Os primeiros moradores chegaram antes da ERS-130 ser feita. Ainda era época do chão batido na BR-386 e das nuvens de poeira que levantavam ao passar dos automóveis. Os bairros Campestre e Santo André se formaram entre essas duas rodovias, a partir da década de 1960.
O nome da localidade surgiu com a instalação da chamada Sede Campestre, do Daer, feita para a confraternização dos funcionários. Hoje, a principal praça do bairro, entre as ruas João Goulart e Getúlio Vargas, carrega o nome de José Antônio dos Santos Costa.
Registros contam que Costa foi um dos primeiros moradores a se instalar no Campestre. Nascido em Cruzeiro do Sul, comprou terras no bairro e doou o terreno para a praça.
Conforme pesquisas do historiador José Alfredo Schierholt, ele foi um dos fundadores do Clube Recreativo Cultural Campestre e líder comunitário. Sua kombi teria sido o primeiro meio de transporte para levar as pessoas doentes até o hospital, no centro da cidade.
Já o bairro Santo André começou com o projeto da Companhia Riograndense de Habitação, nos anos 1970, o que rendeu o nome de Vila Cohab ao local. Muitos moradores das áreas ribeirinhas de Lajeado foram realocados para terrenos onde a enchente não chegava. O Santo André foi um deles.
A construção de casas populares no território do bairro foi uma saída na época. Anos mais tarde, com a instalação da Escola Santo André, o bairro foi nomeado por influência do educandário.
Décadas de memória
Era 5 de dezembro de 1970. Ilda Algayer, com seus 90 anos, lembra da data exata em que ela, o marido e os quatro filhos se mudaram para o bairro Santo André. De lá para cá, muita coisa mudou. Inclusive a casa, que foi ampliada com o passar dos anos.
“Eu nasci em Rio Pardo, assim como meu marido. Viemos morar em Conventos em 1967”, conta. Três anos depois, compraram uma casa na Cohab Santo André, de 30 metros quadrados. “Só tinha umas oito ou nove casas. Na frente da nossa, um trilho levava direto para a ERS-130”, lembra.
“Quando nos mudamos, meu marido disse para mim ‘Daqui eu só saio pro cemitério’. Ele faleceu tem mais de 20 anos e se tornou verdade. Eu continuo aqui, gosto da minha casa”, conta. Orgulhosa, Ilda mostra as reformas que fez com o passar do tempo. “Era tão pequeno no início que nosso filho dormia na sala, mas deu tudo certo no fim.”

Na foto, o marido de Ilda,
Germano Algayer, em 1973, quando recebia do prefeito, Alípio Hüffner, os
documentos da sua casa na
Cohab Santo André
Há 50 anos, os filhos menores iam para o Centro estudar e ela, trabalhar. O marido ajudava nas obras da BR-386 e, na ausência de uma creche, levava a filha mais nova junto, que ficava cheia de poeira.
Ilda seguia a pé para o serviço no Centro, próximo à Praça do Chafariz. “Eu saía aqui do Santo André bem cedo, atravessava a rodovia. O mais difícil era nos dias de geada, eu caminhava e o gelo quebrava embaixo dos pés”. Ilda trabalhou até os 62 anos de idade.
Bem-humorada, faz questão de fazer brincadeiras por entre as histórias que lembra. “Hoje, a casa ao lado é ocupada pela neta da minha primeira vizinha. Só sobrou eu”, brinca.

