Freud é hoje tão popular que esquecemos como foi difícil, a sua época, introduzir conceitos tão inovadores e revolucionários como ele o fez, especialmente a tripartição da psique humana em três partes: id, ego e superego.
Segundo a teoria do austríaco todos nasceríamos com um id. Ele aparece desde nosso primeiro suspiro (e talvez até antes) e nos primeiros dois anos atua como uma espécie de rei tirano, querendo satisfazer suas necessidades através da busca do prazer imediato sem medir consequências. Corresponde ao nosso lado animal.
Mais ou menos após os dois anos de idade começa a surgir o ego, uma estrutura psíquica que nos ajuda a lidar com o que percebemos do mundo exterior e também com o que sentimos. Apesar de ser uma espécie de filho do Id, o ego precisará enfrentá-lo na luta para satisfazer nossas necessidades corporais e de sobrevivência, não mais somente pelo prazer sem consequências, mas também pelo ajuste da realidade.
Dito isso, por longos dezesseis anos Freud observou que o ego era coagido muitas vezes por algo que o faz agir como se estivesse sendo censurado, observado ou criticado. Em 1907 ele menciona pela primeira vez o aparecimento de uma consciência especial, que surge devido ao recalcamento de ideias libidinosas consideradas incompatíveis com a consciência.
Essa consciência ou agente critico como também foi chamado por Freud, e que no fundo nos julga e fala conosco na terceira pessoa, são as exigências culturais, as críticas dos pais e as censuras dos educadores. No final elas se internalizam como a voz da consciência por efeito do recalcamento.
Apenas em 1923 o famoso médico daria a ela o nome de superego.
Será papel do superego pelo resto da vida enfrentar o id e o ego a fim de que não sejamos dominados pelos nossos instintos e nem movidos por objetivos puramente egoístas.
Dito isso parece obvio que a cada dia, mesmo quando estamos dormindo, essa maquinaria é posta em funcionamento. Na maior parte das vezes conseguimos ser racionais, civilizados e fazemos que dessa dinâmica entre id, ego e superego resulte a melhor escolha.
Mas há algumas exceções a esse funcionamento. Por exemplo, quando estamos em grupo.
Bion um seguidor de Freud e Melanie Klein estudou profundamente o assunto ao qual chamou de “mentalidade de grupo”. Fazem parte dele conversas fúteis, ausência de juízo crítico, situações “sobrecarregadas de emoções” a exercerem influências sobre o indivíduo estimulando as emoções independentemente do julgamento (ou seja, sem mediação adequada do superego).
Desta forma, os grupos seriam como uma moeda, que possui duas faces: uma voltada à realização dos seus objetivos e uma outra regida pelos impulsos dos seus membros, sendo que estes que se manifestariam quando se está reunido em um grupo de pessoas.
Por isso que muitas vezes quando agimos em grupo fazemos mancadas homéricas, que antigamente ficavam apenas no círculo de nossos amigos e familiares mais íntimos.
Digo antigamente porque atualmente as redes sociais se encarregam de transformar essas pequenas ou grandes idiotices do id e do superego, ora defendendo uma posição pouco racional, ora censurando de forma inadequada , em caso de vida ou morte.
E com essa nova forma de amplificação do id e do superego nem Freud contava!