Adaptar a formação dos cidadãos ao cenário climático regional. O município de Blumenau, em Santa Catarina, aposta no envolvimento da comunidade a partir do ambiente escolar para aumentar o entendimento sobre as enchentes que são comuns no Vale do Itajaí. Para o Vale do Taquari, a ideia se apresenta como uma possibilidade de conscientizar a população com auxílio de crianças e adolescentes.
Tanto a administração municipal, quanto o governo estadual trabalham com programas voltadas ao público jovem, ambos com o nome “Defesa Civil na Escola”. Blumenau implantou o projeto em abril de 2013, com duas escolas como piloto. Dez anos depois, são 15 escolas participantes. Em paralelo, o “Agente Mirim” surgiu em 2014 e desde então atuou em 11 instituições e formou cerca de 300 estudantes.
A assistente social Luciana Correia desenvolveu os dois programas na cidade e atuou na coordenação até novembro deste ano. Ela trabalhou no atendimento aos atingidos pela inundação de 2008, no setor de habitação, e assim que foi para a Defesa Civil, em 2011, começou a escrever a proposta. “Pensava em um projeto que pudesse envolver os jovens como protagonistas, para que se envolvessem com as questões comunitárias e principalmente pudessem aprender e ensinar como se proteger dos desastres”, lembra.
Desde 2015, o Defesa Civil na Escola tem a cachorra Mayla como mascote. “Ela participa de cada último encontro nas escolas, reforçando o aprendizado e tornando o espaço educativo mais humanizado e diferente. Foi uma sacada incrível, muito inteligente no sentido de termos que ser sempre criativos para trabalhar com os jovens”, relata.
A formação pelo Agente Mirim ocorre em escolas localizadas em regiões mais vulneráveis, com o objetivo de tornar os jovens multiplicadores dos ensinamentos nas comunidades. “Eles contribuem para o processo de resiliência do município. Todos precisam saber o que fazer antes, durante e após um desastre”, acrescenta Luciana. E ela usa uma frase atribuída a Ayrton Senna para justificar a atuação: “Se a gente quiser modificar alguma coisa, é pelas crianças que devemos começar.”
A coordenação hoje está sob responsabilidade de Danyara Marchetti, que atuou pela primeira vez em condições de inundação na equipe da Defesa Civil. A região de Blumenau passou por seis eventos do tipo ao longo do ano. “As crianças conseguem levar esse conhecimento para casa e nos trazem essa experiência das situações de enfrentamento, para um momento de troca”, conta.
Aplicação local
Na avaliação de Júlio Salecker, vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica Taquari-Antas, antes de explicar como funciona a atuação da Defesa Civil em eventos climáticos extremos, seria importante formar uma base de entendimento sobre a dinâmica dos rios. “Um programa que crie uma cultura no sentido de espacialidade, de forma pedagógica. Explicar o que significam as quantidades de chuva e os divisores de águas na bacia”, argumenta.
Ele diz que seriam quase aulas de geografia, voltadas ao estudo da movimentação das águas após grandes volumes de chuvas. “Faria maquetes, até mesmo digitais, para facilitar a compreensão do efeito da chuva, entender que se chover tantos milímetros em tal lugar pode influenciar onde moro”, acrescenta. A partir disso, ele avançaria aos detalhes sobre planos de alerta e evacuação.
Desafio para as escolas
Uma das instituições de ensino mais afetadas pelas inundações de setembro e novembro foi a Escola Estadual de Ensino Fundamental (EEEF) Moinhos, em Estrela. O bairro que dá nome à escola também tem recorrentes problemas com as cheias, e o assunto motivou um projeto que participou da mostra científica regional neste ano.
Por outro lado, não existe um trabalho institucional no sentido de prevenção, mas a diretora Beatris Reckziegel afirma que a inclusão do assunto na proposta pedagógica para 2024 é uma possibilidade real. “Existe uma lógica bem clara, de se organizar para conviver com isso e pensar em como orientar as pessoas a se prevenirem nas enchentes para preservarem suas vidas.”
DETALHES DOS PROGRAMAS
Defesa Civil na Escola contempla 15 escolas das redes municipal, estadual e particular, com alunos dos 4º e 5º anos do Ensino Fundamental como público-alvo. Cada instituição participa de três encontros com a equipe da Defesa Civil, com temas como noções básicas de Defesa Civil, percepção de risco e desastres e atividades de avaliação e de interação dos estudantes com a mascote.
Agente Mirim seleciona três instituições para encontros quinzenais com equipes da Defesa Civil e órgãos parceiros. Os temas são multidisciplinares: aula de Geologia com o técnico da Defesa Civil e visita à área de risco no entorno da escola, aula de meteorologia com AlertaBlu, primeiros socorros com o Corpo de Bombeiros Militar, participação em planos de evacuação escolar, entre outros.