Mais de 3,3 mil pessoas moram  em áreas de risco

política e cidadania

Mais de 3,3 mil pessoas moram em áreas de risco

No Vale, são quase 900 imóveis construídos em pontos com chance de deslizamentos, erosão e quedas de rochas, conforme relatório do Serviço Geológico do Brasil

Mais de 3,3 mil pessoas moram  em áreas de risco
A quantidade de terra que desceu após as chuvas surpreendeu Margarete Pires da Costa. O movimento de massa quase atingiu a casa onde mora

A chuva acima da média histórica traz mais do que enchentes. Também significa mudanças na compactação do solo. Nesta semana, as cenas de Gramado, de uma rachadura no bairro Três Pinheiros, chamou a atenção do Rio Grande do Sul sobre os riscos geológicos.

No Vale do Taquari, há locais com fenômenos semelhantes. Em Colinas, na metade deste ano, o Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM) foi chamado para analisar as rachaduras na Linha Ano Bom.

“O que foi visto em Gramado é da mesma natureza que acontece no Vale do Taquari”, afirma o gerente de Hidrologia e Gestão Territorial do SGB/CPRM, Franco Turco Buffon. De modo resumido, os movimentos de massa são efeitos de quando o solo é raso sobre as rochas, com grandes declives. A partir do acúmulo de água, há um desprendimento dessa camada, o que provoca deslizamentos, desmoronamentos, erosão e outros fenômenos naturais.

“Entendemos como risco geológico tudo que envolve o movimento de massa, também enxurradas e inundações”, explica. O serviço tem mapeados nove municípios (com inclusão de Venâncio Aires). Essas análises foram feitas entre 2013 a 2023 e adota como critério locais habitados. Desconsidera pontos da zona rural sem proximidade com propriedades, ou mesmo encostas de rodovias.

“O Vale do Taquari tem condições propícias para movimentos de massa. Tanto que temos episódios cada vez mais frequentes”, alerta Buffon. As análises geológicas são diferentes do monitoramento de enchentes. Em vez dos alertas e previsões de nível de onde a água vai chegar, para movimentos da terra não há tanta previsibilidade.

Com isso, são estabelecidos graus de risco: alto ou muito alto. Das nove cidades avaliadas pelo SGB, apenas Taquari e Venâncio Aires não apresentaram alertas para deslizamentos em locais com moradores (confira o resumo dos relatórios ao lado). Muito pela característica, por serem terrenos planos, em áreas de várzea.

Pelo acompanhamento do serviço geológico, foram identificadas pelo menos 33 áreas na região com risco alto ou muito alto de episódios como deslizamentos, erosão, afundamentos e rachaduras. Nestes pontos, são mais de 900 imóveis, com uma população estimada de 3,3 mil.

Deslizamentos mais frequentes

Encantado, Muçum e Roca Sales estão entre as mais atingidas pelas enchentes. No movimento de massas, também há riscos elevados. Desde as últimas enxurradas, houve aumento nos registros de deslizamentos.

Nesta semana, houve acontecimentos deste tipo em Linha Azevedo, em Encantado. Cinco famílias precisaram ser retiradas. Margarete Pires da Costa, 42, reside na localidade faz mais de 15 anos com o marido e o filho. “Nunca vi tanta terra descer. Em poucos minutos já interditou o asfalto. Ficamos assustados porque poderia alcançar a casa”, relembra.

A Defesa Civil do município projeta para semana que vem a vinda de geólogos para fazer uma vistoria na área de risco e recomendar o que deve ser feito.

Em Muçum, o Serviço Geológico do Brasil contabiliza 149 imóveis em área de risco. Quase 600 pessoas moram nestes pontos.

Estalos até a chegada da terra

Matheus Laste

Em Roca Sales, desde a enchente da semana passada, a Defesa Civil verifica 70 pontos de deslizamentos. Os mais graves são entre a região de Santo André e Campinhos. Equipes do município fazem a remoção dos materiais para liberação das vias. Nas partes habitadas, foram interditadas sete moradias.

 

 

O motorista João Marcos Dalpupel, 39, reside na Linha Marechal Floriano há 20 anos e até então, ele, a esposa e os três filhos, nunca tinham visto qualquer deslizamento. “Minha esposa ouviu os estalos quando começou o desmoronamento e foi se abrigar em uma vizinha. A terra arrebentou uma parede e destruiu alguns móveis”, relata.

Em Estrela, áreas de margem do Rio Taquari apresentam erosão acelerada desde os episódios de setembro e agora de novembro. Tanto que o município precisou implantar restrições de tráfego. Em um dos pontos, na Rua dos Marinheiros, bairro Moinhos, houve desmoronamento do talude.

Em Arroio do Meio, um dos pontos críticos e que ameaçam residências fica na rua Waldemar Moesch, no bairro São José. Cinco residências foram interditadas em julho deste ano. O ponto é um dos analisados pelo SGB. As famílias moradoras deste local não voltaram desde então. Todas são atendidas pelo aluguel social do município.

Entenda mais sobre movimentos de massa

DESLIZAMENTOS:
Movimento de massa descendente em encostas. Diversos fatores podem desencadear: Infiltração de água no solo. Isso pode reduzir a coesão entre as partículas, tornando-o mais suscetível.

