O Dia Mundial da Água, nesta sexta-feira, 22, marca uma série de ações para melhorar a qualidade dos recursos hídricos do Vale do Taquari, com limpeza nas orlas dos rios e análise da qualidade da água da região. A data também conta com o lançamento do 2º Concurso Viver Cidades, como parte do projeto do Grupo A Hora, além de ser um dia de consciência e reflexão.
Especialistas na área ambiental afirmam que a região tem pouco a comemorar neste sentido. E os resultados das pesquisas da qualidade da água feitas pelo Laboratório Unianálises, da Univates, contratado pelo Grupo A Hora dentro do projeto Viver Cidades, comprovam essa realidade.
Com análises feitas desde 2022, o projeto entra no terceiro ciclo de coletas. Até agora, foram feitas duas análises por ano, e os resultados mostraram que a qualidade das águas dos mananciais do Vale do Taquari são ruins, muito ruins ou péssimas.
As últimas coletas foram feitas em dezembro de 2023, após as enchentes de setembro e novembro do ano passado. Profissionais do Unianálises afirmam que as características dos mananciais influenciam nos resultados. O volume, tanto maior, quanto menor, altera a diluição dos parâmetros, como coliformes termotolerantes, oxigênio dissolvido, fósforo total e outros que compõem o Índice de Qualidade da Água (IQA).
As novas amostras também serviram como comparação com as outras três etapas do projeto, e apresentaram mudanças significativas decorrentes dessas cheias, como a piora do IQA. A maior queda na qualidade da água foi na foz do Arroio do Engenho, passando da classificação ruim para péssima.
Segundo a pesquisa, no ponto 5, na foz do Arroio do Engenho em Lajeado, o índice passou de 25,39 para 15,88, em uma escala de zero a 100. Este manancial, desde o início do monitoramento, é o que apresenta a pior qualidade da água.
Também houve queda significativa no IQA da amostra da foz do Arroio Saraquá, que estava ruim (28,82) em março de 2023 e passou para péssimo (20,42) em dezembro. Os demais mananciais testados permaneceram na faixa ruim, com destaque para o Rio Forqueta, que elevou o IQA de 27,72 para 33,28.
O projeto
O projeto Viver Cidades, do Grupo A Hora, prevê, entre outras ações, o monitoramento de 23 pontos em mananciais nos municípios de Lajeado, Estrela, Cruzeiro do Sul, Teutônia, Colinas, Clara do Sul, Marques de Souza, Arroio do Meio, Encantado e Forquetinha.
O monitoramento segue em 2024, com outras duas etapas. A intenção é revelar a qualidade da água, comparar os dados das coletas e propor ações de conscientização.
Outras ações
Também para marcar o Dia Mundial da Água, no sábado, 23, centenas de voluntários participam da 17ª edição do movimento Viva o Taquari-Antas Vivo. As atividades de conscientização e educação ambiental serão organizadas em Lajeado, Estrela, Arroio do Meio, Bom Retiro do Sul, Cruzeiro do Sul, Roca Sales e Venâncio Aires. Em Lajeado, o evento ocorrem das 7h30min às 11h30min, no Parque Ney Arruda.
A prefeitura de Lajeado ainda instalou painéis educativos sobre cuidados para preservação da água ao longo da avenida Senador Alberto Pasqualini, como parte da Semana Municipal da Água.
Neste sábado, 23, Taquari também promove uma ação de limpeza das margens do rio. Os voluntários se reúnem a partir das 8h, na rampa dos barqueiros, na área de camping municipal.
2º Concurso Viver Cidades
O 2º Concurso Viver Cidades conta com desafios diferentes para estudantes do Ensino Fundamental e Médio nesta edição. Do 5º ao 9º ano, a proposta é redigir uma “Carta para o Futuro”. O eixo principal é o Rio Taquari e os alunos devem escrever sobre a situação atual e sobre como imaginam o manancial daqui a 20 anos.
Para os jovens do Ensino Médio, o desafio é gravar um vídeo com a temática “Para onde corre o Rio Taquari”. Informações sobre regulamento e inscrições serão disponibilizados no portal do Grupo A Hora, na aba Viver Cidades. A premiação supera os R$ 15 mil.
Comparativo das análises
Entrevista
Cristiano Steffens • biólogo da Global-Eco Consultoria Ambiental
“ A poluição dos recursos hídricos é um problema de saúde pública”
Quando falamos no Dia Mundial da Água, o que podemos comemorar e o que nos preocupa?
O Dia Mundial da Água é um marco importante para o planeta como um todo, porque sem água não há vida, não se produz alimentos. Mas, infelizmente, teve que se criar um dia para lembrar desse recurso natural, mesmo que a gente precise dele 365 dias no ano. Esse dia serve como reflexão. Esta é uma preocupação grande, principalmente o saneamento. O Brasil está muito longe de tratar seus recursos naturais como deveria.
Hoje, como avalia a qualidade nos rios da região?
O resultado dessas análises comprovam o triste cenário em que nos encontramos. Hoje, nossos recursos passam por um descaso completo da população e dos governantes. O ser humano sempre quer que o outro tome alguma providência e nada é feito. Reduzir o consumo de água, gerar menos efluentes, menos esgoto, porque ele não é tratado e está sendo lançado na rede fluvial, vai entrar nos nossos recursos hídricos. A poluição dos recursos hídricos é um problema de saúde pública.
Como reverter esse cenário?
O primeiro passo é evitar o lançamento desses efluentes ou tratar antes de chegar nos rios. O próprio sistema hídrico consegue se autodepurar, ou seja, restaurar suas características ambientais. Dependendo, tem que fazer uma intervenção no tratamento, pesada e onerosa. Mas a partir do momento que diminuímos a poluição, o próprio sistema vai começar a se recompor. Também é importante o papel da comunidade de gerar menos efluentes. É uma ação em conjunto.