Em um nível mais superficial, Johnson destaca que o patriotismo é um conceito que pode ser facilmente manipulado por qualquer indivíduo que se apresente como patriota, e dessa forma até mesmo canalhas podem prosperar.
Em um nível mais profundo, a frase refere-se à tendência acentuada de que, quando confrontados, canalhas demonstrem um sentimento patriótico falso com o objetivo de atingir seus interesses.
No Brasil, o saudoso Millôr Fernandes foi adiante e modificou a frase de Johnson, o pensador inglês: “ O patriotismo é o último refúgio do canalha” ao dizer: “No Brasil, é o primeiro”.
Só isso talvez explique a incrível reviravolta da semana passada quando Bolsonaristas defendiam um bilionário estrangeiro enquanto petistas se transmutavam em árduos nacionalistas para surpresa de todos nós que até 2022 víamos a situação completamente inversa.
Da mesma forma foi estranho dessa vez assistir Lula e seus seguidores defenderem um juiz (Alexandre de Moraes) que passou a ser atacado por Bolsonaristas, justamente o inverso de2017 quando a esquerda foi amplamente contra a nomeação de Alexandre de Moraes, e em 2019 quando a mesma esquerda pedia a cabeça de Moro.
Assim como segue sendo estranho a mudança de atitude com relação a Glenn Greenwald, um dos fundadores do site Intercept e responsável por expor a estranha cumplicidade entre o juiz Sergio Moro e o ministério público naquilo que ficou conhecido como Vaza Jato. Em última instancia, foram as revelações dele que mudaram o futuro de Lula.
Na época, os ânimos estavam tão acirrados que até mesmo em Lajeado, alguns vereadores chegaram a pedir a prisão do jornalista, numa clara confusão entre jornalismo e fonte.
Para aumentar a sensação de estranheza dos tempos atuais, em especial para aqueles que estão furiosos com Elon Musk, convém lembrar que as acusações do bilionário “que nunca plantou um pé de capim no Brasil” não são novidade.
O mesmo jornalista norte-americano Glenn Greenwald divulgou em janeiro de 2023 um documento em que o ministro do STF Alexandre de Moraes ordena o bloqueio de perfis considerados extremistas em redes sociais. Segundo o mesmo “tudo deveria ser mantido em sigilo. Pela ordem de Moraes, as plataformas de internet só deveriam tirar do ar determinados perfis e fornecer os dados sobre os usuários para a Justiça brasileira, mas não poderiam dizer por que estavam fazendo isso.”
“Moraes está emitindo ordens o tempo todo e as pessoas banidas não recebem o aviso, não sabem por que estão sendo censurados e não têm nenhuma oportunidade de contestar. Não há o processo devido, algo garantido pela Constituição. O potencial perigo de abuso não está sendo percebido no Brasil…”, isso não foi dito por Musk, mas sim pelo mesmo Greenwald.
E para finalizar, é preciso que se diga que nada disso estaria acontecendo se o Senado Federal fizesse sua obrigação de fiscalizar o funcionamento do STF e se esse por sua vez respeitasse milimetricamente a constituição.
