Quando o senhor veio a Lajeado?
Meus pais se mudaram para Lajeado em 1962 e eu vim junto, tinha 17 anos. Abriram um armazém na Avenida Alberto Pasqualini, no antigo bairro Piraí, hoje, São Cristóvão. Perguntei ao meu pai se poderia ocupar uma salinha junto ao armazém e abrir uma barbearia ali, eu ainda era menor de idade, mas ele aceitou. Fiquei alguns anos ali, até que mudei o negócio para onde estou hoje, já fazem 54 anos.
Por que decidiu abrir o negócio?
Eu sempre cortei cabelo, desde pequeno. Quando mais jovem, trabalhava numa fábrica e, no tempo livre, os colegas me chamavam para cortar o cabelo, foi natural. Abri a minha barbearia no dia 1º de dezembro de 1963. Não tinha nenhum barbeiro aqui no bairro. Lembro ainda daquele primeiro dia. O primeiro cliente que atendi cortou o cabelo comigo até morrer.
Em algum momento, pensou em fazer outra coisa na vida?
Nunca. Aos 18 anos, fui para o exército. No quartel, fui barbeiro também, era trabalho que não terminava mais. Quando tinha folga, vinha para Lajeado e atendia por aqui. Lembro da vez que um primo de Ibirubá veio me visitar. Avisei que, quando chegasse a Lajeado, bastava perguntar a qualquer um da cidade onde era a “barbearia do Joãozinho”. Todo mundo me conhecia.
Acompanhou muitas gerações ao longo do tempo?
Com certeza. Tem uma família que corta o cabelo comigo há quatro gerações. Comecei com o bisavô, quando ele se mudou de Arroio do Meio para Lajeado. Hoje, atendo o bisneto dele.
Você também ajudou a fundar a Associação de Cabeleireiros de Lajeado. Conte sobre isso.
Na época, era chamada de Acitul, fundamos a associação em 1982 para unir a classe. Fui eleito presidente em 1987. Naquele tempo, organizamos bailes e até campeonatos de cabeleireiros. Reunimos mais de 2 mil profissionais nos pavilhões do Parque do Imigrante. Os cabeleireiros faziam os cortes ao vivo e os jurados davam as notas. Sempre vi a concorrência com bons olhos, ensinei muitos cabeleireiros em Lajeado.
Como é ter o neto trabalhando ao seu lado?
Isso me rejuvenesceu. Acho que está no DNA da família. Minha esposa abriu um salão nos anos 1980, minha filha tem alvará de cabeleireira, meu filho trabalhou dez anos comigo. Hoje, é meu neto. Chegou um momento em que pensei em encaminhar a aposentadoria, mas então o Cássio mostrou interesse e tudo mudou. Trabalhamos juntos já faz 8 anos.
Depois de 60 anos, qual a motivação para continuar?
Eu não saberia ficar em casa, eu acho. Todos os dias venho para a barbearia pela manhã, faço um café e abro a loja às 7h30. Fico uma média de 10 horas por dia aqui, eu gosto do que faço. Só vou parar de trabalhar quando não conseguir mais.