Os caminhos que se bifurcam

Opinião

Marcos Frank

Marcos Frank

Médico neurocirurgião

Colunista

Os caminhos que se bifurcam

“Deixe que os outros se vangloriem de todas as paginas que escreveram. Prefiro me vangloriar de todas as páginas que li”. Jorge Luís Borges.

Fazem 100 anos do lançamento do primeiro livro daquele que é considerado o maior escritor latino americano. Jorge Luís Borges nasceu em 1899 e com 24 anos publicou seu primeiro livro de poesias.

Ele foi educado em um ambiente familiar de letrados, os quais costumavam se reunir na casa de seus pais, em Palermo, nas noites de domingo. Cresceu falando inglês e espanhol em Buenos Aires. Aos nove anos traduziu para o espanhol “O Príncipe Feliz”, a história para crianças de Oscar Wilde.

Com 11 anos já lia Shakespeare, no original, parte de sua educação bilíngue. Em casa, convivia com a biblioteca de mais de mil volumes, do pai. “A literatura é uma forma de felicidade”, diria ele mais tarde.

Em 1914, no começo da Primeira Guerra, Borges foi com a família morar em Genebra, onde passou dez anos. Foi lá que publicou os primeiros poemas em espanhol em 1923. Mais tarde, em 1945, escreveu sua obra prima, o conto El Aleph onde, num degrau de escada de um porão, o personagem principal da história, o poeta Daneri (uma mescla de Dante+Aligheri) descobre o infinito, a fonte de toda inspiração no universo: “A verdadeira história não é o que aconteceu, é o que pensamos que aconteceu.”

Com sua obra, Borges acaba construindo um intrincado labirinto que obriga a voltas imaginárias e passeios arriscados. Para ser latino, seguindo os passos de Borges, é preciso ser universal. Em resumo, para entender Borges é necessário bagagem cultural para entender o que ele escrevia, e que modernamente chamamos de intertexto. “Não tenho certeza se de fato existo. Sou todos os escritores que li, todas as pessoas que conheci, todas as mulheres que amei, todas as cidades que visitei…”

Sempre discreto em sua vida pessoal, assim ele tentava se definir: “O tempo é a substância da qual sou feito. O tempo é um rio que me arrebata; mas eu sou o rio. Tempo é o tigre que me destrói; mas eu sou o tigre. Tempo é o fogo que me consome; mas eu sou o fogo.”

Sobre sua profissão escreveu o seguinte: “De todos os instrumentos, o mais maravilhoso de todos é o livro. Os outros instrumentos são extensões do corpo. O microscópio e o telescópio são uma extensão da visão. O telefone é uma extensão da voz e da audição. A pá e a enxada são extensão dos braços. O livro é uma coisa completamente diferente: é uma extensão da memória e da imaginação.”

Em 1950 Borges, com 51 anos de idade, fica completamente cego e escreve um triste poema: “Ninguém rebaixe com lágrimas ou censuras esta declaração do poder de Deus, que com magnífica ironia,me deu de uma só vez os livros e a noite (a cegueira).”

Borges Faleceu no dia 14 de junho de 1986 em Genebra, cidade de sua primeira juventude, sem ter deixado filhos: “Quando os escritores morrem eles se transformam em livros – o que me parece uma reencarnação nada má.”

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