Vale eleva tom de críticas contra a RGE

CAOS E DESCASO

Vale eleva tom de críticas contra a RGE

Prejuízos no campo e na cidade. Morte de animais. Famílias sofrem com a falta de energia elétrica em diversos pontos da região. Falhas no abastecimento e falta de agilidade na retomada do serviço geram reações de gestores públicos e entidades. Pressões à concessionária são recorrentes nos últimos anos

Vale eleva tom de críticas contra a RGE
Em Arroio do Meio, dez famílias permaneciam desabastecidas na manhã de ontem. (Foto: Gabriel Santos)
Vale do Taquari

“Temos crianças pequenas. Estamos perdendo alimentos e o problema persiste sem solução”. O relato, de Cristiano Lemes Guerra, de Arroio do Meio, dá conta do drama enfrentado por centenas de famílias desde o vendaval do último domingo, 14. A falta de energia elétrica e os prejuízos, somados à dificuldade para contato com a concessionária responsável, criam um cenário caótico.

Não é de hoje que o Vale enfrenta problemas com as falhas na prestação do serviço, sobretudo na área de cobertura da RGE. A cada ano, as reclamações se repetem, ainda que a empresa tenha executado melhorias nas redes de energia recentemente. Por isso, líderes regionais e entidades pretendem novamente pressionar por investimentos a curto, médio e longo prazo.

A primeira mobilização mais efetiva deve partir dos prefeitos. Ainda esta semana, a Associação dos Municípios do Vale do Taquari (Amvat) reunirá a diretoria para discutir ações. A ideia, segundo o presidente Jarbas da Rosa, também prefeito de Venâncio Aires, é buscar uma audiência com a RGE em fevereiro.

“Agora é hora de retomar esses debates com as concessionárias, de forma global. Primeiro, queremos um trabalho de prevenção concreto com relação a árvores e galhos. E, depois, ações de respostas imediatas, com atuação de equipes especializadas para a região quando ocorrem esses fenômenos”, elenca Rosa, que deseja colocar a Amvat como protagonista nas discussões.

Novo enfrentamento

Presidente do Conselho de Desenvolvimento do Vale do Taquari (Codevat), Luciano Moresco participou de forma ativa, em 2022, da mobilização que resultou na apresentação de um amplo pacote de investimentos por parte da RGE. Lembra que, na ocasião, houve avanços importantes, mas entende ser necessário um novo movimento da sociedade.

“Passamos todo 2022 recebendo informações sobre o avanço dos investimentos e onde aconteciam. Mas agora, com eventos climáticos recentes mais robustos, surgem novos pontos críticos a serem melhorados. Em cima disso, conversei com o Ivandro (Rosa, presidente da CIC-VT) e comentei com ele da necessidade de retomarmos esse movimento”, frisa.

A estratégia, para Moresco, deve seguir o exemplo de dois anos atrás, quando o grupo buscou apoio do Ministério Público. “Quando se colocou a figura do procurador-geral, deu outro peso ao enfrentamento. Pedimos uma audiência com urgência e vamos encaminhar e-mails para todas as prefeituras do Vale para que informem os problemas com energia elétrica, seguindo um modelo que deu certo naquela ocasião”.

Prejuízos às empresas

No campo econômico, quedas de energia elétrica também representam um baque para municípios e empresas. A Hassmann, de Imigrante, ficou sem luz por 18 horas, entre o fim da tarde de domingo e a manhã de segunda-feira. Devido a queda de um galho de árvore, houve o rompimento de um fio, ocasionando o apagão.

“Por falta de manutenção na rede, falta de podas e postes ruins, seguimos tendo problemas. E a enchente piorou muito a situação da rede de energia”, comenta o gerente comercial da empresa, Augusto Hassmann.

Segundo ele, a empresa fica “de mãos amarradas” em episódios como este e esperam por soluções imediatas da concessionária. “Não temos o que fazer a não ser reclamar. Não há uma outra opção de energia para nós”.

Atual presidente da Associação Comercial e Industrial de Encantado (ACI-E), Angelo Fontana defende um trabalho conjunto entre entidades, prefeitos e comunidade na cobrança à RGE por melhorias. “O diálogo é o melhor caminho para se conquistar estabilidade nas deficiências no atendimento”.

