“Em todo lugar se busca produzir sentido, fazer o mundo significar, torná-lo visível. Contudo, não corremos o risco de nos faltar sentido; muito pelo contrário, estamos fartos de significado e isso está a matar-nos.” Jean Baudrillard
O filosofo Jean Baudrillard é considerado “o sumo sacerdote do pós-modernismo”. As ideias-chave dele incluem duas que são frequentemente usadas na discussão do pós-modernismo nas artes: “simulação” e “o hiper-real”. O hiper-real é algo “mais real que o real”: algo falso e artificial passa a ser mais definidor do real do que a própria realidade. Os exemplos incluem a alta costura (que é mais bonita do que a beleza), as notícias (“frases sonoras” que determinam os resultados das disputas políticas) e a Disneylândia ou Las Vegas que são imitações do mundo.
Uma “simulação” é uma cópia ou imitação que substitui a realidade. Mais uma vez, o discurso televisivo de um candidato político, algo inteiramente encenado para ser visto na TV, é um bom exemplo. Uma pessoa cínica pode dizer que muitas cerimonias (formatura, revelação do sexo bebê, festa 15 anos…) agora existem (para muitas pessoas) para que vídeos e fotos sejam feitos e postados nas redes sociais.
O filme cult “Matrix” se baseia na obra de Baudrillard, embora o filósofo não tenha gostado do filme. É com ele que refletiremos sobre as mudanças que o século XXI trouxe: O homem do século XXI é diferente daqueles dos séculos passados? Não, “A ilusão radical do mundo é um problema enfrentado por todas as grandes culturas e que é resolvido através da arte e simbolização. O que nós inventamos a fim de dar conta desse mal-estar é um real simulado, que doravante suplantará o real como a sua solução final, um universo virtual do qual tudo o que é perigoso e negativo foi expulso.”
Qual a diferença então? “Se a coesão da nossa sociedade era mantida outrora pelo imaginário de progresso, ela o é hoje pelo imaginário da catástrofe. (…) Estamos num universo em que existe cada vez mais informação e cada vez menos sentido. (…) Nós somos apenas episodicamente condutores de sentido, no essencial e em profundidade nós nos comportamos como massa, vivendo a maior parte do tempo num modo pânico ou aleatório, aquém ou além do sentido.”
Os iluministas acreditavam na disseminação do conhecimento, como forma de enaltecer a razão em detrimento do pensamento religioso, onde eles erraram? “Nunca teria havido ciências humanas nem psicanálise se tivesse sido milagrosamente possível reduzir o homem a comportamentos racionais. (…) Ninguém daria o menor apoio, nem teria a menor devoção por uma pessoa real.” Para onde o mundo caminha?
“Bem no centro das notícias, a história ameaça desaparecer (as fake news). No cerne do hi-fi, a música ameaça desaparecer (música eletrônica). No centro da experimentação, o objeto da ciência ameaça desaparecer (o homem substituído pela ideologia). No cerne da pornografia, a sexualidade ameaça desaparecer (o real pelo virtual). Onde deve terminar a perfeição estéreo? As fronteiras são constantemente empurradas para trás porque é a obsessão técnica que as redesenha.”
Mais informação não deveria fazer com que a humanidade tomasse melhores decisões? Essa é a ilusão que nos traz “O imperativo de produção de sentido que se traduz pelo imperativo incessantemente renovado de moralização da informação: melhor informar, melhor socializar, elevar o nível cultural das massas, etc. Bobagens: as massas resistem escandalosamente a esse imperativo da comunicação racional. O que se lhes dá é sentido e elas querem espetáculo. Nenhuma força pôde convertê-las à seriedade dos conteúdos, nem mesmo à seriedade do código. O que se lhes dá são mensagens, elas querem apenas signos, elas idolatram o jogo de signos e de estereótipos, idolatram todos os conteúdos desde que eles se transformem numa sequência espetacular.”