Como é partir sem perspectiva de retorno? Como viajar sem saber, ao certo, para onde vamos? Como é ver o pai, ou a mãe ou os irmãos partir(em)? Voltarão? A vida ao quase alcance será, de fato, a terra prometida?
De acordo com a Organização Internacional para as Migrações (IOM), de 2015 a 2020, o número de imigrantes aumentou mais de 1% na América Latina, o que vem a representar 2,6% de toda a população da região. No movimento migratório também estão os refugiados, pessoas que precisam sair de seus países devido a perseguição política, racial, violação dos direitos humanos, etc. Infelizmente, a chegada de estrangeiros em determinados países tem provocado manifestações contrárias às (i)migrações por parte de grupos que consideram que pessoas de fora possam estar usurpando empregos e/ou dilapidando a economia do país que os recebe. Com isso, os migrantes frequentemente sofrem com discriminação social e são vítimas de abusos de ordem trabalhistas ou mesmo de situações análogas à escravidão.
No Brasil, tanto os refugiados quanto os migrantes têm acesso à educação, saúde e trabalho, desde que busquem a devida documentação. Mas, independentemente da situação, são sujeitos que deixam o espaço onde nasceram e se deslocam ao desconhecido. Este, dificilmente, é um caminho fácil.
Seja uma mudança no próprio país ou para outro, do real ao mágico, a literatura infantil e juvenil tem revelado o drama do desterro observado pelo olhar da infância. Migrantes, publicado em 2021, de Issa Watanabe (Peru) é uma obra que se compõe unicamente de ilustrações feitas pela própria autora que estudou literatura e Belas Artes em universidades estrangeiras. A artista morou por anos em Mallorca, Espanha, onde conviveu com muitos migrantes fugindo da miséria e de conflitos armados.
Já na capa, vemos um grupo de animais atravessando a escuridão e silêncio absolutos, seguidos de perto pela morte. Ao passar as páginas, a fome e a morte sem eufemismos vão subtraindo personagens. O grupo aumenta e diminui, dorme, acorda, caminha sem jamais saber exatamente o que está à frente. Segundo a autora, a escolha por animais tem por objetivo a não determinação de raça ou lugar, dada a universalidade da situação.
Nesse sentido, o livro enaltece a mescla cultural e a união de um grupo que tem em comum apenas o fato de pertencer ao reino animal. Coelho e leão, garça e urso, sapos e girafa, hipopótamo e galo convivem e se dão as mãos. São todos iguais, na medida que sobrevivem juntos, com os olhos arregalados de medo e expectativa. Sem dar respostas, o final da narrativa acena com a esperança de árvores que se abrem em flores.
No Brasil, tanto os refugiados quanto os migrantes têm acesso à educação, saúde e trabalho, desde que busquem a devida