Declividade: Quanto mais íngreme, maior a probabilidade.

RACHADURAS:
Causas diversas, como: retração do solo. A perda de umidade pode se contrair e desenvolver rachaduras.
Expansão e contração. Há minerais presentes no solo que podem expandir quando úmidos e contrair quando secos, levando à formação de rachaduras.

AFUNDAMENTOS:
Os afundamentos do solo podem ocorrer devido a vários motivos, como: extração de água subterrânea: A remoção excessiva de água do subsolo pode levar ao colapso do solo, resultando em afundamentos.

SUBSIDÊNCIA:
Atividades humanas, como mineração, podem causar subsidência do solo à medida que as camadas subterrâneas são retiradas.

RASTEJOS:
O rastejo é um movimento lento e contínuo de solo em encostas. Isso pode ser causado por:
Umidade: A água presente no solo reduz a coesão dos materiais.
Inclinação: isso pode facilitar o rastejo, especialmente em solos argilosos.

Erosão após cheias

 

 

 

 

 

Áreas monitoradas

Relatórios feito pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM) entre 2013 a 2023. Tabuladas entre risco alto e muito alto para movimentos de massas. O critério adotado é de áreas habitadas, onde os efeitos podem atingir imóveis e moradores.

Muçum

Cinco áreas.
Principais riscos são de erosão, deslizamentos de terra, de rochas e afundamentos de solo

Rua Ângelo Afonso Zílio
Erosão
Atinge: 4 imóveis
Risco para 16 pessoas

Barra do Rio Branco
Erosão e deslizamentos em dois pontos
Atinge: 25 casas
Risco para 100 pessoas

Em área próxima
Deslizamentos
Atinge: 38 casas
Risco para 152 pessoas

Rua Henrique Dalcoro
Deslizamentos
Atinge: 66 casas
Risco para 264 pessoas

Loteamento Doutor Nilton Teixeira
Erosão e deslizamentos de massa
Atinge: 16 imóveis
Risco para 64 pessoas

Lajeado

As áreas ficam em três bairros. Riscos de erosão, solapamento, escorregamento do solo e deslizamentos.

Santo Antônio
Escorregamento do solo
Atinge: 20 residências
Risco para 80 pessoas

Morro 25
Erosão e solapamento nas margens
Atinge: 11 imóveis
Risco para 44 pessoas

Conservas
Escorregamento do sola
Atinge: 70 casas
Risco para 280 pessoas

Teutônia

Alto risco de deslizamentos, planar de solo.

São dois pontos na região de Linha Harmonia
Atinge: 7 residências
Risco para 28 pessoas

Estrela

Seis áreas com alertas. Maiores riscos são de erosão e restejo (afundamento)

Bairro São José/Rua Maria Schwartz
Restejo
Atinge: 15 imóveis
Risco para 60 pessoas

Boa União/ Rua João Lino Braun
Erosão fluvial
Atinge: 14 imóveis
Risco para 56 pessoas

Centro/Marechal Hermes
Erosão da margem
Atinge: 150 imóveis
Risco para 600 pessoas

Bairro Cristo Rei
Erosão
Atinge: 50 casas
Risco para 100 pessoas

Linha Figueira
Erosão
Atinge: 20 casas
Risco para 80 pessoas

Distrito de Costão
Erosão
Atinge: 8 imóveis
Risco para 32 pessoas

Colinas

Uma das localidades mais críticas da região. São seis pontos. Duas de risco muito elevado

Os mais críticos estão em Linha Ano Bom
Atinge: 146 imóveis
Tota de 584 pessoas

Arroio do Meio

Duas áreas com risco de erosão

Na rua Tiradentes, bairro Navegantes
Atinge: 78 moradias
Risco para 312 pessoas

Rual Waldemar Roesch
Atinge: 15 casas
Risco para 60 pessoas

Encantado

Quatro pontos. Riscos de deslizamento, queda de rochas e erosão

Bairro São José, rua David Ceregatti
Deslizamentos
Atinge: 7 imóveis
Alerta para 28 pessoas

Bairro Jacarezinho
Risco muito alto
Deslizamento e queda de rochas
Atinge: 16 imóveis
Alerta para 64 pessoas

Bairro Lajeadinho (dois locais)
Estrada da Santinha
Deslizamentos, queda de rochas
Atinge: 8 imóveis
Risco para 32 pessoas

Na mesma localidade, em área próxima
Erosão e deslizamentos
Atinge: 12 imóveis
Risco para 48 pessoas

Cruzeiro do Sul

Três pontos com riscos diversos. Erosão, afundamento de solo (solapamento), rachadura no chão (rastejo) e deslizamentos de terra e pedras.

Rua Rubens Feldens
Risco: Solapamento
Atinge: 7 imóveis
Risco para 28 pessoas

Vila Itália
Escorregamento de solo e de pedras
Atinge: 30 casas
Risco para 120 pessoas

No centro, próximo a Casa do Morro
Risco: Rastejo
Atinge: 20 casas
Alerta para 80 pessoas

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