A história se repete

Opinião

Carlos Schäffer

Carlos Schäffer

Advogado

A história se repete

Para quem ainda consegue tomar conhecimento das notícias do que ocorre no Brasil nos últimos tempos sem sentir repugnância, deve lembrar do que aconteceu no dia 8 de janeiro deste ano em Brasília, com a prisão de mais de mil pessoas, e nas condenações à longas penas (17 anos de reclusão), decorrentes de um estranho processo, no qual não é possibilitada uma defesa técnica completa, plena e absoluta, como reclama fortemente a OAB. Processo aberto e em andamento num tribunal que, por ser especialíssimo, não admite recurso à uma instância superior, porque é o primeiro, o último, o único. Todos os presos são tratados de forma igual como se fossem terroristas, golpistas, fascistas e outros adjetivos similares, independentemente de serem eventualmente culpados ou não, e as condenações tornam-se, pois, definitivas e irrecorríveis.

Para quem conhece um pouco de história, no decorrer do tempo coisas parecidas já aconteceram, o que comprova que a humanidade não aprendeu nada sobre o que possa ser considerado justiça, e como ela pode ser envolvida indevidamente pela política.

Lá pelos anos de 1936 a 38, na Rússia sob Stalin, julgamentos públicos eram realizados também em massa, com cobertura da imprensa, comentários de “especialistas”, envolvimento de partidos políticos, de movimentos sociais, tudo na busca de culpados e de pretensos financiadores. Era um espetáculo que tinha o objetivo de intimidar e eliminar inimigos políticos, e criar a ideia do que tudo estava sendo feito de forma correta e boa, em defesa da sociedade.

Lá, os acusados ficavam presos por muito tempo sem julgamento. Eram considerados e tidos como perigosos. Eram torturados, se não fisicamente, psicologicamente. Os registros documentais descrevem situações em que os detidos recebiam alimentos estragados, eram presos a correntes, ameaçados permanentemente. De tanto sofrer, separados de seus familiares, acabavam delatando companheiros, que mesmo sem nunca terem cometido nenhum crime e sem qualquer prova formal, acabavam também eles sendo processados e presos. E assim, o número de acusados crescia, tudo em busca de uma “limpeza geral”, com base apenas em narrativas.

A verdade não interessava. Nem a ideia do que pudesse ser considerado como se fosse justiça Todos eram considerados membros de organizações criminosas, traidores da pátria. E a coisa atingiu tal ponto que Stalin, o todo-poderoso líder chegou a dizer, publicamente, que: “a palavra de um criminoso acusado não vale nada”. Diante dessa afirmação feita publicamente pelo ditador, o “acusado” já era considerado previamente um “criminoso”, se criminoso, “culpado”, e se criminoso e culpado, já estava antecipadamente “condenado”. Era uma ordem.

Hoje, no Brasil, a denominação dos réus ficou parecida. Todos os acusados foram considerados terroristas, golpistas, fascistas, e/ou adjetivos similares.

O objetivo me parece claro e evidente. A total eliminação dos opositores. A coisa não está boa, não anda na direção de um bom caminho. E pelo andar da carroça, vai piorar. É urgente que aqueles que podem corrigir o rumo o façam imediatamente, porque caso não reajam, nosso futuro e o dos nossos filhos e netos poderá ser tenebroso. Quando não conhecermos a História, ela sempre se repete.

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