“Barbearia não te enriquece, mas também não te quebra. É uma profissão que dá amigos e conhecimento. Uma vez se cortava o cabelo a cada 60 dias, hoje é toda a semana”. A observação é de Jairo Pasetti, 77, que ao lado do irmão Jair, 73, escrevem a história da Barbearia Pasetti, tradicional estabelecimento da cidade, há 61 anos. “Futebol, festas e política são os assuntos que dominam nossas conversas”, revela Jairo, casado há 52 anos, pai de dois filhos e avô de quatro netos.
Eles nasceram na Linha Pedro Álvares Cabral, interior de Anta Gorda, e saíram de casa cedo. Jairo aprendeu a profissão com um tio, proprietário de um salão no município de Espumoso. Com 16 anos, mudou-se para Encantado e contou com a ajuda do pai, que vendeu uma junta de bois, para comprar a primeira barbearia, em março de 1962. A sala alugada ficava na Rua Padre Anchieta (hoje, próximo ao Posto Ipiranga). “Até que foi fácil pegar o jeito pela profissão. Naquela época, não existia a BR 386. Todo mundo passava por aqui. Muitos clientes eram caminhoneiros cansados, que não eram muito exigentes”, conta Jairo, que mais tarde se mudou para outro espaço próximo até se fixar no atual endereço, em 2 de janeiro de 1978, já em prédio próprio, na área central da cidade. “Trabalho 12 horas na barbearia e ainda cuido da roça, porque não posso perder as raízes”, afirma Jairo.
Depois de uma experiência como funcionário de hotel em Soledade, Jair decidiu morar com o irmão em Encantado. O primeiro emprego foi numa churrascaria. Com o aumento do movimento na barbearia, aprendeu a cortar cabelo e barba, ao mesmo tempo em que cursava técnico em contabilidade. “Também aproveitava as horas de folga para limpar os ônibus da linha Porto Alegre do Expresso Azul para ganhar uns troquinhos e gastar no cinema de fim de semana”, lembra Jair, que tentou seguir a profissão de contador, mas desistiu após a negativa de conhecidos para montar um escritório em sociedade. Casado, ele é pai de três filhos e avô de dois netos.
A dupla segue inseparável. Há oito anos, Ricardo, filho do Jairo, passou a auxiliar no atendimento. “Temos clientes de quatro gerações. Tornaram-se nossos amigos, pessoas solidárias nas horas boas e ruins”, orgulha-se Jairo, que admira o irmão como um dos melhores profissionais da cidade, assim como o colega de profissão, Clair Ghisleni, da Barbearia Ghisleni.
Simplicidade, carisma e respeito com a vontade do cliente são características marcantes dos Pasetti. “Hoje vivemos a fase dos melhores cortes de cabelo. Todos os dias vem alguém com o celular e pede um corte diferente. Dá trabalho, mas é gratificante, porque a pessoa se olha no espelho e se acha bonita”, revela Jairo, que ainda lembra o dia em que uma pessoa entrou na barbearia e se surpreendeu: ‘todos fechados, e vocês atendendo?’. “Somos profissionais. Mesmo ele escolhendo por último o nosso serviço, o atendemos como se não tivesse falado nada”, brinca.
