Em 1513, Nicolau Maquiavel escreveu em sua obra “O Príncipe”: “O quão louvável é um príncipe que honre a sua palavra de uma forma íntegra, cada qual o compreenderá. Todavia, a experiência nos faz ver, nestes nossos tempos, os príncipes que mais se destacam pouco se preocupam em honrar as suas promessas; que além disso, eles souberam, com astúcia, ludibriar a opinião pública; e, que por fim, ainda lograram vantagens sobre aqueles que basearam a sua conduta na lealdade.”
Pois bem, na última eleição presidencial brasileira havia uma preocupação com as práticas pouco republicanas de um agrupamento político suprapartidário chamado de “Centrão”:
“Eu vou ganhar a eleição, vou pegar o orçamento e ver o que a gente consegue diminuir o poder de sequestro que o Centrão fez no governo Bolsonaro.”
Havia também preocupação com graves episódios de corrupção ocorridos em governos anteriores:
“Não disse que não houve roubalheira, porque as pessoas confessaram. Quando o cara confessa o crime é porque ele cometeu o crime. Que houve roubo na Petrobras, pode ter havido. O que eu quero dizer é que para combater a corrupção você não precisa quebrar as empresas.”
Por outro lado, foi semeada a expectativa de que a mão pesada do Estado seria aliviada sobre a renda dos que ganham menos:
“É preciso de uma política tributária progressiva. Quem ganha mais, paga mais. Por isso, estamos propondo isenção do imposto de renda até R$ 5 mil.”
Após o governo anterior ter tido uma clara confrontação com o STF, inclusive balançando os pilares da democracia, foi interessante ver lembrado o saudável distanciamento que deve ocorrer entre os poderes:
“Eu estou convencido que tentar mexer na Suprema Corte para colocar amigo, para colocar companheiro, para colocar partidário, é um atraso, é um retrocesso que a república brasileira já conhece, já conhece muito bem, e eu sou contra.”(…) “não é prudente, não é democrático, um presidente da república querer ter os ministros da Suprema Corte como amigos”.
Voltemos a Maquiavel: “A um príncipe, portanto, não é necessário que, de fato, possua todas as sobreditas qualidades; é necessário, porém, e muito, que ele pareça possuí-las. “No mundo da política, parecer, por vezes é mais importante que ser, e isso faz parte do jogo da sedução para angariar eleitores. Ao final do primeiro ano de governo é natural que algumas promessas ainda não tenham sido cumpridas. Mas já está bem claro que no quesito divisão dos poderes muita coisa mudou entre o Brasil de 2002 e o Brasil de 2024.