A noite de Natal sempre foi uma festa que ficou particularmente marcada na minha memória. Era esperada por nossa família com ansiedade. Alguns dias antes o pai nos convidava a sair com ele em busca de um pinheirinho. Andávamos pelo interior do município até chegarmos à casa de algum agricultor amigo dele que plantava essa árvore. Ele escolhia a que lhe parecia mais bonita, no tamanho que entendia adequado, geralmente alta, e a árvore era cortada a machado, na hora. Voltávamos com ela amarrada no porta-malas do carro.
Chegando à casa era arrastada até a sala de estar, que era alta, e colocada dentro de uma lata de querosene vazia (produto que vendíamos na loja do pai que tinha um jacaré pintado nas laterais). Algumas pedras eram colocadas com areia dentro para firmar o tronco.
Depois começávamos a montá-la. Então apareciam caixas e caixas com bolas de todas as cores; figuras de anjos; passarinhos com rabo de pena; velas de vidro cheias de um líquido colorido que fervia quando ligadas; sinos pequeninos; pisca-piscas; enfeites prateados e dourados; pedaços de algodão para imitar neve, e tudo era cuidadosamente pendurado nos galhos. Para finalizar, o pai subia numa escada e dizia: “agora vamos colocar a ponteira”, um último enfeite que era fixado na ponta do pinheiro.
O pai havia mandado fazer um estrado de madeira, na forma de uma fatia de bolo, sobre o qual era montado o presépio. Com um papel pardo, que amassava, criava uma gruta. Esse estrado só tinha essa finalidade, e depois ficava atravancando a garagem o resto do ano. Sobre o palco ele colocava algumas folhagens, galhos, pequenas pedras que recolhia no jardim, para formar uma espécie de mata. Um pedaço de espelho imitava água de um lago. No interior da “gruta” ele colocava as figuras de São José, da Virgem Maria, do Menino Jesus, dos Reis Magos, dos anjos, e fora dela as vaquinhas, as ovelhinhas, os camelos e demais bichos.
À noite, quando ele ligava aquela iluminação toda, era uma festa. E eu ficava ali, sentado no chão ou deitado no sofá, olhando maravilhado o piscar das luzinhas coloridas, dando asas à imaginação. Até hoje, na minha velhice, lembro desse cenário.
Depois da janta, enquanto esperávamos para ver se o Papai Noel viria trazendo presentes, ouvíamos músicas de Natal, com destaque para o Jingle Bells. E ele sempre vinha, sempre. Nunca deixou de vir. Com cara de cansado, apoiado numa bengala, encurvado pelo peso daquele saco branco pendurado às costas. Sentava no sofá e começava a chamar os nossos nomes, e nos entregava presentes que pegava ao pé da árvore. Às vezes nos repreendia e fazia recomendações sobre o nosso comportamento. Sabia tudo o que fazíamos aquele velhinho. Eu ficava impressionado.
Muitos criticam a entrega de presentes nessa data. Discordo. Diz a lenda que quem iniciou essa tradição de entrega de presentes no Natal foi São Nicolau, um dos santos mais populares da igreja cristã. Nos séculos III e IV ele já distribuía presentes às crianças. É delas o padroeiro. Vestia-se de vermelho. Até os Reis Magos trouxeram presentes ao menino Jesus.
O Natal é luz, é amor, é paz, é alegria. Como disse uma vez Marian Harland: “Não deixe nunca que as crianças fiquem sem Natal. É o selo brilhante fechando um ano de felicidade. Deixe-as acreditarem em Papai Noel, em Santa Claus, São Nicolau, ou qualquer outro nome que o rechonchudo personagem tenha na sua religião”.
As crianças nunca mais esquecerão aquela árvore, aquelas luzinhas, aquele velhinho barbudo, os presentes, e o significado dessa noite maravilhosa. Paz.