Ano novo, velha discussão

Opinião

Ezequiel Neitzke

Ezequiel Neitzke

Jornalista

Coluna esportiva

Ano novo, velha discussão

Dizem que o ano realmente inicia após o Carnaval, mas em 2024, com a festa chegando cedo, muitas competições esportivas iniciam a partir deste momento. No entanto, é evidente que teremos menos eventos do que nos anos anteriores. Competições tradicionais, como os campeonatos municipais de Encantado e Bom Retiro do Sul, correm o risco de não acontecer. Até mesmo a Taça Integração, envolvendo clubes de várias cidades, foi cancelada. Mas, por que esse declínio está ocorrendo?

No meu ponto de vista, os motivos são diversos e interligados.

Em primeiro lugar, há uma clara falta de renovação entre os envolvidos na organização do futebol em nossas comunidades. Muitos dos “abridores de tampinha” estão na função há mais de duas décadas e, compreensivelmente, estão cansados. Os jovens, por sua vez, estão deixando as comunidades, e aqueles que permanecem não têm interesse em assumir esse compromisso.

Além disso, o aspecto financeiro também é um grande obstáculo. Há jogadores que mal conseguem controlar a bola e ainda assim recebem até R$ 200 por partida. Enquanto isso, os verdadeiros talentos da região, inclusive alguns campeões de competições regionais passadas, estão preferindo trabalhos que oferecem remuneração de mais de R$ 500 por jogo. Essa é uma situação que dificilmente mudará, pois enquanto houver jogadores dispostos a receber, haverá dirigentes dispostos a pagar.

Há também o caso dos times que só entram em uma competição querendo ganhar, ser o campeão, se não for assim, não jogam. Participar por participar, para movimentar a comunidade, isso pouco se vê.

Um outro fato é que o “zé da esquina”, aquele jogador considerado de grupo, que em outros anos era bastante requisitado pois se fazia presente em todos os jogos. Esse cara hoje só serve para trabalhar na comunidade dentro de campo como maqueiro, massagista, mesário, ou fora dele na copa/cozinha e na cobrança de ingresso.

Os jovens que saem da escolinha também não ganham sequência. Eles são mais importantes para recolher as bolas e tietar os atletas de fora, esses que vem tirar o dinheiro das comunidades para gastar em suas regiões.

Por fim, em muitos casos, a falta de apoio organizacional também contribui para o declínio das competições. Gestores municipais muitas vezes demonstram pouco interesse em auxiliar no custeio das despesas com árbitros e transporte, o que acaba por inviabilizar a realização dos eventos.

Diante desses desafios, é fundamental repensar a estrutura e o modelo de gestão dessas competições esportivas. A renovação das comunidades, a revisão das políticas de remuneração dos jogadores e um maior envolvimento das autoridades locais são passos essenciais para garantir a continuidade e o sucesso do futebol amador em nossas comunidades. Enquanto isso não acontecer, o risco de vermos mais competições canceladas ou enfraquecidas continuará sendo uma triste realidade.

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