Como iniciou a carreira de escritora?
A minha carreira como escritora iniciou oficialmente com a publicação do livro A Língua da Medusa. Mas eu acho que a gente nasce escritor e podendo se apropriar disso, que é a linguagem. A leitura é muito mais do que ler um livro. É música, é poesia, é o cotidiano, é a sutileza. É a leitura do mundo mesmo. Então tem muita coisa bonita pra gente poder olhar, pra gente narrar. O que me incentivou foi esse desejo, talvez, até de encontrar beleza em contextos em que a beleza é difícil de ser encontrada.
Como foi a escrita deste livro?
Eu fiquei cinco anos trabalhando nesses contos. São 31 contos com protagonistas mulheres em diferentes momentos da vida, em diferentes travessias da vida. Então tem um conto sobre maternidade, morte, medo, sexualidade, independência feminina, preconceito, tem um pouco de tudo, ele é bem diverso. E eu tento diversificar não só a temática, mas a linguagem também, então às vezes é mais poético, às vezes é mais direto, mais cru, depende do que cada conto pede. A aceitação foi muito boa, eu tenho ficado muito surpresa, porque é um carinho muito grande. Mulheres acabam se identificando com alguma das histórias, ou com várias, e conversam a partir do livro. Isso é legal. Eu só fiz metade do trabalho, eu só escrevi. Se o leitor não for lá, abrir e ler o livro, nada é feito. O trabalho está incompleto. Esse livro só existe porque tem muitas pessoas trabalhando para fazer isso acontecer, minhas amigas, meu companheiro e meus filhos.
O que acha que fez com que a obra fosse premiada?
Eu acho que é justamente essa diversidade de temas e de linguagem, porque é o diferencial da obra. Eu procuro também fazer narrativas que não digam mais do mesmo. Historicamente, a gente vê que a mulher é representada de uma certa forma na cultura. E eu queria mudar um pouco isso. Então eu brinco com isso. E é justamente aí que entra o olhar da Medusa, porque a Medusa era um ser solitário. Olhar para a Medusa é pensar assim ok, os olhos dela fazem virar pedra, mas e aí? O que essa mulher tem a mais? Vamos falar da língua dessas mulheres que foram caladas por tanto tempo. Mas se não fosse o apoio de outras escritoras, eu não conseguiria ser a escritora que eu sou, acho que essa força do feminino, das mulheres, eu sinto muito forte.
Já tem nos planos um novo trabalho?
Estou escrevendo um romance que é minha dissertação do mestrado em escrita criativa na UFRGS, concluo esse ano e talvez publique ano que vem. Enquanto isso, participei de antologia de contos.