Dormir bem para viver melhor

Saúde

Dormir bem para viver melhor

Na Semana do Sono, celebrada entre 11 e 17 de março, temática ganha força e especialistas destacam a importância de uma noite bem dormida para a saúde física e mental

Dormir bem para viver melhor
Vale do Taquari

As dores de cabeça constantes, o cansaço e apatia foram alguns dos motivos que levaram a moradora de Lajeado de 76 anos, que não quis se identificar, a procurar ajuda. Com quadro de depressão e ansiedade, foi durante uma crise que os médicos pediram um exame do sono e ela descobriu a apneia.

A doença é caracterizada pela interrupção do fluxo da respiração por 10 ou mais segundos durante o sono, que pode resultar em ronco, engasgos noturnos, e no acordar com a boca seca, dores de cabeça matinais, irritabilidade, agitação e sonolência excessiva diurna. A apneia está entre os distúrbios do sono mais frequentes, assim como a insônia, e coloca a importância de uma noite bem dormida em evidência.

Mais de 35 anos foi o tempo que a moradora de Lajeado lidou com as enxaquecas até descobrir o distúrbio e perceber que o sono estava ligado com seu bem-estar. Ela foi tratada por meio da utilização, toda a noite, de um aparelho respiratório chamado CPAP. E faz oito meses que sua vida tomou outro rumo.

“Acordo com mais disposição e sem aquela pressão na cabeça. Eu tinha muita sonolência, tudo foi melhorando”. Ela garante que uma mudança de hábitos também foi fundamental, com uma rotina de exercícios físicos, a terapia e medicação prescrita para combater também o diagnóstico de ansiedade e depressão. Ela também descobriu que uma coisa intensificava a outra e sua saúde melhorou.

O sono exige cuidado

Este é um exemplo dos impactos de uma noite mal dormida no organismo humano, conforme explica o neurocirurgião e neurologista, Dr. Roberto da Cunha Wagner. Pós-graduado em medicina do sono no serviço de sono do Hospital Albert Einstein, o profissional destaca que uma noite mal dormida pode ser a causa e consequência de doenças físicas, mas principalmente psiquiátricas.

“Este é um campo adubado para a depressão, para a irritabilidade, comportamento autodestrutivo e fuga para as drogas”. Ele ainda reforça que não dormir ou dormir em excesso são sintomas de praticamente todas as doenças psiquiátricas.

Segundo Wagner, o sono é dividido por estágios, e passa por um período de vigília inicial e a progressiva sonolência. À medida que o tempo passa, no estágio dois, o corpo fica relaxado e no três, entra em sono profundo.

“Esse é o sono que nos recupera e nos deixa com um despertar adequado”. O médico ainda ressalta as funções do sono REM, um estágio fundamental para que o sono seja completo. “É o momento que sonhamos, portanto, é uma fase que talvez façamos um reset na nossa memória”.

Ele ainda explica que o sono é um estado especial da consciência que existe para recuperar o corpo humano para a vigília. “Todos os animais dormem, e também as plantas, o sono é um fenômeno da natureza e que deve ser respeitado e estudado”.

Problema mundial

Médico psiquiatra, Dr. Olivan Moraes destaca que a temática é levada à sério no meio profissional e os médicos têm se preocupado com a qualidade do sono e privação do sono como uma questão de redução da saúde global.

Ele afirma que, em alguns casos, a dificuldade para dormir pode estar relacionada a doenças como a insônia, em outros, a doenças neurológicas. Da mesma forma, problemas neurológicos também podem atrapalhar o sono. “Existe, na psiquiatria e neurologia, uma ligação entre doenças psiquiátricas e distúrbios do sono, uma coisa não tratada pode levar a outra”.

Segundo o médico, o sono é diferente para cada fase da vida e, à medida que uma pessoa envelhece, ela tende a precisar de menos horas para descansar. Em média, os adultos necessitam de 7 a 9 horas de sono por dia, conforme a Associação Brasileira de Medicina do Sono (ABMS). Mas alguns se sentem bem com 6 horas por noite, enquanto outros precisam de 10 horas.

Rotina saudável

A prática regular de exercícios físicos contribue para uma boa noite de sono

A privação do sono, quando voluntária, pode trazer problemas. “A pessoa faz um cálculo de quantas horas precisa dormir, e acredita que pode dormir menos e manter o mesmo rendimento. Esse hábito que nos preocupa a longo prazo”, destaca Moraes.

Entre os fatores que interferem no tempo e qualidade do sono, está a internet e o uso das telas antes de dormir. “Essa luz direta acaba atrapalhando o sono na questão de liberação de melatonina, que é liberada com a presença de luz e isso vai atrapalhar o sono”.

Moraes ainda reforça que quem dorme mais cedo tem mais qualidade de sono. “Fisiologicamente, é importante que as primeiras horas de sono ocorram depois do entardecer, no começo da noite, que é o melhor horário”. Por outro lado, afirma que mais importante do que o horário, é a quantidade de horas dormidas, para completar todas as fases do sono.

Além disso, o sono também interfere nas funções hormonais. Conforme o médico psiquiatra, a testosterona, por exemplo, é produzida durante o sono REM, assim como outros hormônios. “Essas fases acontecem em uma sequência importante e ficam se alternando. Por isso depende não só da qualidade, mas do tempo também”.

Entre as consequências da privação do sono, ele cita a desatenção e até mesmo risco de exposição a acidentes no trânsito. Uma rotina é importante para manter a saúde do sono em dia. Além da boa alimentação e da procura por exercícios o mais cedo possível, assim como a redução de estímulos dentro de casa a partir do entardecer. Em alguns casos, o distúrbio também exige tratamento.

Insônia em 72% dos brasileiros

De acordo com estudos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), cerca de 72% dos brasileiros sofrem de distúrbios relacionados ao sono. A insônia é o mais conhecido. Ela se caracteriza pela dificuldade de iniciar o sono e mantê-lo de forma contínua durante a noite ou o ato de despertar antes do horário desejado. A condição pode estar relacionada a diversos fatores, como expectativas, problemas clínicos ou emocionais, excitação associada a determinados eventos, entre outros.

Enquanto sintoma, a insônia pode estar associada a questões psiquiátricas, como transtornos de humor, de ansiedade ou de personalidade. Em quadros mais severos, pode ocorrer em torno de três vezes por semana e persistir por três meses ou mais.

De acordo com ABS, nos casos crônicos, ela costuma ter duração média de três anos, podendo estar presente entre 56% a 74% dos pacientes no decorrer do ano, e em 46% deles de forma contínua, o que pode implicar em riscos para o desenvolvimento de outras doenças. Os especialistas ainda afirmam que uma boa noite de sono auxilia na redução de doenças cardiovasculares e diabetes, fortalecimento imunológico, entre outros benefícios.

Duração do sono, em horas, conforme a idade

Hábitos para uma boa noite

  • Ir para a cama com sono;
  • Manter uma rotina regular no horário de deitar e levantar;
  • Manter o quarto escuro e silencioso à noite;
  • Manter a temperatura do quarto confortável para iniciar e manter o sono;
  • Evitar o uso de medicações para o sono sem prescrição médica;
  • Manter os animais que atrapalham o sono fora do quarto de dormir;
  • Não usar telas, como assistir TV, smartphones, ler e-mails, 1 a 2 horas antes de dormir;
  • Evitar alimentação pesada próximo da hora de dormir;
  • Evitar o uso de bebida alcoólica e alimentos ou bebidas que contenham cafeína próximo do horário de dormir;
  • Praticar exercícios físicos regularmente, evitando os horários próximos de dormir;
  • Evitar tabagismo.

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