Mais de 2 mil famílias esperam por moradias

RESQUÍCIOS DA TRAGÉDIA

Mais de 2 mil famílias esperam por moradias

Passados quatro meses da catástrofe de setembro, dez municípios estruturam projetos para sanar o déficit habitacional. Governo federal autoriza 592 unidades por meio do Minha Casa Minha Vida

Mais de 2 mil famílias esperam por moradias
Vale do Taquari

“Eu perdi tudo. Não tenho mais nenhum móvel, a casa ainda está suja, um caco. Não tem como entrar, a parede do quarto caiu e todas as roupas que tenho foram doadas”. As palavras do aposentado de Lajeado, Sérgio de Moura, são um resumo do que famílias atingidas pelas enchentes de setembro e novembro enfrentam.

Morador da rua Carlos Spohr Filho, ele é conhecido como Miquimba. Sem moradia, precisou ficar na casa de familiares, no bairro Santo Antônio. Nesta semana, foi internado no Hospital Bruno Born devido a complicações de saúde. Encaminhou a solicitação de aluguel social ao município, mas com o quadro clínico fragilizado, encontra dificuldade em procurar algum imóvel.

Conforme relatório da Universidade Federal do RS (Ufrgs), feito pela equipe técnica do Grupo de Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos (Gespla), pelo menos dez mil residências foram atingidas pela água, das quais duas mil com coluna de água acima dos três metros.

Das que não foram levadas pela força da água, houve imóveis com danos irreversíveis, com estrutura comprometida conforme análise da Defesa Civil. Entre as quais está a residência de Rosani Teresinha de Borba, 54. Moradora da rua Barão Santo Ângelo por mais de 20 anos, jamais havia presenciado uma inundação tão violenta. O teto desabou, a fiação elétrica ficou destruída, a garagem cedeu, assim como o piso.

Rosani foi contemplada pelo programa de aluguel social. Conseguiu um imóvel nas proximidades da antiga casa. “Não há como voltar. Agora é destruir o que sobrou e tentar vender o terreno.”

Muitas famílias nas cidades ao longo do Rio Taquari enfrentam situações semelhantes. Muçum, Encantado, Roca Sales, Arroio do Meio, Colinas, Estrela, Cruzeiro do Sul, Lajeado, Bom Retiro do Sul e Venâncio Aires, ainda tentam reconstruir as moradias fora de áreas inundáveis.

Desta listagem, houve cidades com danos mais significativos, como é o caso da parte alta do Vale (confira o relatório ao lado).

Conforme o estudo sobre impacto da enchente nos imóveis, o Gespla/UFRGS aponta que as construções atingidas representam 11,7% do número total em cinco municípios (Roca Sales, Muçum, Encantado, Arroio do Meio, Lajeado e Estrela). A água superou em seis metros algo perto dos 13% das edificações.

Processo de reconstrução

O programa Minha Casa Minha Vida, do governo federal, é a principal estratégia dos municípios para sanar o déficit habitacional. Há dois modelos em curso, pelo Faixa 1, destinado para famílias com renda mensal de até R$ 2,6 mil, e pelo Calamidade (a fundo perdido, em que os beneficiários não precisam pagar pelo imóvel).

A Caixa Econômica Federal avaliou mais de 40 áreas em dez cidades. Até agora, houve aval positivo para 21. Apenas Encantado, Lajeado e Venâncio Aires tiveram os projetos aprovados. No total, serão 592 casas populares. Os demais municípios estão com os pedidos em análise.

LAJEADO

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Moradias atingidas: 1.618 (Destas 141 com perda total, 118 condenadas e 459 com danos de grande porte).

Famílias sem lar: 272 famílias estão atendidas pelo aluguel social

Projetos de reconstrução: Pelo programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) Lajeado foi contemplado em dois projetos e irá receber recursos federais para construção de 300 residências destinadas.
Pelo Faixa 1 do MCMV, os imóveis serão em formato de loteamento, em residências (não prédios), localizados fora das cotas de inundação. São três terrenos no bairro Igrejinha e em dois terrenos no Santo Antônio.
Pelo Calamidade, são oito terrenos nos bairros Conventos (2 terrenos), Jardim do Cedro (1), Morro 25 (2) e Conservas (3).

ENCANTADO

Moradias atingidas: 2.146 (17,6% do total estimado). Foram 157 destruídas e 448 interditadas.

