Idealizador da Fundef. Um dos criadores da Unimed Vales do Taquari e Rio Pardo (Unimed/VTRP). Coordenador da antiga Delegacia Regional de Saúde – atual 16ª CRS. Vice-presidente da Fates, hoje Fuvates. Um extenso currículo com importantes contribuições à comunidade regional. Legado deixado por Wilson Dewes ao Vale e, sobretudo, à medicina.
Dewes faleceu em sua casa na noite dessa segunda-feira, 25, aos 84 anos, vítima de um infarto. Com uma trajetória médica de mais de 60 anos, ainda estava na ativa, mesmo com a idade avançada. Dividia o seu tempo entre os atendimentos na clínica que leva o próprio nome, no Centro de Lajeado, e o trabalho na Fundef.
Natural de Travesseiro e Cidadão Lajeadense, com título concedido pela câmara de vereadores em 2004, Dewes também era um apaixonado por música clássica e grande incentivador da cultura. Filho primogênito de Elsa Moschini Dewes e Bertholdo Dewes, teve quatro irmãos, foi pai, avô e bisavô. Ele deixa a esposa Lenice, os filhos Leandro, Viviane e Régis, além de seis netos.
A despedida, ocorrida ao longo da terça-feira, 26, foi marcada por homenagens de amigos, familiares, colegas de trabalho e também de ex-pacientes. Dezenas de pessoas passaram pela Loja Maçônica Acácia Negra, onde o corpo foi velado. Já o sepultamento ocorreu no Cemitério Católico do Florestal.
Pioneirismo estadual
A trajetória cinquentenária da Unimed/VTRP tem importante participação de Dewes. Em 11 de dezembro de 1971, ele estava no grupo de 49 médicos que se reuniu para a fundação da então Cooperativa de Prestação de Serviços Médicos e Hospitalares do Alto Taquari Ltda (Altomed).
Essa foi a primeira cooperativa médica do RS. Uma ideia encampada por Dewes e também por Günter Fleischhut, falecido em 2021. “Comecei a estudar sobre planos de saúde. Quando vimos uma revista que trazia o exemplo de Santos, convenci os médicos daqui a fundarmos uma cooperativa nesta área”, recordou Dewes, em entrevista ao programa “O Meu Negócio”, em 2022.
O médico era vice-presidente da extinta Sociedade de Medicina do Alto Taquari na ocasião. Em 1977, assumiu a presidência da Altomed. Seu mandato foi marcado por dois momentos importantes: a expansão para o Vale do Rio Pardo e a construção da primeira sede própria, na avenida Benjamin Constant, na esquina com a Pinheiro Machado.
O “milagre”
Entre tantos momentos importantes, o mais marcante, para Dewes, foi a criação da Fundação para Reabilitação das Deformidades Crânio-Faciais (Fundef), em 1991. Tudo começou após ele iniciar um trabalho voltado para o tratamento de crianças com fissuras labiopalatinas, com a criação de novas técnicas na área.
Os primeiros atendimentos ocorreram no consultório particular de Dewes. Com o tempo, a Fundef se tornou referência estadual e também obteve reconhecimento nacional e internacional. “Costumo dizer que a Fundef é um milagre. Surgiu porque, a cada 600 crianças nascidas no Brasil, uma nascia com deformidade na boca. O tratamento da fissura palatina é algo muito complexo e que exige algo grande”, destacou, em entrevista à Rádio A Hora, em 2022.
Presidente da Fundef, Ito Lanius conta que Dewes criou a entidade com poucos recursos, mas acreditava na importância do serviço para as crianças. “Ele sempre falava em milagre, porque devolvia o sorriso para as crianças. Mas o milagre que Deus nos deu foi ele estar na nossa comunidade”.
As cirurgias feitas na instituição eram pelas mãos dele. Mas Dewes também trabalhou de forma voluntária em outros países. Era uma pessoa visionária e mobilizava as pessoas para fazerem sempre mais. “Ele se esforçava. Na segunda de noite, pelas 21h, ele ainda teve um atendimento médico e veio a falecer um pouco depois. Tenho certeza de que está indo feliz”, diz Lanius.
Também colega de Dewes na Fundef, o diretor técnico da instituição e cirurgião Alain Viegas destaca os ensinamentos aprendidos com o médico, tanto por meio de palavras, quanto de exemplos. “Fica o nosso agradecimento e a tristeza desse momento que nos enluta. O Dr. Dewes sempre será lembrado por nós pelos seus exemplos e estará vivo em nossas memórias”.
O médico ainda apoiou o projeto do novo ambulatório da instituição, que está sendo conatruído na Univates.
Envolvimento comunitário
“Especialista em cirurgia craniofacial, empreendedor, amante das artes e da cultura, Dr. Wilson Dewes deixa um vazio na comunidade lajeadense e no Vale do Taquari. Ele será sempre lembrado pelos sorrisos que ajudou a devolver”, destaca o presidente da Fundação Univates, Ney Lazzari.
O professor reforça que, além dos avanços que trouxe para a especialidade médica, Dewes foi também um idealizador e provocador para outros projetos. A consolidação da Fundef é um exemplo, mas teve também participação em conselhos e ajudou a pensar instituições comunitárias como o Hospital Bruno Born (HBB) e Univates, sendo vice-presidente da antiga Fates nos anos 80.
Diretor do HBB, Cristiano Dickel diz que Dewes foi um exemplo de profissional e ser humano. Com um olhar carinhoso, dedicado e profissional, transformou muitos rostos em sorrisos. “Ele trouxe para muitas crianças a sua autoestima, o seu olhar, o seu sorriso. Perdemos um excelente médico mas, acima de tudo, um ser humano de coração enorme”.
O prefeito Marcelo Caumo destacou o legado deixado por Dewes. “Por meio da Fundef, ajudou milhares de pessoas, que certamente o farão lembrado por décadas. Obrigado por ter feito tanto pela nossa comunidade”.
Gratidão
Vereador de Lajeado, Marquinhos Schefer também foi se despedir de Dewes, que foi seu médico desde a infância. Ele conta que aos seis meses de vida, há cerca de 50 anos, fez a primeira cirurgia para corrigir a fissura labiopalatina, e depois passou por outros procedimentos com o médico.
“Tenho uma grande gratidão pelo doutor. É uma grande perda para a cidade, e não tenho palavras para dizer o bem e as coisas que ele fez para a comunidade. Deixou um caminho muito bonito”, afirma.
Em 2022, Wilson Dewes foi reconhecido como “Personalidade – Espírito Comunitário” em premiação do Grupo A Hora, a Top 100. Para chegar na distinção, foram ouvidos 400 formadores de opinião, selecionados a partir de 1,2 mil indicadores. Mais de 600 pessoas acompanharam a solenidade.
Exemplo familiar
Filho do cirurgião, o também médico Leandro Dewes lembra da generosidade do pai, que sempre estimulou virtudes. “Sem nunca pedir nada, ajudou a todos da forma que pôde. Uma coisa que marca muito ele é a bondade”. Leandro também diz ter afinidades com o pai, além da profissão, por meio da música, já que Dewes gostava de tocar pianos e era um entusiasta da área.
Na noite em que Dewes faleceu, o filho conta que o pai estava tranquilo. “Ele deixa muitas amizades que cultivou no meio profissional, que o viam como uma inspiração. Acho que esse é o legado que ele deixou de maior”.
Para o irmão de Wilson, Fernando Dewes, os familiares tinham o médico como referência de virtudes de amor e dedicação. “Cultivou amizades intensas e as considerava como presentes de vida. Cuidou da saúde e da autoestima de muitas pessoas, como médico e ser humano”, reforça.