Qual futuro?

Opinião

Filipe Faleiro

Filipe Faleiro

Jornalista

Qual futuro?

Vale do Taquari

Nos abrigos, cada vítima da inundação busca explicações, tentam entender os motivos para uma cheia tão devastadora. Entendo que o propósito seja situar os pensamentos frente a essa dor tão presente.
“Isso é Deus varrendo a terra”, diz uma senhora que se aproxima de mim enquanto faço fotografias e tento agendar algumas ligações no Parque do Imigrante, em Lajeado. “A humanidade deixou de seguir suas regras, desrespeita a natureza e agora saberemos a força do Nosso Senhor”. Como resposta, me limito a um: “não duvido”.
A fé, religiosidade e espiritualidade de cada pessoa deve ser respeitada. Aquela senhora sente aquilo de verdade. Duro é a incerteza. Qual é o futuro? Falta perspectiva para esses milhares de desabrigados, mas não só para eles.
Onde estarão mês que vem? Quanto tempo até voltarem para casa? Existe casa? Onde reconstruir? E quanto aos filhos, netos e bisnetos? Qual planeta eles vão herdar?
Quando falta perspectiva, os sonhos deixam de ter sentido. O amanhã é um grande ponto de interrogação.


Voluntários para mapear áreas de risco

Servidores municipais, engenheiros, geólogos, integrantes das defesas civis dos municípios, coordenados por pesquisadores, entre eles o professor da Ufrgs Masato Kobiyama, unem esforços para ampliar o mapa de áreas propícias para deslizamentos. Além da formação teórica, o grupo inicia uma série de visitas a campo. O contato direto nos municípios, a análise dos movimentos de massa e o contato direto com a comunidade serão fundamentais para ampliar o conhecimento sobre pontos de riscos para deslizamentos.

Crédito: Filipe Faleiro



Aquecimento global e adaptação

As temperaturas da terra sobem de maneira contínua e ininterrupta. No mundo, os maiores cientistas do clima esperavam que os oceanos ficassem 1,5ºC mais alto em 2035. O estudo feito entre 2017 e 2018 foi atualizado entre 20 e 21. E esse número foi reduzido para 2027. No entanto, os oceanos já tiveram essa elevação na temperatura prevista para os próximos anos em 2023. Nos Estados Unidos, na Europa e no centro do Brasil, os termômetros passaram dos 40ºC por dias consecutivos.


Essas ondas de calor estão no centro dos motivos para as inundações no Rio Grande do Sul. No fim de abril, todo o centro-oeste do país, pegando São Paulo, indo até a costa com o Espírito Santo, havia um domo de calor. Essa massa de ar quente desviou toda a umidade da Amazônia para o sul do continente.
Foram mais de 600 milímetros de chuva em menos de quatro dias. Pegou tanto as cabeceiras do Taquari quanto a área mais baixa.
Os especialistas alertam: a frequência e a intensidade desses eventos têm aumentado devido às mudanças climáticas. Isso representa um risco significativo para as comunidades locais, que muitas vezes não estão preparadas para lidar com esses desastres.


A necessidade de ação

É crucial que sejam adotadas medidas para mitigar os efeitos extremos. Isso inclui a redução das emissões de gases de efeito estufa, a adaptação às novas condições climáticas e a construção de resiliência nas comunidades mais vulneráveis. As mudanças climáticas são uma ameaça. Chega de negacionismo.


Caos no RS e a chuva de fake news

Um perigo invisível. As inundações são uma tragédia por si só. No entanto, a situação é agravada pela disseminação de notícias falsas. Essas narrativas distorcidas desviam a atenção e os recursos necessários para lidar com a situação.
O uso sistemático das redes de computadores para disseminar informações falsas são nocivas por vários motivos. Podem criar pânico e confusão, dificultando os esforços de resgate e ajuda às vítimas. Além disso, também ocasionam ações inadequadas ou prejudiciais em momentos de crise.
O antídoto para essa pandemia de desinformação é o jornalismo profissional. Esses disparos parecem sistemáticos e organizados. Partem de grupos estruturados para levar aquela ideia do “quanto pior, melhor”. Há interesses muito claros para o uso desses artifícios em meio a maior catástrofe do Rio Grande do Sul.
Uma delas é de Lajeado. A mentira da vez usa imagem do IML do município, como se fosse de Canoas, e que teria dois mil corpos para serem identificados.

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