Famílias sem lar: ainda há 125 pessoas atendidas em cinco abrigos. E outras 135 famílias com aluguel social.

Projetos de reconstrução: Pelo governo federal, são 180 unidades habitacionais no programa Minha Casa, Minha Vida Calamidade. Destes, 80 apartamentos no Condomínio Residencial Vertical I e II, ao lado do Posto de Saúde do Bairro Navegantes, e 100 casas no Loteamento Faterco, onde será construído o Loteamento Residencial União.

MUÇUM

Moradias atingidas: 1.272 (35,5% do total). Destas, quase 200 foram destruídas. Ainda há 27 interditadas.

Famílias sem lar: Os abrigos foram desinstalados. Há cerca de 150 famílias com aluguel social

Projetos de reconstrução: Pelo programa habitacional do sistema de Defesa Civil, no loteamento Cidade Alta II e pelo MCMV (Calamidade e Faixa 1), em área do Bairro Batalhão, além de outros terrenos em processo de desapropriação. Total de 209 casas cadastradas. O município ainda estima um déficit de 141 residências.

ROCA SALES

Moradias atingidas: 1.436 (15,5% do total estimado). Com 330 sem condições de retorno (192 destruídas e 138 com estrutura comprometida)

Famílias sem lar: Ainda há seis famílias em um abrigo (total de 15 pessoas)

Projetos de reconstrução: Município negocia a compra de uma área com três hectares. Os terrenos serão necessários para cadastrar a construção em três linhas, pelo MCMV, habitação via Defesa Civil e pelo Fundo do Desenvolvimento Social (FDS). Total de 360 casas solicitadas ao governo federal.
No momento estão sendo instaladas 20 residências provisórias por meio do Estado com o Sinduscon.

COLINAS

Moradias atingidas: 177 (23% do total estimado)

Famílias sem lar: nenhuma

Projetos de reconstrução: Pelo MCMV Calamidade estão cadastradas 15 unidades (investimento de R$ 1 milhão). Outras sete pelo programa Moradia da Defesa Civil.

BOM RETIRO DO SUL

Moradias danificadas: 20 casas condenadas

Famílias sem lar: nenhuma

Projetos de reconstrução: Pelo Minha Casa Minha Vida Calamidade foram cadastradas 24 unidades. Município aguarda parecer da Caixa. Ficarão no Loteamento Pôr do Sol, em área pública

ESTRELA

Moradias atingidas: 2.786 (14% do total estimado). Deste total, foram 124 destruídas e outras 458 condenadas

Famílias sem lar: Os abrigos foram desativados. Há 153 famílias com aluguel social

Projetos de reconstrução: O município projeta a construção de 341 residências por meio do MCMV Calamidade. Também há encaminhamentos via Defesa Civil e pelo Fundo do Desenvolvimento Social

ARROIO DO MEIO

Moradias danificadas: 1,4 mil (388 foram condenadas)

Famílias sem lar: 24 famílias estão na escola Atalaia e na Associação de Moradores. Ambos espaços no bairro Navegantes.

Projetos de reconstrução: no bairro Novo Horizonte ocorre a construção de 28 moradias provisórias. O Estado confirmou 42 definitivas, pagas pelo Fundo de Reconstituição de Bens Lesados do Ministério Público. O município também pretende comprar terrenos para construção de 100 casas pelo MCMV Calamidade.

CRUZEIRO DO SUL

Moradias atingidas: 537 (5,3% do total estimado). Destas, 48 destruídas na área urbana e 25 no perímetro rural.

Famílias sem lar: 46 recebem aluguel social e 27 estão em trâmite para o benefício. Total de 73. Não há mais abrigos.

Projetos de reconstrução: O município comprou uma área no Bairro Célia para construção de 84 moradias. Também há projeto para 37 residências no Loteamento Vila Rosa. No geral, as 121 residências serão pelo MCMV Calamidade.

VENÂNCIO AIRES

Moradias danificadas: Total de 36. Destas, dez foram destruídas e 14 interditadas.

Famílias sem lar: Abrigos desativados. Há três famílias com aluguel social.

Projetos de reconstrução: O município criou uma central para ajudar famílias com pequenos reparos em 12 residências. Também há projeto para 30 moradias pelo MCMV Calamidade.

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