ROCA SALES

Conforme Leonara, o bairro Cidade Nova é uma das localidades onde mais demora para retornar a energia. (Foto: Brayan Bicca)

Cerca de 20 moradores da Rua João Neumann, no bairro Cidade Nova, ainda se encontravam sem energia elétrica às 15h de ontem. Situação semelhante também ocorria na Linha Benjamin Constant, Borges de Medeiros, Parobé e Bento Gonçalves.
A família da professora Leonara Pires Giongo, 47, é um dos exemplos. Desde às 18h do domingo, 14, estavam no escuro. “Não obtivemos nenhuma resposta da RGE, ou mesmo da prefeitura. Aqui no nosso bairro sempre demora mais que o normal para reestabelecer a energia.

Moro aqui há mais de 20 anos e sempre que ocorre um problema, leva dias para resolver”, lamenta.
Os prejuízos com as quase 48h sem luz variam do desconforto com o calor para o estrago dos alimentos contidos na geladeira e freezer. “Não temos uma água gelada para tomar, não podemos lavar roupa e tive que levar tudo que conseguia de comida para a casa de uma vizinha. O que eu não pude levar, estragou”.

ARROIO DO MEIO

Guerra vê produtos estragarem na geladeira após tanto tempo sem luz. (Foto: Gabriel Santos)

Moradores de Forqueta, no interior de Arroio do Meio, enfrentam uma crise energética que já perdura por 36 horas e cerca de dez famílias completamente desabastecidas. É o caso da família de Cristiano Lemes Guerra.
A falta de energia também impacta o abastecimento de água para aproximadamente 500 moradores. Devido à ausência de eletricidade, as bombas não conseguem operar, resultando escassez aos reservatórios. Para contornar a situação e garantir água para os residentes e os 70 quilômetros de rede, um trator foi acoplado a um gerador.
Descontente com a situação, o prefeito Danilo Bruxel sobe o tom contra a concessionária. “Não dá para admitir que essas famílias e produtores fiquem tanto tempo sem energia. Estamos buscando reunião para entender o que está acontecendo. É preciso mais agilidade no atendimento, sobretudo onde há mais necessidade”.

ESTRELA

Heirmann lamenta perdas no aviário após interrupção do serviço. (Foto: Karine Pinheiro)

Morador de Linha Geraldo Baixa, Elton Heirmann é um dos vários produtores rurais prejudicados com as falhas no abastecimento de energia no município. Foi cerca de um dia sem luz, entre segunda-feira e ontem a tarde, quando retornou. Diversos protocolos foram feitos na RGE para comunicar a falta de energia.
“Consegui ligar para o 0800 até que uma pessoa me atendeu, pois antes eram só ligações gravadas. Expliquei a situação e o atendente disse que havia muita demanda, e que ficaria marcado o atendimento para a primeira hora da manhã, o que não ocorreu. E o nosso frango sofrendo. Muitos já morreram. Foram 272 hoje (ontem), destaca.

LAJEADO

Quase 28 horas sem energia elétrica. Esse foi o drama enfrentado por Gustavo Agnes, morador do bairro Hidráulica. Para ele, houve descaso por parte da concessionária. Frisa que entrou em contato com a RGE ainda no domingo e deram um prazo para retorno do abastecimento na madrugada.
“Depois, mudaram o prazo para as 17h de segunda-feira e nada aconteceu. Depois, passou para 20h40min. Só depois disso que o problema foi solucionado, quando uma equipe veio até o local resolver o problema. Houve uma falha de comunicação, pois me informaram que não havia sido comunicada falta de luz aqui”, comenta.

160 mil clientes afetados

  • Procurada, a RGE informa em nota que, no pico do temporal, domingo à noite, 160 mil clientes ficaram sem energia elétrica .Até ontem à tarde, o fornecimento havia sido normalizado para 148,4 mil clientes (92,75%) no RS;
  • A maioria dos clientes afetados está nas regiões do Vale do Sinos, Vale do Taquari e Serra Gaúcha. A RGE alerta que a população deve ficar longe de fios partidos ou galhos de árvores que estejam caídos sobre a rede elétrica.;
  • A concessionária promete finalizar o trabalho “no menor prazo possível”, mas não informou sobre obras e investimentos em execução na região;
  • Também procurada pela reportagem, a Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (Agergs) afirma, sem maiores detalhes, que acompanha a situação da falta de energia no RS.

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