Anúncios ignoram setor produtivo

lula em Lajeado

Anúncios ignoram setor produtivo

Governo federal garante mais R$ 344,6 milhões e não confirma nova ajuda para empresas. Recursos serão destinados para reconstrução de estradas, pontes e residências

Anúncios ignoram setor produtivo
FOTOS: DIVULGAÇÃO
Vale do Taquari

A passagem da comitiva federal por Lajeado ficou aquém do esperado para representantes do setor produtivo e também entre prefeitos. Para simpatizantes do Partido dos Trabalhadores, a presença do presidente Lula foi motivo de festa.

Durante quase duas horas, cantos em defesa do líder máximo do partido ecoaram sobre o teatro da Univates. Quando a cerimônia começou, o clima de comício resultou em incômodo.

Agentes públicos ligados a partidos rivais do PT foram alvos de vaias. Foi o caso dos prefeitos de Lajeado, Marcelo Caumo, de Estrela, Elmar Schneider, do governador Eduardo Leite e do vice, Gabriel Souza.

“Gente, não façamos deste momento um evento partidário”, foi assim que o governador gaúcho começou sua manifestação.

“Podemos pensar de maneira diferente, mas, antes de tudo, é um momento de união para enfrentar uma crise. Não vamos dividir. Aqui há absoluta convergência. Esse Vale merece toda a atenção do governo federal, do Estado e dos municípios. Todos puxando para a reconstrução”.

As palavras de Eduardo Leite mudaram o comportamento do público. Das vaias, arrancou aplausos. No entanto, já se passavam das 17h20min. O cerimonial se encaminhava para o fim.

De prático, a comitiva federal confirmou mais R$ 344,6 milhões para 13 cidades atingidas pelas enchentes do ano passado. Nesta lista estão: Eldorado do Sul, Montenegro, Novo Hamburgo, Pelotas, Rio Grande, Santa Teresa, Venâncio Aires, Arroio do Meio, Colinas, Cruzeiro do Sul, Estrela, Muçum e Roca Sales.

Foram confirmadas mais 857 novas moradias do Minha Casa, Minha Vida. Conforme o governo, o número superou a meta inicial, de 1,5 mil habitações. No total, serão construídas 1.837, com um investimento total de R$ 195 milhões. Além disso, o repasse de R$ 128 milhões para a reconstrução de pontes e ruas em sete cidades, sendo cinco delas do Vale do Taquari. Acompanhado de uma comitiva de ministros, o presidente destacou os esforços do governo federal desde as chuvas intensas de setembro de 2023. O Vale do Taquari foi a região mais prejudicada pela catástrofe. Foram 52 pessoas mortas e ainda há cinco desaparecidas.

Prefeitos avaliam cerimônia

Mateus Trojan, Muçum
O montante de recursos para ajuda social foi saudado pelo prefeito.

“De fato, é um momento feliz para a nossa cidade. Tivemos nossos planos de trabalho aprovados e agora o anúncio oficial para as próximas etapas para reconstruir a nossa cidade. As famílias esperam por isso, de ter condições mínimas, da casa própria em uma área segura”, diz Mateus Trojan.

No ponto de vista para garantia do emprego e da renda, em termos do apoio para o setor produtivo, Trojan considera que esse assunto precisa ser retomado pelo governo federal. “Os créditos não foram suficientes. Mas tivemos também o fato do ministro Pimenta (Paulo, da Secretaria Nacional de Comunicação), ter reconhecido que ainda existem empresas que não foram atendidas por um formato com juros flexibilizados.”

“Não viemos para um comício”
Elmar Schneider, Estrela

A avaliação sobre a cerimônia é mais crítica por parte do prefeito Elmar Schneider. “Para mim, foi um equívoco manter o evento deste jeito. Deveria ter sido em duas etapas. Um institucional, para os agentes públicos, e outro partidário. Nós viemos como prefeitos, não como partidários Não viemos para um comício.”
Para ele, perguntas ficaram sem respostas. “No caso de Estrela, foram confirmadas 100 casas. Mas nosso déficit é de 300. Temos centenas de famílias em aluguel social. O que vou dizer para essas pessoas?”.

