Economia também é coisa de criança

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Economia também é coisa de criança

Por meio de mesadas, participação nos cálculos de orçamento familiar, ou idas aos supermercados, a educação financeira é inserida na vida dos jovens de maneira didática e os prepara para o futuro

Economia também é coisa de criança
Tatiani costuma envolver o filho Igor nas finanças de casa e vê a prática importante para o desenvolvimento dele. (Foto: BIBIANA FALEIRO)

Em um pequeno baú de madeira, Igor Arthur Beuren, de 12 anos, guarda algumas notas e moedas. Com o incentivo da família e da escola, ele aprendeu sobre a importância do dinheiro e mantém uma poupança própria também no banco, supervisionada pelos pais. Na casa dele, todos participam das finanças do mês e a educação financeira é inserida desde cedo.

Mãe de Igor, Tatiani Andrea Wunder Beuren, 44, acredita que essa relação do filho com o dinheiro seja positiva para incentivar a autonomia e a consciência sobre o tema. Ela conta que essa mudança de comportamento dentro de casa iniciou depois de Igor aprender sobre educação financeira no 5º ano do Colégio Sinodal Conventos, em Lajeado. Assim que os pais abriram a conta no banco para o filho, cada vez que o pequeno ganha algum dinheiro, o valor é depositado na poupança.

Na rotina do mês, Tatiani mostra as entradas e saídas fixas da casa e percebe bons resultados na educação do filho. “Assim, ele começou a entender que uma casa tem gastos fixos, como água, internet, escola, luz”.

Apesar de positiva, a experiência é desafiadora para os pais. Tatiani diz que algumas coisas são difíceis de explicar, como a pesquisa de preços no mercado, por exemplo. Além disso, ela conta que quando Igor quer comprar algo que os pais não concordam, ele argumenta ter dinheiro na conta e poder usar as economias para este fim.

“É um aprendizado através do exemplo, da explicação e de muita paciência. Mas espero que a sementinha da educação financeira continue dando frutos”.

Mesada educativa

Tatiani ainda pensa sobre a possibilidade de dar mesada a Igor e desafiá-lo no controle do próprio dinheiro, a exemplo de muitas famílias que consideram a prática pedagógica. Uma pesquisa da Serasa chamada “Finanças para os Filhos: Dinheiro é Coisa de Adulto?” revelou que 39% dos pais e responsáveis dão dinheiro aos filhos, como forma de mesada, e começam a ensinar como lidar com as despesas. A prática também é vista, em muitos casos, como positiva para a independência financeira dos pequenos.

A quantia é dada por mês sob algumas regras e, além da autonomia para comprar lanches na escola, por exemplo, a principal finalidade é ensinar a criança a poupar para o futuro. Por outro lado, a pesquisa mostra que 61% dos entrevistados entendem que é preciso ensinar a importância do trabalho como forma de ganhar dinheiro.

Consumo consciente

Gerente da Agência da Cooperativa de Crédito Cresol, em Lajeado, Diego Henrique Appel destaca a importância da educação financeira para crianças e jovens. “Isso contribui para um modelo de sociedade no qual as pessoas possam compreender ainda mais o papel da cooperação, uso adequado do dinheiro, consumo consciente, importância de poupar, equilíbrio e planejamento para conquistas de objetivos futuros”.
De acordo com Appel, a Cresol desenvolve os projetos “Mesadinha e sua Turma’’ e “Olhar para o Futuro’’, voltados aos colégios, em que um dos principais temas é a educação financeira.

Nas escolas

Sicredi desenvolve a Jornada da Educação Financeira nas escolas – Cooperação na Ponta do Lápis

Outro projeto semelhante é desenvolvido pela Cooperativa Sicredi. Chamado Jornada da Educação Financeira nas escolas – Cooperação na Ponta do Lápis, o programa busca nos jogos, podcasts, textos, vídeos, histórias em quadrinhos, objetos e situações cotidianas, ferramentas de construções pedagógicas a serem aplicadas em sala de aula, para aproximar o estudante da temática da educação financeira.

Assessora pedagógica do projeto, a professora Elisabete Penz Beuren, 59, é formada em Geografia, e atuou por mais de duas décadas em escolas públicas e privadas da região antes de se dedicar à iniciativa.

De acordo com a professora, desde 2018, o documento da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) traz como obrigatoriedade a educação financeira para os espaços escolares. Assim, como parte do projeto do Sicredi, ela passa a didática aos professores, para que o tema seja aplicado nas escolas.

“É um processo de formação continuada, que perpassa por metodologias de ensino e resolução de problemas. Não há uma fórmula fechada para trabalhar a educação financeira”.

Matemática e comportamento

Elisabete destaca que o programa se apoia nos conceitos das ciências comportamentais, considerando questões emocionais envolvidas na tomada de decisão e auxiliando na busca do equilíbrio financeiro. Mais de 35 mil estudantes já foram impactados pelo projeto.

De acordo com a professora, o tema ainda é um tabu na sociedade e cabe aos profissionais da educação criar pequenas mudanças de hábitos. Entre as metodologias utilizadas, ainda está a análise de orçamentos, com a ida aos supermercados para fazer pesquisa de preços de produtos. A família também agrega neste trabalho e a educação continua em casa.

Para Elisabete, os benefícios da prática são muitos. Segundo ela, a estabilidade financeira vai trazer ao jovem do futuro, bem-estar, liberdade de escolha, realização de sonhos e objetivos, aposentadoria tranquila, além de prepará-lo para imprevistos.

A professora ainda publica um podcast sobre a temática, toda segunda-feira, às 19h, chamado “Aprendendo sobre dinheiro com a profe Betinha”, que já soma mais de 200 episódios.

Vantagens de ensinar sobre finanças

  • Desenvolve a prudência em relação aos gastos;
  • Gera valorização do trabalho;
  • Propicia maior consciência social;
  • Afasta as chances de fazer dívidas no futuro.

EDUCAÇÃO ÀS CRIANÇAS

  • Converse sobre dinheiro desde cedo;
  • Dê um cofrinho e estimule que ela tenha objetivos para o dinheiro que acumula;
  • Explique porque você é pago pelo seu trabalho;
  • Estimule a criança a comprar preços antes de decidir o que quer comprar;
  • Estimule a criança a poupar;
  • Ensine a anotar e fazer gestão do dinheiro;
  • Dê autonomia, mas fique alerta com o que a criança deseja gastar;
  • Existem jogos, livros e gibis que ensinam a economizar.

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