Queimem os livros. Uma história de hipocrisia

Opinião

Filipe Faleiro

Filipe Faleiro

Jornalista

Queimem os livros. Uma história de hipocrisia

A polêmica criada sobre a indicação do Ministério da Educação (MEC) para inclusão do livro “O Avesso da Pele” nas referências para o Ensino Médio foi um exemplo de como a guerra cultural alimentada pela polarização política no Brasil está cheia de pontas soltas.

Foi aprovado pelo MEC em 2021 e passou a fazer parte do acervo de compras para escolas em 2022. Anos do governo Bolsonaro, diga-se de passagem. De uma hora para outra, a obra de Jeferson Tenório se tornou um pária.

“Palavras de baixo calão e termos pornográficos”. Essas duas justificativas foram centrais no vídeo da diretora da Escola Estadual Ernesto Alves, em Santa Cruz do Sul. A professora classificou a obra de “nojenta” e solicitou a retirada dos 200 exemplares enviados pelo MEC para a instituição.

Essa manifestação foi um rastilho de pólvora que explodiu sobre bases ideológicas Brasil afora. Mesmo quem não leu o livro se antecipou em julgar e condenar. “O que estamos ensinando aos jovens!”, bradaram pelas redes sociais.

Fui buscar os tais termos. Nada de mais. Em determinado momento, há alguns trechos sobre uma relação inter-racial do personagem principal, um negro, com uma namorada branca.

Vamos lembrar, uma obra de literatura cumpre uma função. Não estamos falando de um livro didático, mas de um texto de ficção com elementos do real. Como dizia uma amiga, na literatura, tudo é mentira e verdade ao mesmo tempo.

Essa batalha de interpretações esconde uma hipocrisia muito grande. O livro é destinado para alunos do Ensino Médio. Vamos lá, esse pessoal está muito familiarizado com vocabulário “sujo”. Estão preparados para tanto. Mais do que isso, eles têm acesso a referências pornográficas ilimitadas na internet. Ou vai dizer que não sabia?

Os defensores da moral e dos bons costumes usam de uma narrativa frágil para tentar politizar uma compra do poder público de um livro que trata de uma família negra, com suas peculiaridades e violências sofridas. Questões muito mais relevantes na sociedade do que uma passagem sobre relações sexuais em um livro, inclusive vencedor do Prêmio Jabuti de literatura, o mais importante do país.

Você sabia

O uso do termo “guerra cultural” sugere conflito entre os valores considerados tradicionalistas ou conservadores, contra aqueles considerados progressistas ou liberais. Originou-se na década de 1920, quando os valores urbanos e rurais norte-americanos entraram em choque.

Definição na CIC-VT

A assembleia geral da Câmara da Indústria e Comércio da região (CIC-VT) está marcada para 15 março. Até lá, os líderes do setor produtivo esperam ter um nome para assumir a presidência, hoje com Ivandro Rosa, no comando desde 2020.

Adelar Steffler, presidente da associação de Arroio do Meio (Acisam), e Álex Herold, ex-presidente do grupo de Encantado (Aci-E), foram os nomes até então trabalhados. Os dois nomes hoje subiram no telhado e agora é pouco provável serem os futuros presidentes.

Pela importância que a CIC-VT alcançou nos últimos anos, seja por liderar a posição do setor empresarial durante a pandemia, por assumir a frente nas discussões sobre a infraestrutura regional, em especial devido aos planos de concessão das rodovias, o desejo é por um nome que possa manter uma dedicação presente e integral.

A ideia era achar um “reformado”, como dizem os portugueses. Algum empreendedor com vasta experiência e com menos atribuições profissionais.

Depois da euforia, o desencanto

Nessa terça-feira, a suspeita se confirmou. A duplicação de Marques de Souza a Lajeado parou de novo e pelo mesmo problema entre CCR ViaSul e Eurovias. Nunca saberemos de fato o que há no contrato entre as duas.

Para a própria ANTT, fiscalizadora dos serviços, a terceirizada não existe. Pois é a CCR ViaSul a detentora do acordo. A conversa é com a concessionária dos pedágios. Entre as duas empresas, os acertos contém um acordo de confidencialidade.

Isso deixa muitas perguntas no ar. A CCR ViaSul não está pagando? O contrato tem valores baixos e não foram reajustados? Ou o desacerto se deve ao descontentamento com o serviço prestado?

O fato é que a obra que começou com todo o gás, que elevou os ânimos da região para algo nunca visto, decaiu e agora traz à memória a tristeza de ver uma melhoria fundamental ficar parecida com o que aconteceu quando o Dnit fez o trecho de Estrela a Tabaí.

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