Pais se manifestam contra leitura do livro “O avesso da pele”

EDUCAÇÃO E CULTURA

Pais se manifestam contra leitura do livro “O avesso da pele”

Obra de Jeferson Tenório aborda o racismo estrutural e está na lista do MEC. Famílias são contra a exposição dos alunos ao livro, e citam a linguagem “vulgar” e “chula”

Pais se manifestam contra leitura do livro “O avesso da pele”
O livro está incluso no Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), que compra e distribui obras didáticas e literárias para escolas públicas do país. (Foto: divulgação)
Lajeado

A leitura do livro brasieliro “O avesso da pele”, do escritor Jeferson Tenório, como obra obrigatória no Ensino Médio das escolas gera revolta das famílias. Nesta semana, depois do movimento já percebido em Santa Cruz do Sul, pais de estudantes do Colégio Evangélico Alberto Torres (Ceat) também se manifestaram em Lajeado.

Os familiares defendem que a obra apresenta conteúdo sexual explícito e “pesado”, em especial, pela linguagem utilizada, e que não gostariam que os filhos tivessem contato com a obra. Alguns pais ainda afirmam que o vocabulário utilizado no livro é “vulgar” e “chulo”.

Por outro lado, entendem que os jovens, hoje, têm acesso a filmes e séries com cenas e linguagens ainda piores. Por isso, vêem a necessidade de dialogar sobre o que as crianças e adolescentes consomem.

O livro está incluso no Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), que compra e distribui obras didáticas e literárias para escolas públicas do país. No programa, editoras inscrevem obras e são avaliadas por especialistas da banca do Ministério da Educação (MEC) para que os diretores de escolas escolham as obras.

Em nota, o MEC afirma que a permanência no programa é voluntária e que “as escolas podem escolher de forma democrática os materiais que mais se adequam à sua realidade pedagógica, tendo como diretriz o respeito ao pluralismo de concepções pedagógicas”.

Polêmica em Santa Cruz do Sul

A polêmica em Lajeado surgiu após as manifestações de uma escola de Santa Cruz do Sul. A diretora da Escola Estadual Ernesto Alves de Oliveira, Janaína Venzon, expressou críticas ao governo federal por enviar a obra literária às escolas, alegando que o livro possui “vocabulários de baixo nível” e questionando a escolha do governo em disponibilizá-lo para alunos do Ensino Médio.

Em um vídeo divulgado, Janaína classificou a obra como “nojenta” e solicitou que o Ministério da Educação (MEC) recolhesse os 200 exemplares enviados à instituição. Ela destacou que os professores e a escola não tiveram participação na escolha da obra, que foi determinada pelo MEC.

Em resposta, o MEC contradisse a versão da diretora, esclarecendo que o romance está incluído no Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) desde 2022, durante a gestão anterior. Além disso, afirmou que as obras são enviadas apenas por solicitação dos educadores e das escolas, garantindo o caráter democrático na escolha dos materiais didáticos para serem trabalhados em aula.

A Secretaria da Educação do Rio Grande do Sul (Seduc) ordenou a suspensão da retirada dos livros das bibliotecas das escolas estaduais da região de Santa Cruz do Sul, após uma orientação inicial da 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) para recolher o romance.

Em meio a essas declarações, a diretora da escola, Janaína Venzon, voltou a se manifestar. Afirmou que não estava censurando o livro e que seus questionamentos foram distorcidos.


O que diz o autor

O autor Jeferson Tenório e a editora Companhia das Letras, responsáveis pela publicação do livro vencedor do Prêmio Jabuti em 2021, também se manifestaram contra o que foi chamado de “censura”. Em suas redes sociais, ele diz: “Não vamos aceitar qualquer tipo de censura ou movimentos autoritários que prejudiquem estudantes de ler e refletir sobre a sociedade em que vivemos”.


Sobre a obra

“O avesso da pele” se passa em Porto Alegre, nos anos de 1980, e conta a história de Pedro, filho de um professor de literatura assassinado em uma desastrosa abordagem policial. Após o episódio, ele inicia uma investigação sobre suas origens, o passado de sua família e a trajetória do pai.

O livro aborda o racismo de maneira profunda. O autor, Jeferson Tenório, usa a narrativa para expor agressões sofridas pela família negra, mostrando que o racismo na sociedade vai além das grandes violências, mas também em detalhes do cotidiano.

A obra vai além da discussão sobre cor da pele. A narrativa explora questões subjetivas, tanto da vida familiar, como de relações inter-raciais do personagem principal.

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