No setor produtivo, também houve lacunas, diz Schneider. “Temos empresas com dificuldades.
Que perderam muito. Vimos que as medidas do governo federal não chegaram para quem mais precisa. Nós, em Estrela, colocamos R$ 5 milhões para tentar ajudar nosso comércio. Vemos que sempre acaba recaindo nos vereadores, nos prefeitos. São eles que assumem toda a responsabilidade.”

“Festa partidária”
Marcelo Caumo, Lajeado

Visivelmente incomodado durante a cerimônia, Marcelo Caumo afirma que as vaias não foram o problema. “Eu fui em respeito às famílias que perderam as casas. As empresas que tiveram prejuízos e pararam. A expectativa era outra, não de uma festa partidária no teatro da Univates.” Para ele, há pontos soltos e que precisam de atuação do governo federal. “Não houve anúncios à iniciativa privada. Mais uma vez, saímos sem resposta. O governo federal não gera receita. Elas são produzidas nos municípios. Vão para o Estado, depois para Brasília. Depois, temos de exigir que elas retornem. Falta sensibilidade em resolver essa pauta do setor produtivo que vem se arrastando há mais de seis meses.” Conforme Caumo, o saldo foi de frustração. “Estou curioso para outras demandas, como o sistema de alerta apresentado pelo ministro Waldez (Góes, da pasta da Integração Nacional). Também não foi falado nada sobre a dragagem do Rio Taquari.”

SETOR PRODUTIVO
(total no RS)

  • BNDES: R$ 490,5 milhões
  • Pronampe: R$ 256,8 milhões
  • Produtor rural: R$ 175,6 milhões
  • Pronaf: R$ 138,7 milhões

RECURSOS DISTRIBUÍDOS

Discurso do presidente
Confira alguns pontos:

“Quando sobrevoamos o Rio Taquari de helicóptero, vemos a beleza natural da região e a força produtiva. É difícil imaginar como, de repente, uma enchente sem precedentes devastou essa área, levando tantas vidas e causando tantos danos.”

“O material vamos reconstruir. As estradas, as casas, as empresas. Mas não podemos trazer de volta as vidas perdidas.”

“No nosso governo, não olhamos para qual o partido. Não perguntamos para o prefeito, ou para o governador. Nossa obrigação, de todos juntos, governo federal, Estado e municípios, devolver para as pessoas aquilo que construíram. Vamos agir com dedicação e continuar trabalhando para reestabelecer o Vale do Taquari.”

Opinião/análise
Por Filipe Faleiro

A passagem de Lula, e a promessa de voltar

O presidente desceu do helicóptero às 15h40min no Complexo Esportivo da Univates. Sete minutos depois, entrou no teatro. Nos arredores, a maioria de apoiadores. Havia uma expectativa de protestos. Mas poucos identificados de verde e amarelo ensaiaram alguns xingamentos em meio ao deslocamento.

Dentro do Centro Cultural, sim, uma claque programada para elogiar o presidente. E digo, não há problema nisso. É parte da democracia. Vaiar ou aplaudir são dois lados da mesma moeda.
O presidente sabe disso. Adotou um discurso ameno. Apelou para os sentimentos. Relembrou suas dores e se colocou no lugar das vítimas. No fim, prometeu voltar, com mais tempo, em especial para uma festa.

No cerne do evento, a sensação é que faltou. A organização se concentrou na segurança, no cerimonial. Mas faltou conteúdo. Esse conteúdo é o dinheiro. Para um Vale que perdeu, segundo estimativas, de R$ 15 bilhões até R$ 20 bilhões, colocar mais R$ 344 milhões é tapar o sol com a peneira.

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