A administração municipal de Taquari conseguiu na Justiça a reintegração da posse do prédio da Zanc. O imóvel foi retomado pela prefeitura após ação judicial. A liminar foi deferida pela juíza de Direito, Bruna Moreira Hoff, no dia 22 de fevereiro.
Conforme o despacho, vistorias no prédio “dão conta que o mesmo encontra-se abandonado e, por decorrência lógica, verifica-se que o número de empregos que deveria ser gerado, não foi atendido. Somado a isso, comprova o Ente Público a existência de débitos fiscais da requerida, o que agrava ainda mais a situação”.
O acordo
O imóvel foi cedido pela administração municipal à empresa, que instalou negócio de call center. Antes da cedência, foi feita em 2018 uma reforma de toda a estrutura, custeada pela prefeitura no valor de cerca de R$ 9 milhões.
Em contrapartida, a empresa deveria manter 600 empregos e contratar de forma prioritária mão de obra e serviços da cidade, entre outros acordos. Se as cláusulas fossem cumpridas, o prédio poderia ser incorporado em dez anos. O número de colaboradores chegou a se aproximar de mil em outubro de 2021.
Porém ,nos últimos meses, começaram a surgir relatos de dívidas trabalhistas do empreendimento e operação com número de funcionários aquém do prometido. Os acordos firmados entre a empresa Zanc e o município viraram alvo de inquérito civil do Ministério Público. A promotoria queria saber se as cláusulas contratuais acertadas para a obtenção de benefícios por parte da empresa estavam sendo cumpridas.
Conforme citado no despacho, em junho de 2023 a empresa contava com “120 funcionários apenas, sendo 20 trabalhando presencialmente e mais 100 em regime de home-office”. Além disso, em vistorias feitas pelo setor municipal, foi verificado que a área “encontra-se em situação de abandono, degradação e depredação”, conforme fiscalização feita em 17 de janeiro de 2024.
A prefeitura também informa que existem ações judiciais em curso, de execução fiscal, ajuizadas pelo município que somam cerca de R$ 978 mil, em dívida ativa executada, fora correção e atualização monetária.
Atrasos nos pagamentos
A reportagem conversou com ex-funcionários do call center, que não quiseram se identificar. Uma moradora de Taquari diz ter valores a receber referente ao salário, vale-refeição, alcance de metas e rescisão de contrato.
“E não foi só pra mim, tem muita gente que não recebeu nada. Quem está com a causa na justiça está recebendo aos poucos”, conta.
Ela foi comunicada do desligamento em abril de 2023 por uma carta. Como estava trabalhando home office, recebeu o aviso por correspondência solicitando que ela se apresentasse na empresa para assinar os documentos. Segundo ela, em nenhum momento foi informada do motivo.
Outra ex-funcionária lembra que no início a empresa era um local bom para trabalhar, com oportunidades de emprego e que todos os pagamentos eram cumpridos nos dias acordados. Porém em agosto de 2022 começaram a perceber sinais.
“O povo começou a se apavorar. E eles não falavam nada pra gente”, lembra.
Elas lembram que por um período o sistema de softwares começou a apresentar instabilidades e a falta de luz era frequente, sendo necessário operar com geradores de energia. O despacho cita que a Zanc estava com valores em aberto em contas de energia elétrica cujo fornecimento era feito pela RGE e por isso precisou operar “por algum tempo utilizando geradores de energia a óleo”.
Em tentativas de contato com a empresa Zanc, a reportagem do Grupo A Hora não obteve retorno das ligações e mensagens.
Seminário Seráfico
O espaço onde funcionava a Zanc abrigou o Seminário Seráfico São Francisco de Assis. Construído em 1931, a antiga unidade teve foco na formação de padres franciscanos e recebia alunos de todo o Estado. Funcionou até a década de 1980.
Na década de 2000 passou a ser a sede do Instituto de Pesquisa, Educação e Desenvolvimento do Cooperativismo (Idesc). A intenção era colocar em prática um projeto para transformá-lo em um polo de educação, mas a proposta não vingou e o prédio foi devolvido por meio de uma decisão judicial.
Com o abandono, o espaço virou refúgio para usuários de drogas e moradores de rua até ser reformado.