Ao visitar diferentes localidades afetadas, me deparo com uma paisagem de destruição. O termo “aquilo que sobrou” é mais do que apropriado para descrever o estado atual de muitas ruas e bairros. Diante de tanta perda, é fácil sucumbir ao desânimo e à sensação de impotência, como se tudo estivesse perdido.
No entanto, há algo que renasce das ruínas e que se mostra ainda mais forte: a solidariedade e o espírito de comunidade. A cada canto que olho, encontro pessoas dedicando seu tempo e esforço, seja em ações voluntárias, seja no apoio logístico oferecido por empresas e pelo poder público, não apenas do nosso estado, mas de todo o Brasil e além. Esse esforço conjunto me faz acreditar que a resiliência é a chave para superar este momento difícil. Que possamos olhar para este desafio como uma oportunidade de nos fortalecer, de unir nossos esforços em prol de um futuro melhor. Que a resiliência gaúcha seja, mais uma vez, o farol que nos guia rumo à reconstrução e ao renascimento.

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