Para contar a trajetória do advogado Gustavo Mezzomo, 40, é obrigatório lembrar a infância. Aos sete anos, Guto, como é conhecido, sofreu um choque elétrico ao encostar uma barra de ferro na rede de alta tensão e precisou amputar parte dos braços. Ele estava na obra de construção do hotel da família, o Hengu, quando foi atingido por uma descarga elétrica de aproximadamente 40 mil volts e por sorte não morreu.
“Foi no dia 1º de agosto de 1991. Dei entrada no hospital de Encantado e depois fui transferido para o Pronto-Socorro de Porto Alegre, onde fiquei 33 dias internado. Os braços foram amputados no 13º dia, porque os médicos ainda tentaram salvar o máximo possível os membros”, relata Gustavo, que naquele período estava na primeira série do Colégio São José, em Roca Sales. “Quando voltei para casa, todos os colegas vieram me visitar. Como não pude retomar os estudos no segundo semestre, a direção da escola decidiu me passar para o segundo ano para não perder o vínculo com os colegas”.
Ao longo do tempo, o encantadense procurou levar a vida com independência. “Sempre tive uma rotina normal, com algumas dificuldades pontuais, mas superando. Agradeço pela vida, por sobreviver ao acidente. Minha família e meus pais foram fundamentais para superar esse trauma. Todos me tratam como uma pessoa normal”, conta.
A opção pelo Direito surgiu ainda no ensino médio após participar dos ‘testes vocacionais’. Ele formou-se pela Univates em 2007 e, ainda na faculdade, em meio ao estágio no Ministério Público de Encantado, traçou como meta a aprovação em concursos públicos. “Estava na graduação quando fui aprovado para o Tribunal de Justiça do Estado e tive a sorte de poder escolher trabalhar na Comarca de Encantado. Fiquei cinco anos como oficial escrevente. Depois passei para a Justiça Federal, mas recusei”, ressalta. Aqui, ele já estava decidido a abandonar a carreira de servidor público para se dedicar à advocacia. “Eu tinha 30 anos. Foi uma decisão difícil. Muitas pessoas sonham com a estabilidade. Mas aquela situação me limitava muito. Não me arrependo, pois me encontrei na advocacia”, admite.
Em 2024, o escritório Mezzomo Advogados completa 10 anos de atuação na região alta do Vale do Taquari. “É algo que me dá satisfação e motivação todos os dias, de acordar e vir para o escritório. A gente tem o orgulho de poder, por meio do nosso trabalho, que também é um exercício da função social, alcançar o direito para as pessoas”, acrescenta Gustavo, que buscou especialização em Direito Público e hoje também presta assessoria jurídica a prefeituras da região, entre elas, Arvorezinha e Anta Gorda, além da Câmara de Vereadores de Roca Sales.
Para o futuro, Gustavo, que é casado com a psicopedagoga Diole Maísa de Siqueira, busca a consolidação do escritório e acredita na sucessão familiar. “Meu filho Lucas tem 18 anos e já sinalizou a vontade de trabalhar no escritório. Já a Lavínia, de 5 anos, brinca que quer ser médica”, acrescenta.