A Univates se torna a capital nacional dos professores por três dias. Começou ontem e vai até sexta-feira, o 9° Encontro Nacional das Licenciaturas (Enalic). O evento reúne professores e universitários de todos os estados para aprender novas técnicas, conhecer projetos inovadores e debater o futuro da profissão e dos cursos de formação.
Além disso, a programação também resulta em um documento oficial, que será levado ao Ministério da Educação, com sugestões de políticas públicas, investimentos e estruturação de cursos voltados a novas práticas acadêmicas.
São mais de 8 mil inscritos. A programação variada trata de temáticas como democracia e direitos humanos na formação docente, impacto das tecnologias na práxis dos professores, construção de círculos de paz nas escolas e programas de bolsas voltados para manter os estudantes em áreas do conhecimento voltadas à licenciatura.
Neste sentido, a coordenadora do Enalic, Cristiane Hauschild Johann, realça a participação inédita do Ministério da Educação (MEC) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) na programação.
“Esta participação é significativa pois representa a aproximação do poder público das universidades e dos estudantes”. Esse movimento tem ainda mais relevância pois trata do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid).
Tanto que essa temática foi motivo de reunião geral na tarde de ontem. A informação é que o governo federal invista mais de R$ 1,2 bilhão em 2024 para custear em torno de 100 mil bolsas voltadas para futuros professores.
Desafio de atrair os jovens
O Censo da Educação Superior, feito pelo MEC, mostra que existe um apagão de professores. Divulgado em outubro, com dados até 2022, indica que 50% dos universitários que ingressam em licenciaturas (formação voltada às áreas para lecionar) desistem do curso.
A vice-presidente do Fórum de Coordenadores do Pibid, Jaqueline Rabelo, ressalta dois movimentos importantes para tentar reduzir esses indicadores. Começa com a formação de políticas públicas para valorizar a carreira de professor.
“Os mais jovens precisam ver as inúmeras oportunidades da profissão. Muitas vezes ficamos naquele discurso de que ganha pouco, que as condições são precárias, sem deixar claro o quanto se pode alcançar como professor.”
Outro aspecto é direcionado aos ingressantes nos cursos superiores. Criar formas de evitar as desistências. Neste sentido, o programa de iniciação é uma ação fundamental, considera. “Logo no primeiro semestre o aluno pode atuar em uma escola. Ele vai ter dois coordenadores que farão uma mentoria. Vão conviver na prática com alunos e conhecer os desafios da profissão e ainda ganha uma ajuda financeira.”
Impacto da tecnologia
O uso das tecnologias, em especial da Inteligência Artificial (IA), está entre os assuntos do momento. “Temos de pensar que é mais uma ferramenta. Assim como foi a internet há duas décadas ou a televisão há 50 anos. O uso que damos para ela é que precisa ser consciente e assertivo”, afirma Jaqueline.
Natural de Fortaleza, docente da Universidade Estadual do Ceará (UECE), ela admite que é um momento de adaptação. “Todas as profissões precisam se atualizar. E os professores são sempre provocados para se prepararem melhor.”
Justo por esse momento de repensar a prática, também recai às formações uma necessária reestruturação. De certeza, afirma: “por mais que a informação esteja disponível, que as tecnologias possam facilitar o dia a dia, nenhuma delas substitui o papel dos professores e das professoras.”
Carta de Lajeado
A Univates foi escolhida para sediar o evento, considerado o maior do país sobre formação de professores, pelo conselho de professores universitários integrantes do programa de iniciação científica.
No encerramento, marcado para sexta-feira, a organização do encontro elabora um relatório dos principais apontamentos feitos por especialistas, painelistas e participantes. A ideia, diz a coordenadora do Enalic, Cristiane Johann, é fazer com que a “Carta de Lajeado” proponha iniciativas governamentais para reconstruir a política educacional do país.
“Queremos ir além da discussão. É fazer com que essas sugestões cheguem ao governo federal e possam ser consideradas para melhorarmos a qualidade do ensino e da formação de professores.”
Encontro das Licenciaturas em números
– Total de pessoas cadastradas: 8,6 mil
– Mais de 1,7 mil inscritos para o presencial
Participantes por região
– Norte: 925
– Nordeste: 2.539
– Centro-oeste: 481
– Sudeste: 1.380
– Sul: 1.795
Trabalhos submetidos
– Pesquisas: 2.755
– Comunicação Científica: 755
– Relatos de experiência: 2 mil