“O Brasil é, sempre foi, uma empresa unifamiliar.” Millôr Fernandes
Anos atrás Elio Gaspari atualizou uma metáfora sobre o Brasil. Até então o país se enxergava com os olhos de Gilberto Freyre, típica do século XIX, como uma casa-grande com senzala. Mas o Brasil cresceu, se urbanizou e industrializou e precisávamos de uma nova visão que nos resumisse de maneira fácil de entender e ao mesmo tempo nos atualizasse com o século XX.
Gaspari foi genial e criou essa nova visão: haveria a turma do andar de cima acostumada com a riqueza, a opulência, o poder e a impunidade. E que mais do que nunca mostrou toda sua força.
E haveria também a turma do andar de baixo, o povo, para quem sobraria a conta da farra e os horrores dos serviços públicos brasileiros. A imagem pegou e hoje é usada indistintamente por esquerda e direita conforme suas conveniências.
Digo isso para falar dos serviços públicos exercidos por companhias estatais ou delegados a iniciativa privada no nosso Vale do Taquari. Para historiar é preciso que se diga que havia no final dos anos 90 havia uma crença de que para resolver o problema dos (péssimos) serviços públicos no Brasil bastava chamar a iniciativa privada.
E assim foi feito na época com telecomunicações e estradas. O serviço de fornecimento de água e esgoto, ao menos no Rio Grande do Sul, permaneceu estatal.
Vejamos o que aconteceu 30 anos depois: nas telecomunicações o serviço expandiu e se tornou universal, as empresas competem e o preço baixou. Longe de estar ótimo, mas acabou o tempo de que possuir uma linha telefônica era sinal de riqueza.
A CORSAN permaneceu estatal e dá conta razoavelmente da questão de fornecimento de água tratada, mas é vergonhosa na questão da universalização do serviço de esgotos.
As rodovias, em especial na nossa região, foram privatizadas e no início tínhamos a mesma malha viária, com alguns serviços extras e ao menos com estradas transitáveis. Os mais novos não conheceram o inferno dos buracos em toda região. Porém, mais tarde durante o governo Tarso, o pessoal com viés estatizante criou esse monstrengo chamado EGR ao qual a região esperneia, grita e no final paga caro para receber pouco ou quase nada.
Por isso a CCR-Via Sul foi tão saudada quando chegou a região, pois parecia um ótimo exemplo de empresa privada que funcionava. E justamente por isso é tão grande a desilusão da nossa população com a duplicação do trecho Lajeado-Marques de Souza. Ele é executado de forma lenta, autoritária e extremamente perigosa para quem necessita transitar no trecho.
Por isso o pessoal que protestou (mais uma vez) durante a última semana, tem toda razão. Merecemos mais e melhores serviços dessas empresas, independente de a quem elas pertençam. Os pagadores de impostos (ou o andar de baixo) merecem no mínimo respeito!