“Feliz, feliz Natal, o que faz que nos lembremos das ilusões de nossa infância, recorda ao avô as alegrias de sua juventude, e transporta o viajante a sua chaminé e a seu doce lar!” Charles Dickens.
O escritor Franz Kafka morreu um mês antes de completar 41 anos e mesmo com uma existência tão curta, ceifada que foi pela tuberculose, legou uma obra que o imortalizou.
Seu trabalho funde elementos de realidade e de fantástico. Normalmente apresenta protagonistas isolados enfrentando situações bizarras ou surrealistas e situações sociais incompreensíveis frente aos poderes da burocracia. Seu trabalho é tão conhecido (e reconhecido) que nos dias atuais ficou consagrado o termo “kafkiano” para descrever situações absurdas e inacreditáveis, inclusive muitos fatos recentes em nosso país.
Mas não é esse o motivo de ter invocado a presença de Kafka. O objetivo é contar uma história real que aconteceu no último ano de vida do escritor, em Berlim. Enquanto caminhava pelo Parque Steglitz, como costumava fazer todos os dias, ele encontrou uma menina chorando de desespero: ela havia perdido sua boneca.
Kafka ficou muito impressionado com a forma como a menina estava desesperada e com a intensidade de sua dor. Apesar da intensa procura a boneca não foi achada, mas ele inventou uma forma única de consolar a criança: escreveu uma carta escondido e disse à menina que era da sua amada boneca Brígida que tinha ido viajar, mas por sorte, ele era o carteiro da boneca.
“Por favor, não chore, fiz uma viagem para conhecer o mundo, vou te escrever e contar sobre minhas aventuras”, dizia a carta. Em seguida, durante vários dias Kafka seguiu narrando aventuras imaginárias, viagens e fantasia. Elsi, a menina, lendo aquelas palavras sugestivas que a mandavam a lugares distantes, imediatamente se sentia consolada.
Por fim, o escritor deu a ela uma nova boneca, obviamente diferente da perdida. Mas sua aparência diferente era justificada por uma nota: “Minhas viagens me mudaram”.
Alguns anos depois, a menina encontrou um bilhete bem dentro de sua boneca que dizia: “Tudo aquilo que você amar, eventualmente você pode perder, mas ao final o amor retorna, só que de uma forma diferente”.
Essa história é verdadeira e foi contada pela companheira de Kafka, Dora Diamant, e mais tarde se tornou o famoso livro “Kafka e a boneca viajante” escrito por Jordi Sierra i Fabra. O livro no fundo contém uma ponte entre o mundo dos adultos e o dos crianças, e lembrem por gentileza, que essa ponte se abre a cada Natal.