Dez painelistas, quatro horas de duração e várias reflexões. O seminário sobre enchentes realizado em Muçum no sábado, 17, trouxe importantes e necessárias provocações à população presente e, principalmente, às autoridades responsáveis por liderar ações e estratégias de prevenção aos futuros desastres naturais. Acompanhei os painéis e compartilho com os leitores alguns tópicos.
- O professor Masato Kobiyama chegou discreto, como bom japonês, mas na hora de falar misturou humor com coisa séria. E põe séria nisso! A começar pela definição de que “lugar bonito, é lugar perigoso”, ao se referir às características geográficas do nosso deslumbrante Vale do Taquari e ao perigo crescente de deslizamentos em montanhas e encostas devido à ocupação dessas áreas por habitações. “Vocês devem se preocupar com a inundação, mas não esqueçam dos deslizamentos. Os dois ocorrem com chuva”, enfatizou. Aliás, ainda em 2011, o Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM) iniciou estudos em Encantado para identificar os locais com maior risco de desastres. Outros levantamentos também tiveram continuidade anos depois em municípios da região. É fundamental que os agentes públicos não se esqueçam disso!
- Kobiyama, que é integrante do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS, também foi objetivo ao afirmar que obras estruturais, como diques, por exemplo, não resolvem o problema das inundações. “Isso é enganação”. Para o japonês, educação e treinamento dos cidadãos sobre técnicas de evacuação salvam vidas. Ele usou como exemplo o tsunami que atingiu Fukushima, no Japão, em 2011, quando morreram 17 mil pessoas. “Só morreram 17 mil porque a população estava treinada”, observou.
- Os três estados do Sul do país estão no centro de preocupantes eventos climáticos nos próximos anos, segundo o professor convidado, Walter Collishonn (foto), com base em estudos do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS. Já a engenheira ambiental Sofia Royer Moraes explicou que fatores como o aquecimento global e os fenômenos climáticos El Niño e La Niña cada vez mais impactarão no comportamento extremo do clima.
- Doutor em recursos hídricos e saneamento ambiental pela UFRGS, Collishonn fez uma apresentação exemplar, ilustrativa, didática, de fácil entendimento. Interessante quando representou no telão a quantidade de galões de 20 litros que seriam necessários para recolher os mais de 250 milímetros de chuva dos dias 3 e 4 de setembro de 2023 que caíram nas cabeceiras dos rios Guaporé, Prata, Carrero e Antas. “Esses galões colocados lado a lado preencheriam uma área que iria de Muçum a Passo Fundo, a São José dos Ausentes e a Vacaria”, exemplificou.
- Embora tenha reforçado que as barragens da Companhia Energética Rio das Antas (CERAN) não tenham influenciado na elevação do Rio Taquari na grande enchente, Collishonn fez cobranças duras à companhia pela falta de transparência nas informações à população. Aliás, representantes da CERAN foram convidados para o seminário, mas não compareceram, apesar da insistência do prefeito Mateus Trojan nos contatos.
- Medidas para ampliar a calha do rio, como a dragagem, podem diminuir, mas não impedir as cheias, na visão de Collishonn. E aqui ele faz um alerta: (igual fez o engenheiro ambiental Daniel Schmitz em outra oportunidade, em entrevista à Rádio A Hora 102,9): a dragagem pode melhorar a situação em Encantado, mas piorar em Lajeado. Ou seja, transfere o problema para a jusante. Nesse sentido, reforça o pesquisador, esse tipo de obra deve ser analisado do ponto de vista regional e não local, além de exigir altos investimentos.
- A Defesa Civil do RS foi alvo de críticas mais contundentes durante o seminário, sobretudo, pelos avisos imprecisos emitidos nas horas que antecederam a enchente de setembro. O professor Collishonn chegou a mostrar no telão o alerta divulgado pela Defesa Civil no dia 4 de setembro de 2023, cujo texto informativo foi idêntico ao encaminhado em 13 de julho do mesmo ano, quando não ocorreram inundações. “Foram alertas vagos e imprecisos. Falta nesse sistema uma especificidade maior”, observou.
EU PERGUNTO!
Se pudesse falar, o que diria a gravata amarela do vereador Marino Deves (PP)?
A foto, registrada no dia 1ª de fevereiro, quando da retomada dos trabalhos no legislativo encantadense após o recesso, foi publicada pela vereadora Andresa de Souza/Yê (MDB) em seu Instagram nesta semana, com os dizeres “Compromisso com Encantado”. O vereador Duda do Táxi (MDB) também aparece.
Eleições em Muçum: Disputa entre Mateus Trojan e Alex Colossi deve se repetir
O que era para ser apenas uma reunião de mobilização do grupo político liderado pelo prefeito Mateus Trojan, terminou com o surpreendente anúncio de que ele é pré-candidato à reeleição em outubro. E mais, Trojan não abre mão de ter outra vez ao seu lado o atual vice-prefeito Amarildo Baldasso (PSD), colocando um ponto final nos comentários de que a dupla poderia se afastar. O encontro reuniu cerca de 150 pessoas na noite de terça-feira, 20, no Restaurante Prato Pronto, no Bairro Guaporé. O jovem emedebista confessou que, nos últimos meses, a sequência de situações adversas e desafiadoras, como os altos precatórios, a pandemia, os surtos de dengue e as enchentes catastróficas, chegou a balançar sua vontade de disputar a reeleição.
Por outro lado, o PSDB, sigla da oposição, confirma o nome de Alex Colossi como pré-candidato a prefeito. Nas eleições de 2020, o tucano havia perdido para Trojan. Segundo o presidente do partido, Renato Berté, Colossi hoje é a melhor pessoa para administrar o município. “Não tem rabo preso com ninguém, não favorece A ou B”, argumenta, ao mesmo tempo que garante que o PSDB está aberto a negociações com todos os grupos políticos. “Sei que há partidos rachados em Muçum. Estamos abertos a negociar e fazer o projeto que mais beneficie o município. O ideal é muito trabalho e menos conversa”, comenta. Segundo o líder tucano, já há uma lista com 10 pré-candidatos a vereador, com possibilidade de pelo menos três vagas serem preenchidas por mulheres.
BASTIDORES
- O seminário sobre enchentes realizado em Muçum repercutiu na sessão da Câmara de Encantado desta semana. Os vereadores do PP, Diego Pretto e Valdecir Cardoso, também se impressionaram com as palavras do professor Masato sobre os riscos de deslizamentos.
- Atingida pelas duas grandes enchentes do ano passado, a Clínica PA+ 24 Horas, hoje instalada na Rua Duque de Caxias, será transferida para uma sala na Rua Júlio de Castilhos, em frente ao hospital. Ah, e do outro lado da rua, na esquina com a Guerino Lucca, o Restaurante Vênetto abriu as portas há algumas semanas, em novo e agradável ambiente.
- A suplente de vereadora do PSDB de Encantado, Daiane Bergamaschi, garante que é pré-candidata no pleito de outubro. Ao ser questionada por qual partido, ela apenas sorri. A ex-rainha, que ganhou visibilidade política por meio do falecido prefeito Adroaldo Conzatti, atua em parceria com o deputado federal Ubiratan Sanderson (PL) e tem articulado a conquista de emendas parlamentares para o município. Volta e meia, ela também recebe elogios de outros grupos políticos encantadenses. Ah, e semana que vem Daiane se desliga das funções de nutricionista do CRAS. Ela já comunicou o secretário de Assistência Social e Habitação, Fabiano Lemos, sobre sua decisão.