A realidade do Vale do Taquari mudou do dia para a noite. Vejamos o exemplo da última edição impressa do jornal Nova Geração, de Estrela, periódico que também pertence ao Grupo A Hora. A foto de capa daquela sexta-feira, dia 26 de abril, mostra a imagem aérea do complexo portuário às margens do Rio Taquari e a expectativa, por parte do governo municipal, de finalizar o complexo processo de municipalização do porto. “Município é autorizado a receber complexo”, citava a manchete. Outra manchete alertava para o fechamento de um acesso na BR-386 e o quanto isso ameaçava um novo investimento em Bom Retiro do Sul. Após a tragédia, porém, as manchetes já não fazem mais tanto sentido. O porto praticamente não existe mais e o Executivo projeta, inclusive, a extinção da Empresa Pública de Logística Estrela (E-Log). E a polêmica do acesso ficou pequena diante de tantas avarias e impactos junto à nossa rodovia federal. De fato, a vida é um sopro.
Omissão no passado: problema no presente
Não foram poucas as matérias cobrando investimentos e retratando a angústia dos moradores e comunidades próximas à ERS-129, no trecho de estrada de chão entre Roca Sales e Colinas. Pois bem. Após a tragédia causada pela inédita elevação do Rio Taquari, o tão falado e debatido trecho da rodovia estadual passou a ser a principal ligação rodoviária entre as regiões alta e baixa do Vale do Taquari. É por lá que o escoamento da nossa produção e o abastecimento das nossas empresas e indústrias têm condições de passar neste momento mais crítico. E a omissão do passado, claro, já compromete a solução paliativa do presente.
Atenção ou politicagem?
Uma tragédia como essa pode servir para os atuais gestores angariarem mais eleitores em um momento de luto e desespero. Da mesma forma, pode ser um combustível e tanto para os opositores crucificarem quem está à frente das prefeituras. Dito isso, é importante o eleitor manter a serenidade e prestar muita atenção nas atitudes e intenções dos interlocutores. Não podemos ser injustos e, tampouco, ingênuos. E também não podemos ser levados por fakenews e boatarias.
E a burocracia?
Foi assim em setembro e novembro de 2023. Governador e presidente da República garantem que o Vale do Taquari e praticamente todo o estado do Rio Grande do Sul não serão vítimas da burocracia que ainda impera no Brasil, um país que costuma gerenciar suas normas e trâmites sob a perspectiva da má-fé dos contribuintes. Pois bem. Em relação às enchentes do ano passado, o Vale do Taquari foi vítima, sim, da burocracia do Estado e da União. As casas temporárias, por exemplo, ainda não saíram do papel. Da mesma forma, uma boa parte dos recursos anunciados ainda não chegou às mãos de quem sustenta – e com muito suor e resiliência – milhares de empregos. Tomara que mude.
O olho gordo pode custar caro
O Ministério Público investiga eventuais aumentos abusivos de preços em meio ao pior desastre natural da nossa história, especialmente de itens básicos e necessários à sobrevivência e dignidade das pessoas mais impactadas pela trágica enchente da semana passada. O mesmo deve ser feito em breve pelo Procon/RS. E precisa ser feito. Além de desumano, a ânsia pelo lucro em cima de uma catástrofe precisa ser devidamente punido por parte de quem fiscaliza tais movimentos.
Conexões são prioridades
Na manhã de ontem eu cruzei o Rio Foqueta entre Lajeado e Arroio do Meio a bordo de um pequeno barco. É um trabalho idealizado e proporcionado por bravos voluntários. Mas é uma solução paliativa e, por vezes, insegura. Especialmente em dias de chuva, como foi a tarde dessa quarta-feira. Diante disso, empresários se uniram e garantiram uma pequena balsa para agilizar o transporte de pedestres e garantir mais segurança. Mas as novidades não param por aí. No início da noite de ontem, e por meio de uma interação entre o vereador lajeadense, Isidoro Fornari (PP), e o Secretário Institucional da Secom do governo federal, Maneco Hassen (PT), o ponto deve receber um “passadeiro” utilizado pelo Exército – espécie de passarela junto ao leito do rio – para a travessia de mantimentos e, claro, trabalhadores.
Ah, e no fim da noite de ontem, uma outra ideia acalentadora. Um grupo de voluntários anunciou a criação do Movimento pelo Vale, e hoje mesmo ocorre o lançamento da campanha “Juntos Pela Ponte”, em um ato simbólico programado para às 14h, em ambos os lados da antiga ponte de ferro entre Lajeado e Arroio do Meio.
Fluxo – e tranqueira – na BR-386 preocupa
As pontes sobre o Rio Taquari resistiram à enchente. Mas ainda não estão em condições plenas para receber o fluxo de veículos que costuma cruzar pela nossa região. A ponte no sentido capital-interior segue interrompida e sem previsão para a liberação. Por ora, o trânsito (para ir e para voltar) ocorre somente na ponte no sentido interior-capital, e isso gera um inevitável afunilamento em ambos os lados da travessia. Há relatos de motoristas que aguardaram quase duas horas para cruzar o trecho urbano de Lajeado e Estrela. E isso não pode continuar. A produção precisa de muito mais agilidade para o escoamento, sob o risco de perdermos ainda mais competitividade no sul do país.