Bastiana (à esquerda) e Dorali compartilham muitas memórias dos 40 anos que moram no Santo André. As duas se
mudaram com as
famílias, na época
da Profilurb
A dona da melhor polenta
Para muitos, Bastiana de Souza, 83, é a dona da melhor polenta no bairro Santo André. Natural de Pouso Novo – naquele tempo, distrito de Lajeado -, ela trabalhava na roça, onde morava com o marido e os filhos. A família se mudou para o bairro nos anos 1980. Era a época da Profilurb, um novo projeto habitacional no Santo André.
Bastiana e o marido já tinham seis dos 11 filhos e construíram a casa no terreno que conseguiram pelo programa social. Ela também seguia a pé para o trabalho, no Centro. Trabalhei como safrista na Souza Cruz, no antigo bairro Piraí. Mas fiquei muitos anos no antigo Supermercado Dresch.”
Do bairro, na época, Bastiana lembra das plantações de abacaxi, das capoeiras e dos muitos eucaliptos. “A Escola Santo André era pequenininha, feita em madeira.”
De capela a escola
Uma antiga capela de madeira foi desmontada na comunidade de Vila Fão – hoje, em Marques de Souza. A estrutura foi reerguida em meio às poucas casas do bairro Santo André, na década de 1970.
A capela servia tanto para as questões religiosas quanto para as aulas das crianças da comunidade. Assim surgiu a escola. Junto da estrutura, também veio uma tábua, com o nome de Santo André, o que acabou por nomear o bairro.
Quem lembra disso é Dorali Tieze Bergmann, 69. Ela, assim como dona Bastiana, veio com o marido e os filhos do interior, em Marques de Souza. As dificuldades no campo atraíam muitos para as oportunidades da cidade. A família comprou um terreno na Profilurb.
Dorali trabalhava na antiga Coopave (onde hoje é a BRF) e ia a pé ao serviço. Agente de saúde há 27 anos, lembra que naquela época a saúde era sempre um desafio. “Eram madrugadas na fila, porque só existia atendimento no Centro”, lembra.
Dorali também recorda as rivalidades do futebol que movimentavam o Santo André. Existiam dois times, o São João e o Palmeirinhas. “De dia, uma equipe colocava as goleiras no campo e, à noite, o outro time ia lá e derrubava”, conta rindo.
O marido de Dorali foi presidente da comunidade do Santo André e, em 1996, foi feita a fusão dos dois times. Assim surgiu o União Santo André, que incorporou as cores verde e branco do Palmeirinhas e o vermelho do São João.
Quem viveu a infância no bairro Santo André foi o vereador Jones Barbosa, 41, o Vavá. Hoje presidente da Associação de Moradores do bairro Campestre, conta sobre o alto “Morro do Pudim”, de onde as crianças observavam o movimento na BR-386 “Quem tomou água do Santo André sempre volta”, ele brinca com o dito popular dos moradores.

A Escola Municipal Campestre nos anos 1990. Na foto, é possível ver a antiga folhagem com espinhos na cerca da escola
A escola do Campestre
O primeiro movimento para criar uma escola na chamada Vila Campestre começou antes mesmo da formação do bairro. O decreto de criação da Emef Campestre data de 1984, mas foi só em 1986 que o primeiro prédio da escola foi construído e as aulas iniciaram.
Foi nesse ano também que a professora Marlise Anderle da Silva, 61, se mudou para o bairro. “Comecei a lecionar na escola em 1987, quando tinha somente um único prédio.” A estrutura da Emef foi erguida no lugar de uma plantação de abacaxi.

Os professores Marlise e Jair lecionam na Emef Campestre há mais de 30 anos
“Era tudo sem calçamento naquele tempo, então os alunos tiravam os calçados antes de entrar na sala de aula, porque os pés sempre estavam cheios de barro. Era tudo muito diferente, nós, professores e alunos, limpávamos a escola, passávamos cera no chão”. Marlise é professora ainda hoje na instituição e também continua moradora do bairro.
Quem também tem história na Emef Campestre é o professor Jair Kreutz, 65. Ele começou a dar aulas na Campestre em 1992, quando havia pouco mais de cem alunos por ali. “Lembro de uma antiga folhagem que tinha na cerca da escola, era cheia de espinhos. Os pais viviam reclamando, mas nunca nenhum aluno se machucou e, também, os espinhos nunca deixaram ninguém invadir a escola”, brinca.